A Rússia está a chamar mais soldados para levar a cabo “novos ataques” no Leste do país. O alerta foi deixado este sábado pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que acredita que a Rússia está consciente de estar a mandar muitos soldados para cenários de onde provavelmente não sairão vivos. Na declaração ao povo ucraniano que grava, em vídeo, diariamente, Zelensky dirige-se diretamente aos soldados russos, os mesmos que diz “não saberem das baixas planeadas que os generais russos antecipam”. “Cada soldado russo ainda pode salvar a sua vida. É melhor sobreviverem na Rússia do que morrerem no nosso país”, avisa.
No vídeo publicado esta noite, Zelensky avisa que os russos estarão a reunir “mais forças” para “novos ataques” no Leste do país, para tentar aumentar a pressão sobre a região de Donbass. “Sabemos que o comando russo está a preparar-se para novas e grandes perdas. Sabem bem que milhares de soldados russos vão morrer e ser feridos nas próximas semanas”, assegura.
O pessoal que está a ser recrutado tem “pouca motivação” e “pouca experiência de combate”, garante, mas isso não dissuadirá, na perspetiva de Zelensky, a Rússia: “Eles só querem ter a quantidade certa. Para poderem mandar estas unidades atacar”.
Num discurso em que pretende motivar o lado ucraniano, Zelensky refere-se uma e outra vez às perdas do lado russo e à desmotivação das tropas invasoras, — uma informação aliás já este sábado transmitida pelos serviços de informações britânicos, — mas sem pôr a ideia central de lado: os ataques vão continuar. Como continuaram esta tarde em Odessa, onde as forças russas destruíram a pista de descolagem do aeroporto, agora inutilizável.
“Hoje, os invasores voltaram a disparar mísseis contra a região de Dnipropetrovsk e contra Odessa. Uma e outra vez, as forças russas provam que as pessoas de Odessa são tão inimigas para a Rússia como todos os outros ucranianos. A pista do aeroporto foi destruída. Vamos, é claro, reconstruí-la. Mas Odessa nunca vai esquecer esta atitude da Rússia contra si”, avisa Zelensky.
No mesmo vídeo, o governante ucraniano deixa apelos políticos e diplomáticos em várias frentes, enquanto garante estar a “comunicar ativamente” com os seus aliados para aumentar as sanções contra a Rússia. E diz estar à espera de uma decisão quanto ao embargo ao petróleo russo num “futuro próximo”. “Qualquer apoio aos interesses da máquina militar terrorista russa tem de acabar”.
Zelensky frisa ainda que falou este sábado com outros chefes de Estado, como o Presidente francês, Emmanuel Macron (incluindo sobre o pedido de adesão da Ucrânia à União Europeia) e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, concluindo que “todos os líderes do mundo livre sabem o que a Rússia fez a Mariupol” e assim a Rússia não sairá disto “impune”. Também revela que falou em “grande detalhe” com o secretário-geral da ONU, António Guterres, sobre a evacuação de Mariupol — que continua cercada pelos russos — durante a sua visita a Kiev.
Dado que este sábado se assinalou, na Ucrânia, o dia do guarda fronteiriço, o governante faz questão de frisar a defesa “corajosa” destes guardas, “os primeiros que enfrentaram os invasores russos”, nas fronteiras do país e em particular, atualmente, em Mariupol. “Estão a defender heroicamente a nossa cidade — os nossos heróis”, diz Zelensky, que esta tarde se encontrou com alguns deles e entregou prémios pela defesa da Ucrânia.