Tradicionalmente, ensaiamos aqui as principais novidades que chegam ao mercado nacional, o que passa por analisar produtos de marcas que têm as mais variadas proveniências, da Europa aos EUA, passando pelo Japão e pela Coreia do Sul. Mas havia uma falha neste cardápio de países, pois até aqui não tinha sido ainda possível – nem justificável, por não estarem representados entre nós – analisar as propostas dos construtores chineses, que é “apenas” o maior mercado do mundo e o principal fabricante de automóveis. O arranque da comercialização em Portugal do U5, o SUV concebido e fabricado pela chinesa Aiways, que deverá iniciar as entregas a clientes em Maio/Junho, vai finalmente permitir aos condutores nacionais, em busca de um carro novo, ter um veículo chinês no menu das possíveis opções.

A Aiways Automobiles Company é um construtor recente, que nasceu de uma startup criada apenas em 2017, e o U5 é um dos seus primeiros modelos, tendo sido o escolhido para a introdução no mercado europeu por se tratar de um SUV, o carro da moda no Velho Continente. Este modelo chinês, representado em Portugal pela Astara – que também controla a Kia, Mitsubishi, Fuso e Isuzu, entre outras – aposta numa estratégia de preços competitivos e um nível de equipamento mais completo do que o normal.

Um SUV bem equipado e muito grande por dentro

O novo U5 assume-se como um SUV de linhas angulosas, com um aspecto algo estranho pelos padrões europeus. Mas se não é apaixonante, de forma alguma pode ser considerado desagradável à vista. Comparado com um rival directo, o VW ID.4, o Aiways é 9,6 cm mais comprido, 1,3 cm mais largo e 6 cm mais alto. Mas apresenta duas vantagens face ao rival alemão, sendo uma delas a maior distância entre eixos (2,80 m), que ultrapassa o SUV germânico em 2,9 cm, vantagem que vai beneficiar o comprimento do habitáculo, oferecendo mais espaço a quem se senta atrás.

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Outra das vantagens é o peso reduzido, fruto de recorrer a uma mistura de aço de alta resistência e alumínio, em que este material mais leve representa 52% do chassi. Daí que o U5 acuse 1720 kg, ou seja, menos 280 kg do que o ID.4 com uma bateria e potência similares, favorecendo acelerações e consumos. No rendimento aerodinâmico reina um certo equilíbrio, com o SUV chinês a anunciar um Cx de 0,29, contra 0,28 do alemão.

Além de muito espaçoso, o U5 oferece uma bagageira generosa com 584 litros, divididos pela mala traseira (432 litros), alçapão posterior (107 l) e a frunk (45 l), mas sobretudo muito equipamento. Em vez de propor um eléctrico muito mais barato do que a concorrência, a Aiways optou por ter alguma vantagem em preço, mas um trunfo maior em equipamento. Daí que o SUV seja apenas fornecido na versão Prime, a mais sofisticada, o que implica oferecer de série a carroçaria a duas cores, jantes em liga leve de 19”, com pneus 235/50 e um sistema de ajuda à condução com 12 sensores de ultrassons, cinco câmaras de alta definição, três radares de ondas milimétricas e duas câmaras interiores, de forma a garantir a condução semiautónoma.

Como complemento, o Aiways possui como equipamento standard a travagem autónoma de emergência, com detecções de peões, ciclistas ou outros veículos, o cruise control adaptativo e a assistência ao estacionamento, realizando sozinho, por pressão de um botão, algumas das manobras de parqueamento mais simples. O tejadilho panorâmico em vidro não acarreta custos adicionais, tal como um sistema particularmente “chato” que, com o recurso às duas câmaras interiores e à inteligência artificial (que nos pareceu pouco inteligente), avisa com a voz e o tom que nos filmes tradicionalmente são utilizados pelos membros do Partido Comunista chinês, que o condutor está desatento em relação à estrada. Mesmo quando a circular a 50 km/h, sem um único carro 500 metros à frente ou atrás, desvia os olhos cinco segundos a apreciar a vista, continuando a manter a estrada debaixo de olho…

Como é ao volante?

O Aiways U5 revelou-se mais agradável de conduzir do que o que era expectável. Só com um motor à frente, com 204 cv e 310 Nm, o SUV chinês despacha-se bastante bem, como prova o facto de necessitar apenas de 7,8 segundos para ir de 0 a 100 km/h. O peso ligeiro, por recorrer a muito alumínio – para mais em peças fundidas, para reduzir o número de partes que depois têm de ser soldadas -, explica o sucesso. O peso comedido ajuda ainda à sensação que sentimos a travar e a curvar, esta última ajudada por possuir suspensões McPherson à frente e multilink atrás.

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Os materiais a bordo são surpreendentemente bons, mas mais do que isso a montagem é robusta, o que se traduz por uma ausência de ruídos parasitas. O único barulho “aborrecido” que identificámos foi na porta, cujo painel de revestimento interior não nos pareceu suficientemente sólido quando o empurrámos com o cotovelo para abrir a porta. Também não gostámos da ausência do porta-luvas.

O painel de instrumentos dividido em três micropainéis, como se tratasse de um mini tríptico, é mais funcional e prático do que de início julgámos. À frente está-se bem, mas atrás o espaço provoca alguma inveja à concorrência e gostámos da bagageira, ainda que dividida entre a traseira e a frente. A luminosidade a bordo também agrada.

A alimentar o motor de 204 cv está uma bateria com uma capacidade de 63 kWh, que permite ao construtor anunciar mais de 400 km de autonomia em WLTP, que aparentemente deverá rondar 410 km, em valores anunciados. Em condições reais, uma autonomia de 300 a 330 km entre recargas pareceu-nos um valor aceitável, o que não anda longe dos valores alcançados pelo ID.4 com uma bateria similar. Em cidade conseguimos rodar com um consumo médio de 19,9 kWh/100 km, valor que subiu para 21,6 kWh a 90 km/h e 26,6 kWh a 120 km/h, os valores mais elevados que atingimos até hoje, nas mesmas condições.

34.990€+IVA, ou 30.990€+IVA para “amigos”

O Aiways U5, que originalmente esteve previsto começar a ser entregue aos condutores portugueses em Maio, derrapou ligeiramente para o final de Maio, início de Junho. Mas os preços anunciados não sofreram alterações, com o U5 Prime, o único disponível entre nós, a ser proposto por 43.037€, o que equivale a 34.990€ + IVA. Mas para as empresas e profissionais liberais, entidades que fiscalmente conseguem recuperar o IVA, a Astara propõe apenas 30.990€+IVA, o que equivale a 38.117€, um valor muito inferior à concorrência.

Se considerarmos o reforço do equipamento oferecido de série, que deverá rondar 5000€ a preços de mercado, é fácil perceber as vantagens do U5 face à concorrência, aqui representada pelo ID.4, pois oferece um preço inferior em 8000€, tendo mais equipamento. É certo que ainda falta recuperar o factor “chinês”, que ainda assusta muita gente. Mas todos aqueles que já compram os mais recentes iPhones, produzidos na China, ou os Tesla mais acessíveis, igualmente oriundos das unidades de produção chinesas, o salto nunca foi problemático ou visto como um risco.