“A história que tem o Real Madrid nesta competição conta muito para nós, mais do que para os adversários. Esta história que aumentou em todos estes anos ajuda os jogadores a sentir o peso da camisola e é um peso positivo. Esta camisola é uma responsabilidade positiva. Há duas equipas que ninguém pensava que iriam chegar às meias-finais, o Villarreal e o Real Madrid, mas estamos muito contentes de estar aqui e competir. Para nós não é um êxito chegar à meia-final. Temos vontade de chegar à final. O objetivo agora é chegar à final porque se lá chegarmos o Real Madrid tem mais probabilidade de voltar a ganhar…”.

Benzema faz milagres. E também sabe como evitá-los (a crónica do Real Madrid-Chelsea)

Na antecâmara do encontro no Etihad Stadium, Carlo Ancelotti voltou a puxar dos galões do Real Madrid europeu, clube que é recordista no número de finais (16) e ainda mais no número de títulos (13, contra os sete do AC Milan e os seis de Bayern e Liverpool). E das palavras para as bancadas, era isso que se via nas provocações entre adeptos antes do apito inicial, com um adepto dos merengues a levantar o cachecol que dizia “Rei da Europa” e a dizer depois “Tu, zero!” fazendo o número com uma mão. A história tem sempre o seu peso mas a história vale o que vale, ainda para mais com aquilo que já se viu dos espanhóis na Champions: um jogo nulo no plano ofensivo em Paris para a remontada no Bernabéu com o PSG, uma partida a roçar a perfeição em Stamford Bridge antes dos calafrios em casa frente ao Chelsea.

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Do outro lado, sempre com uma humildade pautada por Pep Guardiola que não podia fazer mais elogios ao Real Madrid (grande adversário quando estava no Barcelona, um pesadelo europeu no Bayern) e ao próprio Carlo Ancelotti. Aqui, e apesar do grande currículo do transalpino, era o Manchester City a continuar a ir à procura do currículo do seu treinador, que chegava pela nona vez às meias-finais da Liga dos Campeões contra apenas três dos citizens. E também era isso que se via no espectáculo fantástico que antecedeu a entrada das equipas ao som da Hey Jude, com uma imagem grande do espanhol a fumar charuto (como aconteceu a seguir à vitória numa Premier) e a tarja “O exército azul e branco de Pep”.

Guardiola não jogou com 12 mas quem tem De Bruyne joga sempre com mais um (a crónica do Manchester City-Atl. Madrid)

O Manchester City é, a par do Liverpool, a melhor equipa mundial da atualidade. E confirmou isso. Mas o Real Madrid, neste caso sem paralelo, é a equipa que melhor domina o que são os jogos de Champions. O duelo, um dos melhores a nível europeu na presente temporada, confirmou ambos os denominadores e deixou tudo em aberto para a segunda mão no Santiago Bernabéu: os ingleses a serem imparáveis quando conseguem embalar e os espanhóis a mostrarem que até em baixo nunca estão mortos no jogo. E cada um, mais uma vez, com a sua principal estrela a brilhar, Kevin de Bruyne e Benzema. Em ano sem Mundial no verão, são eles os dois grandes candidatos à Bola de Ouro a não ser que apareça um Salah. Sendo que, apesar de toda a genialidade de ambos, o MVP em termos estatísticos foi… Bernardo Silva.

Sem o castigado João Cancelo, que assume nesta fase uma importância vital nos movimentos ofensivos da formação de Pep Guardiola como lateral, e ainda com Kyle Walker lesionado, o Manchester City recuperou John Stones, colocou Zinchenko na esquerda e manteve Gabriel Jesus como titular depois dos quatro golos marcados ao Watford. E parte da entrada de sonho entroncou nessa aposta: Kevin de Bruyne inaugurou o resultado logo no segundo minuto num desvio de cabeça na área após cruzamento de Mahrez e Gabriel Jesus, mais uma vez, aumentou para 2-0 após uma assistência na esquerda de De Bruyne que Alaba não conseguiu aliviar (11′). Benzema tentava juntar os companheiros mas era um arranque de pesadelo.

A desconcentração dos espanhóis era notória, até em pormenores que são aprendidos na formação como a marcação de cantos com devolução de bola sem apanhar o companheiro em fora de jogo. A aposta no 4x3x3 com Rodrygo em vez de Camavinga não foi propriamente feliz mas a equipa estava perdida, sem referências em campo e a permitir que o Manchester City tivesse bola como gosta pelo corredor central antes de variar com a colocação de Stones ou Zinchenko mais por dentro. Era quase como se o Real Madrid soubesse que o perigo contrário vinha da velocidade mas não fizesse nada para travar a zona de aceleração e foi assim que Mahrez desperdiçou o 3-0 com um remate às malhas laterais quando podia assistir (26′).

O festival Kevin de Bruyne continuava com todo o espaço do mundo para fazer o que quisesse, entre mais um passe fabuloso para o remate a rasar o poste de Phil Foden e outro lateral para também Zinchenko tentar a meia distância que não saiu longe da baliza de Courtois. No entanto, Guardiola tinha razão quando saltou que nem uma mola do banco a protestar com Mahrez pelo lance falhado. Sabia a importância que o golo poderia ter. E não demorou a ver a “razão” do seu lado: quando o Real Madrid tinha apenas um único remate com perigo após canto de Alaba, Mendy cruzou largo na esquerda para fora do raio de ação dos dois centrais e Benzema, quem mais, antecipou-se a Zinchenko para desviar com classe para o 2-1 (33′).

Stones tinha saído lesionado aos 35′ obrigando Fernandinho a ocupar a posição de lateral direito, Alaba também se ressentiu de um problema físico e ficou no balneário para a entrada de Nacho. E o defesa não demorou a dar nas vistas mas pelas piores razões: depois de um erro de Éder Militão e da má colocação do espanhol, Mahrez teve passadeira vermelha estendida para ganhar metros, atirar ao poste e ver depois a recarga de Phil Foden bater em Carvajal e não entrar. Não foi aí, foi logo a seguir: Fernandinho ganhou a bola em zona alta, recebeu de Mahrez, cruzou largo ao segundo poste e Phil Foden encostou para um 3-1 que iria demorar apenas dois minutos depois de uma arrancada fabulosa de Vinícius Júnior após deixar a bola passar por entre as pernas de Fernandinho para correr quase meio-campo para o 3-2 (55′).

O encontro conheceu mais uma fase de completa anarquia tática durante alguns minutos e foi depois para uma zona de maiores cautelas que, durante 15 minutos, fez com que existisse apenas uma oportunidade de golo com Laporte a aventurar-se na frente para desviar um cruzamento de Zinchenko para defesa segura de Courtois (67′). No entanto, havia mais golos guardados. E que golo: depois de uma paragem coletiva de todos os jogadores por uma falta clara sobre Zinchenko que o árbitro deixou seguir para não beneficiar o infrator, Bernardo Silva recuperou a bola, fintou Carvajal e colocou a bola no ângulo (74′) mas Benzema, que falhou duas grandes penalidades frente ao Osasuna recentemente, assumiu o castigo máximo por mão de Laporte após livre para encarar Ederson e marcar um penálti à Panenka que fez o 4-3 final (82′).