O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse esta quinta-feira que, de acordo com os serviços de informações da Aliança Atlântica, a Rússia não está a retirar as suas tropas da Ucrânia, mas sim a reposicioná-las, sendo de esperar “ofensivas suplementares”.
Numa conferência de imprensa em Bruxelas para apresentar o relatório anual de 2021 da organização, Jens Stoltenberg, referindo-se às “recentes declarações de que a Rússia vai reduzir as suas operações militares em torno de Kiev e no norte da Ucrânia”, comentou que não se pode confiar nos anúncios do Kremlin, já que as autoridades russas têm mentido “repetidamente”.
“A Rússia mentiu repetidamente sobre as suas intenções, pelo que só podemos julgar a Rússia pelas suas ações, não pelas suas palavras. E, de acordo com os nossos serviços de informações, as unidades russas não estão a retirar, mas sim a reposicionar-se”, disse.
Segundo o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte, “a Rússia está a tentar reagrupar-se, reabastecer-se e reforçar a sua ofensiva na região do Donbass e, ao mesmo tempo, a Rússia mantém pressão sobre Kiev e outras cidades”, assistindo-se a “bombardeamentos contínuos das cidades” ucranianas.
“Por isso, podemos esperar ações ofensivas suplementares, que trarão ainda mais sofrimento”, declarou, voltando a defender que “a Rússia tem de pôr fim a esta guerra sem sentido, retirar todas as suas tropas e encetar negociações de boa-fé”.
Kiev insiste na retirada de tropas russas antes de acordo com Moscovo
Na quarta-feira, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos também alertou que a recente movimentação para norte de parte das forças russas que se encontravam em redor de Kiev pode ser uma estratégia para reabastecer e reposicionar os militares.
O porta-voz do Pentágono, John Kirby, explicou que para os Estados Unidos estas movimentação em direção à Bielorrússia não significam uma retirada, mas uma tentativa da Rússia em reabastecer e reposicionar as suas tropas.
O representante do Departamento de Defesa norte-americano lembrou que a Rússia estabeleceu como meta priorizar a região do Donbass, no leste ucraniano.
A Rússia também anunciou, após conversações na terça-feira com negociadores ucranianos em Istambul, Turquia, que iria reduzir as suas atividades em torno de Kiev e Chernihiv num gesto para aliviar a pressão e ajudar as conversações a encaminhar-se para um acordo.
Um conselheiro do Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse, em declarações a uma televisão, que a Rússia transferiu algumas das suas tropas de áreas próximas de Kiev, a capital do país, para leste, num esforço para cercar as forças ucranianas naquela zona.
Oleksiy Arestovych referiu que a Rússia deixou, contudo, forças suficientes perto de Kiev para obrigar as tropas ucranianas a manter-se aí e impedi-las de se deslocarem para outras áreas e que Moscovo ainda não retirou nenhuma das suas tropas da cidade de Chernigiv.
O Pentágono adiantou ainda que o secretário de Defesa, Lloyd Austin, e o chefe das Forças Armadas norte-americanas, o general Mark Milley, mantêm as tentativas de estabelecer contactos com os respetivos homólogos russos, mas “não obtiveram resposta”.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.189 civis, incluindo 108 crianças, e feriu 1.901, entre os quais 142 crianças, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de 4 milhões de refugiados em países vizinhos e quase 6,5 milhões de deslocados internos.
A ONU estima que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.