A goleada no dérbi de Manchester, a eliminação da Champions em casa com o Atl. Madrid, uma série de uma vitória em sete encontros com três derrotas pelo meio, os lugares de acesso à Liga dos Campeões mais longe, até uma posição na Europa na próxima temporada em risco. Sempre que se pensa que a época do United não pode ser pior, há sempre mais um jogo a transformar essa ideia numa falácia e os exemplos paradigmáticos surgiram depois do afastamento da Liga milionária, com um empate caseiro com o Leicester e uma derrota em Liverpool frente ao Everton. O barril de pólvora que já existia no balneário da equipa transformou-se quase num detonador automático de problemas sem que mexesse com a perceção de Ralf Rangnick.

Seja Erik ten Hag ou outro qualquer, alguém tem de salvar este Manchester United de um abismo de ideias

“Não, não me arrependo em absoluto. Faria tudo outra vez. Como treinador tens sempre de te perguntar o que podias ter feito melhor mas não me arrependo de nada. Todos sabemos que não é uma equipa fácil, que a situação não foi fácil, ou então eu não estaria sentado aqui. Nos últimos meses mostrámos que elevámos o nosso nível mas não da forma regular que desejava. Essa é a razão pela qual não estou contente com o que conseguimos até agora”, comentou o técnico alemão que substituiu de forma interina até ao final da época Ole Gunnar Solskjaer, despedido em novembro. E nem mesmo o mais do que provável nome para assumir o clube na próxima temporada, o neerlandês Erik ten Hag, veio esvaziar a pressão dos resultados.

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Aliás, na verdade, o técnico ainda está no Ajax e as “polémicas” já começaram a Old Trafford, neste caso em torno da entrevista que teve com dirigentes dos red devils e a reunião com vários elementos da estrutura. Em resumo, em conversas onde parecia ser ten Hag a entrevistar o clube e não o contrário, como revelaram as fontes contactadas pela imprensa inglesa a esse propósito, o neerlandês terá arrasado o departamento de prospeção e recrutamento, criticou a estrutura do futebol e informou também que não deverá contar com Cristiano Ronaldo na próxima época, por não encaixar na ideia de jogo que pretende implementar.

Mas a semana que começara com o episódio do telemóvel partido por Ronaldo a um adepto que promete dar ainda muitas mais notícias apesar do pedido de desculpas por parte do jogador teve mais episódios daquele que é quase um folhetim de semana a semana sobre nova temporada para esquecer em Old Trafford. Logo à cabeça, a alegada proposta de renovação a Paul Pogba, que passaria a ser o mais bem pago no plantel e que não terá caído bem no balneário. Depois, o anúncio por parte de Matic de que vai deixar o clube no final da época, curiosamente numa altura em que ganhou mais minutos na equipa. Na antecâmara da receção ao Norwich, uma manifestação de adeptos à porta da academia com cartazes onde consideravam os jogadores inaptos de servirem o clube e pediam também a saída da família Glazer do Manchester United.

“Compreendo a desilusão dos adeptos face à nossa classificação e à exibição frente ao Everton mas acredito que os nossos são dos melhores, se não os melhores, em Inglaterra e, desde que protestem de forma pacífica e apoiem a equipa no estádio, têm todo o direito de expressar a opinião deles”, salientara Rangnick. Também por isso, a receção ao último classificado da Premier League comportava uma obrigatoriedade de regresso aos triunfos. E se nesse último período de sete jogos o único triunfo tinha sido frente ao Tottenham por 3-2 com hat-trick de Ronaldo, agora o português repetiu a dose, chegando pela 16.ª época consecutiva aos 20 ou mais golos oficiais e oferecendo mais três pontos à equipa com um livre direto (58.º) que apagou o apagão depois do 2-0 e levou a que Rio Ferdinand voltasse a ironizar com o facto de “ser um problema”.

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Com um meio-campo reformulado que colocou Pogba como pivô defensivo com Lingaard e Bruno Fernandes mais à frente no apoio a Jadon Sancho, Elanga e Ronaldo, o Manchester United entrou para decidir cedo o encontro mas ainda passou pelo calafrio do costume, com Pukki a ser lançado por Rashica mas a não superar David De Gea quando estava isolado (3′). A organização defensiva voltava a revelar-se o principal calcanhar de Aquiles dos red devils mas também o Norwich, segunda pior defesa da Premier League, “oferece” muitas vezes a sorte ao adversário e foi isso que voltou a acontecer ainda nos dez minutos iniciais, com Ronaldo a arriscar a meia distância para defesa de Tim Krul (6′) antes de Elanga pressionar alto, conseguir roubar a bola a Gibson e assistir para o português fazer isolado na área o golo inaugural do encontro (7′).

A vantagem conseguiu serenar o jogo dos visitados mas nem por isso conseguiu empolgar o suficiente a equipa para chegar a um avanço mais confortável, sendo que até à meia hora houve apenas outro remate com perigo de Lingaard que saiu ao lado. Com isso, as atenções viravam-se ainda mais para os muitos adeptos do Manchester United que entravam de forma tardia em Old Trafford depois de terem estado numa manifestação anti-Glazer perto do recinto que juntou milhares de pessoas. Seria o mesmo Lingaard a voltar a criar perigo após assistência de Dalot, obrigando Krul a defender para canto antes de Alex Telles correr até ao lado direito do ataque, bater de pé esquerdo e ver Ronaldo desviar de cabeça para o 2-0 (32′). No entanto, e em cima do intervalo, os visitantes conseguiram ainda reduzir por Kieran Dowell, a desviar de cabeça ao segundo poste depois de uma jogada de Pukki pela esquerda com todo o espaço possível (45+1′).

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A reentrada em campo do Manchester United mostrava uma equipa que parecia não ter acusado esse golo em cima do descanso, com Ronaldo a ameaçar na área com um remate ao lado e com Lingaard a atirar de meia distância para boa defesa de Tim Krul, mas seria mesmo o Norwich a chegar ao empate em mais um lance que deixou à vista todas as fragilidades defensivas dos red devils, com Pukki a ser lançado nas costas de Maguire para fazer o 2-2 isolado na área (52′). E a “mossa” deixada pelos visitantes poderia não ter ficado por aí, com Rashica a obrigar David de Gea a uma grande defesa para canto que evitou a reviravolta (56′).

Na sequência de mais um canto, Ronaldo voltou a ameaçar o golo mas o Manchester United teria de fazer muito mais para superar um encontro que chegou a parecer estar ganho. Rangnick tentou reforçar o corredor central com a troca de Lingaard por Matic para soltar Pogba nas ações ofensivas, lançou pouco depois Juan Mata e Rashford tentando dar outro peso no critério de construção e na velocidade nas alas, mas a solução viria do mesmo de sempre: na sequência de um livre direto, que há muito não servia para o internacional português festejar, Ronaldo fez o 3-2 e voltou a acalmar em definitivo os ânimos em Old Trafford (76′).