A guerra na Ucrânia fez este domingo no 32.º dia de conflito armado com os avanços russos sobre o território ucraniano praticamente paralisados, mantendo-se o mapa do conflito igual ao de sábado. O dia foi marcado por uma entrevista dada por Volodymyr Zelensky a jornalistas russos que está a ser censurada na própria Rússia. O presidente ucraniano está disposto a declarar a neutralidade do país, mas recusa desmilitarização e insiste na integridade do território. E confirma o plano russo (revelado horas antes pelos serviços secretos ucranianos) de dividir a Ucrânia à semelhança das Coreias.
Aqui fica um ponto de situação para compreender o que aconteceu nas últimas horas. Pode também seguir os desenvolvimentos, minuto a minuto, no liveblog do Observador, que estão também a ser contados pelos enviados especiais do Observador à Ucrânia, Pedro Jorge Castro e João Porfírio.
- O Reino Unido tentou por água na fervura depois das declarações incendiárias de Joe Biden a pedir a substituição do presidente russo. O ministro britânico da Educação, Nadhim Zahawi, diz que compete ao povo russo decidir o destino de Putin “e dos seus comparsas”.
- O presidente francês foi mais incisivo, alertando para o efeito perverso que as palavras do presidente americano podem ter, avisando que tudo deve ser feito para evitar a escalada. “Se queremos fazer isso (alcançar um cessar-fogo e a retirada) não pode haver uma escalada nem de palavras nem de ações”, disse Emmanuel Macron.
- Já ao final de domingo, Joe Biden veio clarificar as suas palavras, esclarecendo que não chegou a pedir o afastamento do regime do presidente russo.
- Os serviços secretos ucranianos avisam que o plano da Rússia é dividir o país em dois, à maneira das Coreias. Segundo a denúncia de Kyrylo Budanov, chede das secretas, a linha divisória é o rio Dniepre, ficando a parte oriental (incluindo os territórios da Crimeia e as repúblicas separatistas pró-russas) sob o controlo russo e a parte ocidental onde está Lviv permaneceria independente.
- O número de refugiados que saíram da Ucrânia não para de subir. O último balanço fala em 3,8 milhões, mas o ritmo de saídas está a baixar. Já o número de mortos civis ultrapassa os mil e entre eles estarão quase 100 crianças, de acordo com as Nações Unidas.
- Um dos negociadores da Ucrânia anunciou nas redes sociais que as negociações diretas entre as duas partes vão ser retomadas a partir de segunda-feira na Turquia.
- O presidente ucraniano volta a aparecer num vídeo com um discurso inflamado em inglês que é exibido no concerto solidário que foi transmitido a partir da Polónia e visto em várias cidades europeias, incluindo Lisboa. Zelsensky acusa os poderosos de “silêncio” e de terem medo que a Rússia avance mais na Europa. Diz que a Ucrânia está a lutar pela liberdade cercada de inimigos de todo o lado. Volta a pedir material militar e a união de todos contra o homem em Moscovo que começou esta guerra.
- Salvador Sobral que venceu o único festival Eurovisão para Portugal, realizado em Kiev, entra no concerto a cantar em ucraniano.
- A entrevista foi feita no sábado, mas só este domingo é que as agências começaram a revelar os conteúdos de uma conversa de 90 minutos por vídeo-conferência entre Zelensky e vários jornalistas russos. O presidente ucraniano diz que está disposto a negociar o estatuto de neutralidade do país, mas recusa a desmilitarização e vai tentar manter o território integral e descreve o que está a acontecer em Mariupol, a cidade cercada há várias semanas. A entrevista chegou ao ocidente, mas os media russos foram avisados pelo regulador dos media locais que não podem difundir as declarações do presidente ucraniano.
- Os ataques russos não param durante a noite. Chegam relatos de uma grande explosão em Kiev e ataques a outras cidades.
Ao final da manhã de domingo estes eram os destaque das horas anteriores.
- A Rússia confirmou que atacou Lviv com mísseis de cruzeiro de alta precisão e especificou os alvos atingidos: um depósito de combustível nos arredores de Lviv e uma fábrica na cidade, na qual eram feitas reparações de sistemas anti-aéreos, estações de radar e miras para tanques;
- O presidente da câmara de Lviv classificou o ataque contra aquela cidade, que fica apenas a 70 quilómetros da fronteira com a Polónia, como uma forma de Moscovo “enviar cumprimentos” aos Estados Unidos, uma vez que Joe Biden se encontrava, naquela altura, na Polónia;
- Depois do duríssimo discurso que proferiu ontem em Varsóvia (marcado pelo desabafo “Por amor de Deus, este homem não pode continuar no poder”, dirigido a Putin), Biden tem sido criticado por ter, com as suas palavras, azedado ainda mais as relações entre Washington e Moscovo;
- O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, também já se pronunciou sobre o discurso polémico de Biden, assegurando que Washington não tem uma “estratégia para uma mudança de regime na Rússia”;
- O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, não acredita que Vladimir Putin pudesse ordenar um corte no fornecimento de petróleo e gás à Europa como retaliação pelas sanções impostas pelo Ocidente, uma vez que Moscovo “precisa de vender o seu petróleo e o seu gás”;
- Depois do ataque a Lviv, a Rússia continuou a atacar a região mais ocidental da Ucrânia, lançando um ataque contra Volyn, no noroeste do país, perto da fronteira com a Polónia;
- Também após o ataque a Lviv, num vídeo divulgado pela internet, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, voltou a deixar apelos ao Ocidente, questionando a coragem da NATO, dizendo que está “há 31 dias à espera” de aviões, tanques e sistemas anti-mísseis, e acrescentando que o Ocidente tem de “acelerar” a ajuda;
- A autoproclamada República Popular de Lugansk, uma das duas regiões separatistas no leste da Ucrânia cuja independência foi reconhecida por Moscovo antes do início da guerra na Ucrânia, poderá vir a organizar um referendo para se juntar à Federação Russa, disse o líder da região;
- Kiev acusou a Rússia de ter usado bombas de fósforo branco, uma arma química ilegal proibida pela Convenção de Armas Químicas de 1997, contra a cidade de Avdiivka, na região oriental da Ucrânia;
- A Ucrânia alegou que, em 31 dias de guerra, as forças russas já tinham destruído 4.500 edifícios residenciais, 100 edifícios comerciais, 400 estabelecimentos de ensino e 150 unidades de saúde;
- A Procuradoria-Geral ucraniana disse que já morreram 12 jornalistas desde o início da invasão russa. Dez jornalistas ficaram feridos e seis foram raptados pelas forças russas.