Pelo menos 50 pessoas morreram e outras cem ficaram feridas num ataque com dois mísseis esta sexta-feira de manhã à estação de comboios de Kramatorsk, no leste da Ucrânia. A notícia, que foi inicialmente avançada pelo governador de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, tem sido atualizada ao longo dos últimos minutos pelas agências internacionais e a contagem de vítimas estará longe de encerrada — o primeiro número conhecido foi 30.

Através do Telegram, o governador partilhou fotografias do local, onde são são visíveis vários corpos, por entre dezenas de malas e bagagens. De acordo com Oleksandr Kamychine, o diretor da Ukrzaliznytsia, a companhia de caminhos de ferro ucraniana, que tem atualizado a informação ao longo da manhã na mesma aplicação, pelo menos cinco crianças estarão entre as vítimas.

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Seriam cerca de quatro mil as pessoas reunidas na estação, a maioria mulheres, crianças e idosos, na tentativa de abandonar aquela região da Ucrânia, no momento do ataque, afirmou Kyrylenko naquela rede social. “Os racistas sabiam bem o alvo que visavam e o que queriam: queriam fazer reféns o maior número possível de pessoas pacíficas, queriam destruir tudo o que fosse ucraniano”, escreveu. O ataque aconteceu pelas 10h30 na Ucrânia, 8h30 em Portugal, e atingiu a sala de espera temporária da estação — os destroços, avançaram as autoridades locais, foram encontrados a 40 metros de distância, o que, dizem, será prova da sua elevada potência.

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A descrição do jornalista da AFP presente no local dá conta de pelo menos 20 cadáveres já depositados em sacos, enquanto várias centenas de pessoas se mantêm na gare, na esperança de conseguir lugar num comboio para longe daquela região da Ucrânia. De acordo com Alexander Goncharenko, o presidente da autarquia local, os hospitais não estão a conseguir lidar com o número elevado de feridos, muitos deles com braços e pernas decepados.

“Eles estão a destruir cinicamente a população civil. Este é um mal que não tem limites. E se não for punido, nunca vai parar”, reagiu já o Presidente Volodymyr Zelensky, numa publicação feita no Telegram,

Esta quinta-feira, na sequência de outro ataque russo na mesma região e também na via férrea, mas junto à estação de Barvinkove, três comboios que transportavam civis em fuga ficaram imobilizados depois de um viaduto ter sido destruído. Horas depois, os passageiros puderam finalmente seguir viagem, incólumes.

Desde que as forças russas começaram a retirar do norte do país, numa manobra de aproximação ao Donbass, que começou o êxodo na região, reforçado na quarta-feira pelas declarações da vice-primeira-ministra ucraniana, que pediu aos moradores que saíssem o mais depressa possível, antes que se tornasse demasiado tarde. “É necessário evacuar as cidades enquanto existir essa possibilidade. Por enquanto, ainda existe”, disse Iryna Vereshchuk.

Entretanto, a Rússia já negou qualquer responsabilidade no ataque. Eduard Aleksandrovich Basurin, o porta-voz do comando da “milícia do povo” da auto-proclamada República Popular de Donetsk, está a ser citado pela Sky dizendo que se tratou de “uma provocação” ucraniana. O próprio Ministério da Defesa russo já veio garantir que “as Forças Armadas russas não tiveram quaisquer missões de fogo na cidade de Kramatorsk a 8 de Abril nem planos para as fazer” e acrescentou ainda que o país não utiliza os Tochka-U, alegadamente usados no ataque. Tanto a Ucrânia como a Bielorrússia têm este tipo de mísseis no seu arsenal.

De acordo com o site de notícias russo Meduza, os Tochka-U, de fabrico soviético, começaram a ser retirados na Rússia em 2017, com a intenção de, em três anos, serem substituídos por mísseis Iskander, mas há relatos recentes de que têm sido utilizados na Ucrânia pelo exército invasor, tendo em conta a escassez de armamento.

Também no Telegram de Oleksandr Kamychine foram partilhadas fotografias de destroços daquilo que descreve como um “míssil Point-U” russo, (outra designação por que são conhecidos os Tochka-U) alegadamente usado no ataque desta manhã. É o diretor da companhia de caminhos de ferro ucraniano, mas também media internacionais como os britânicos Sky, Guardian e Telegraph e a bielorrussa Nexta, que estão a traduzir uma inscrição a branco e em russo, visível no que resta da peça de artilharia — «за детей», “for the children”; em português “para as crianças” ou “pelas crianças”.

Para Oleksandr Kamychine, a inscrição revela o “sadismo” das tropas russas, num ataque onde, para já, já foram confirmadas quatro crianças entre as vítimas mortais. De acordo com o Telegraph, a frase, “presumivelmente escrita pelos militares russos que dispararam o míssil”, pode ser lida como uma pretensa vingança da Rússia, que tem acusado a Ucrânia de bombardear os civis pro-russos do Donbass (e começou, aliás, a invasão sob esse pretexto).