No final de maio do ano passado, há menos de um ano, morreu Max Mosley. Ou seja, morreu um antigo presidente da FIA e um dos homens mais importantes da história da Fórmula 1. Na altura, o primeiro parágrafo do artigo do Observador foi composto de forma muito simples: “A notícia da morte do britânico, aos 81 anos e vítima de um cancro, foi confirmada por Bernie Ecclestone, antigo presidente do Formula One Group e sócio de Mosley”. Mas ao que parece, afinal, a história não foi bem assim.

De acordo com o The Independent, uma investigação do Tribunal Forense de Westminster concluiu que Max Mosley tirou a própria vida depois de descobrir que tinha um cancro terminal. Segundo o jornal inglês, o britânico foi encontrado morto em casa, no bairro londrino de Chelsea, com um ferimento de bala no crânio. Alguns dias antes, Mosley terá tido conhecimento de que só tinha algumas semanas de vida e de que as dores que já tinha na zona abdominal não iriam melhorar, tendo como única opção os cuidados paliativos. Assim — e conforme terá revelado ao assistente pessoal na véspera de morrer –, decidiu colocar um fim à própria vida.

Morreu Max Mosley, o antigo presidente da FIA e um dos homens mais poderosos da história da Fórmula 1

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A investigação do Tribunal de Westminster revela ainda que a emergência médica foi chamada por uma das funcionárias da casa de Max Mosley, que encontrou um papel na porta do quarto do britânico onde se lia “não entres, chama a polícia”. Na mesa de cabeceira de Mosley estava uma aparente nota de despedida que ficou impossível de desvendar devido à grande quantidade de sangue que o antigo piloto amador perdeu e onde só era possível ler a frase “não tive outra opção”.

Em maio, quando Max Mosley morreu, a notícia foi adiantada e confirmada por Bernie Ecclestone, um dos amigos mais próximos do britânico. “É como perder família. É como perder um irmão. Éramos como irmãos, o Max e eu. Ele fez muitas coisas boas não só pelo desporto motorizado mas também pela indústria automóvel. Era muito bom a garantir que as pessoas construiam carros que eram seguros”, disse Ecclestone à BBC Sport. Mosley, que também era advogado, começou a carreira no automobilismo enquanto piloto amador na Brabham e na Lotus, fundando posteriormente a March Engineering, uma equipa fabricante de automóveis que chegou a competir na Fórmula 1.

Formula 1 boss Bernie Ecclestone (L) and FIA Presi

Em maio, foi Bernie Ecclestone a adiantar e confirmar a morte de Max Mosley, de quem era amigo próximo

Enquanto advogado, para além de piloto, lidou com todos os assuntos legais e comerciais da March Engineering e acabou por tornar-se o representante da empresa junto da Associação de Construtores da Fórmula 1 (FOCA), um cargo que ocupou entre 1969 e 1977. Em conjunto com Bernie Ecclestone, que conheceu nessa altura e que depois se tornou então um amigo próximo, passou a representar a Associação junto da FIA, a organização que regula e organiza todas as competições de desporto automóvel.

Em 1978, passou a ser conselheiro legal da FOCA, posição a partir da qual acabou por negociar a primeira versão do Pacto de Concórdia, uma espécie de cessar-fogo que sentenciou uma disputa longa entre a Associação e a FISA, uma extensão da FIA que era nessa altura o órgão de governança da Fórmula 1 — e que evitou, desde então e pelo menos até 2025, que seja fundada uma nova categoria para rivalizar com a Fórmula 1. Em 1991, foi eleito presidente dessa mesma FISA, saltando dois anos depois para presidente da FIA.

Enquanto presidente da organização que regula todo o desporto automóvel, Max Mosley destacou-se atavés da promoção da segurança nas competições e da utilização de energias renováveis. Em 2008, porém, a imagem pública do britânico acabou por sofrer um revés: histórias relacionadas com a vida sexual de Mosley inundaram os tablóides britânicos, acompanhadas por alegações infundadas de que este tinha ligações nazis. O então presidente da FIA processou os jornais que publicaram as notícias, com sucesso, e conseguiu manter o cargo. Deixou oficialmente o automobilismo no ano seguinte, depois de 16 anos na liderança da organização, mas só no final do mandato. Foi substituído pelo sucessor que ele próprio preferia, Jean Todt, que ainda ocupa o cargo.

Depois do escândalo do qual foi o grande protagonista e onde saiu vitorioso, ao ganhar o processo judicial, Max Mosley tornou-se um proeminente ativista pela defesa da privacidade das figuras públicas e de um maior controlo dos limites da comunicação social. A ideia de que o britânico teria ligações nazis, embora sempre infundada e nunca provada, surge através do pai, Sir Oswald Mosley, que foi o líder da União dos Fascistas Britânicos, partido desmantelado em 1940. Mosley chegou a envolver-se nas aventuras do pai no pós-Segunda Guerra Mundial, através do Union Movement, mas explicou mais tarde que as associações ao fascismo às quais não conseguia fugir devido ao apelido que tinha acabaram por afastá-lo de aprofundar esse interesse pela política. Ainda assim, chegou a trabalhar para o Partido Conservador no início da década de 80.