Os militares portugueses na República Centro-Africana entregaram centenas de brinquedos e equipamentos desportivos aos alunos de duas escolas de Bocaranga, no oeste do país, no âmbito da cooperação civil militar da missão da ONU (MINUSCA), disseram fontes militares.
Os militares, que estão projetados nessa zona da República Centro-Africana (RCA), entregaram no final de março 300 bonecas a outras tantas crianças de uma escola primária e 423 peças de roupa desportiva a outros tantos estudantes da escola secundária de Bocaranga, disse à Lusa fonte oficial do Estado-Maior-General das Forças Armadas.
Como explicou à Lusa por videochamada o comandante da força nacional na MINUSCA, tenente-coronel Pereira, os bens foram angariados pelo contingente português em Portugal, ainda antes do início da sua missão no terreno.
“É um trabalho que começa ainda em Portugal, ainda na fase de preparação. Sabendo que vamos para um país que tem as suas dificuldades, para além de querermos garantir a sua segurança e proteção, é procurar também, dentro do possível, encontrar algo que os possam também ajudar no seu dia a dia”, disse o militar.
Neste caso, os brinquedos foram doados pela organização não-governamental Mães do Mundo e os equipamentos desportivos pela Federação Portuguesa de Futebol e pelo Clube Amador de Desportos do Entroncamento.
Além dos bens entregues agora, os militares portugueses têm mais equipamentos desportivos, doados pelo Sporting Clube de Portugal e pelo Sport Lisboa e Benfica, que ainda não foram entregues, mas que esperam oferecer ainda antes do final da missão a outras entidades em que o material faça falta.
Lembrando que uma das prioridades da operação militar é a segurança da população, o militar destacou que estas ações solidárias permitem também conquistar a confiança das comunidades locais.
“Nós temos um foco muito grande na população, porque se não tivermos a confiança da população, parte do nosso trabalho é pelo menos mais difícil”, afirmou, sublinhando que a confiança dos populares nos militares portugueses se estende depois a toda a MINUSCA.
As Forças Armadas portuguesas têm atualmente 193 militares na MINUSCA, dos quais 180 estão integrados na Força de Reação Rápida (Quick Reaction Force — QRF) e os restantes no quartel-general, disse à Lusa, na mesma videochamada, o segundo-comandante da MINUSCA, general Paulo Maia Pereira.
No total, a MINUSCA integra 14 mil mulheres e homens de 48 países, e “cada contingente é chamado a, com base na mobilização que consegue fazer em cada país, trazer para a República Centro-Africana ações que são conjugadas com o trabalho humanitário da missão”, explicou Maia Pereira.
Sublinhando que 63% da população do país vive da ajuda humanitária, o general considerou que “há espaço para todos” contribuírem.
No entanto, embora muitos contingentes participem neste trabalho solidário, da cooperação civil-militar da MINUSCA, o segundo-comandante da missão destacou “o modo português de fazer as coisas”, que classificou como “simplesmente excecional”.
“É um modo simples, é um modo honesto, é um modo muito aberto, é muito objetivo, dando a cada um o seu protagonismo. (…) A qualidade com que nós abordamos a pessoa é completamente diferente, é única nossa, portuguesa”.
A República Centro-Africana tem estado atolada em violência sistémica desde 2012, quando uma coligação de grupos rebeldes de maioria muçulmana – a Séléka — tomou Bangui e derrubou o Presidente François Bozizé, desencadeando uma guerra civil.
Como resistência contra os ataques de Séléka, foram criadas milícias cristãs anti-Balaka, que, tal como o primeiro grupo, acabaram por se dividir em várias fações armadas.
Segundo Maia Pereira, as prioridades da missão da MINUSCA são proteger civis, reforçar a autoridade do Estado, reduzir a capacidade dos grupos armados e assegurar a proteção dos bens e dos militares das Nações Unidas que estão no território.
Além dos militares integrados na missão das Nações Unidas, Portugal tem outros 26 militares na RCA, no âmbito da missão da União Europeia (EUTM-RCA) de formação e aconselhamento das forças de segurança e defesa.