Vladimir Putin apresentou, esta quarta-feira, a nova joia da coroa militar da Rússia: o míssil balístico intercontinental Sarmat, tão eficaz que é apelidado pelos serviços de inteligência ocidentais como Satã II.
“Este novo instrumento está dotado das mais recentes capacidades táticas e técnicas e é capaz de subjugar qualquer meio moderno de defesa anti-míssil“, garantiu o Presidente russo. “Não tem comparação no mundo e não terá durante bastante tempo.”
Esta arma única vai fortalecer o potencial de combate das nossas forças armadas, garantir de forma segura a defesa da Rússia de ameaças externas e dar dores de cabeça àqueles que, no calor de uma retórica agressiva e desenfreada, tentem ameaçar o nosso país”, concluiu Vladimir Putin.
Mas afinal que arma é esta que o Kremlin pode utilizar agora como trunfo extra e fazer pender o jogo da segurança internacional para o lado de Moscovo?
O que é o RS-28 Sarmat?
O míssil balístico intercontinental RS-28 Sarmat tem capacidade para transportar até 16 ogivas nucleares de tamanho reduzido ou 10 ogivas de maior dimensão. Esta arma possui contra-medidas capazes de destruir outras bombas e mísseis, caso sejam detetados a uma distância de seis quilómetros. O míssil está ainda equipado com um sistema que torna mais difícil a sua interceção.
Ao The Times, o professor Malcolm Chalmers, do Royal United Services Institute, explicou que um destes mísseis, caso esteja equipado na sua totalidade, tem capacidade para destruir uma área semelhante ao Estado do Texas ou a França — com cerca de 700 mil quilómetros quadrados e quase 550 mil, respetivamente — e matar milhões de pessoas.
Até onde chega este míssil?
Com um alcance máximo de 18 mil quilómetros, o RS-28 Sarmat é capaz de circundar a Terra pela linha do equador uma vez e meia antes de cair, o que, na teoria, deixa qualquer parte do mundo vulnerável a um ataque massivo por parte dos russos.
Esta quarta-feira, Putin foi informado pelos oficiais do exército que um destes mísseis tinha sido disparado de Plesetsk, no noroeste do país, e tinha acertado nos alvos localizados na península de Kamchatka, no extremo oriental da Rússia — percorrendo mais de cinco mil quilómetros.
Quando começou a ser construído?
O RS-28 Sarmat começou a ser planeado nos anos 2000 com o objetivo de substituir o SS-18 Satan. A conclusão da pesquisa e desenvolvimento deste míssil ocorreu em 2011 e a construção do primeiro protótipo terminou em 2015, conta o Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos.
O primeiro teste de lançamento do novo míssil balístico intercontinental foi em 2017 e permitiu detetar alguns problemas no sistema de lançamento. Dois novos ensaios — em março e maio de 2018 — demonstraram que as falhas do Sarmat já estavam resolvidas. O teste final tem vindo a ser adiado desde 2020 – esta quarta-feira a arma ficou aprovada e tudo indica vai integrar o arsenal russo.
Como reagiram os Estados Unidos da América ao ensaio?
O Pentágono considerou o teste do míssil RS-28 Sarmat como um exercício de rotina e não como uma ameaça aos EUA. Na verdade, o país foi mesmo notificado antecipadamente do lançamento pelo Kremlin.
“Este teste é rotineiro e não foi uma surpresa”, revelou John Kirby, porta-voz do Pentágono.
Um relatório do Serviço de Informação do Congresso dos EUA dava já conta, a 21 de março de 2022, que este míssil estaria concluído ainda este ano.
Que míssil vai o Sarmat substituir?
O RS-28 Sarmat vai substituir o também míssil balístico intercontinental SS-18 — o Satã original. Construído durante a União Soviética, este míssil conseguia transportar um máximo de dez ogivas nucleares até 11 mil quilómetros.
Chegaram a estar ativos 308 destes mísseis, que eram capazes de penetrar os radares da altura. Uma primeira versão do SS-18 integrou as tropas russas entre 1966 e 1979. Uma versão modificada surgiu em 1988 e manteve-se em funcionamento até à atualidade.