A primeira ronda do quadro de pares do Estoril Open passou mais ao lado das atenções gerais do torneio por ser também o período em que se estreavam algumas das grandes figuras que vieram este ano à maior prova nacional de ténis mas foi aí que se começou a desenhar algo que se tornaria histórico. Logo nessa fase, João Sousa, em dupla com o uruguaio Pablo Cuevas, afastou os segundos cabeças de série do quadro, os australianos Matthew Ebden e Max Purcell, ao passo que Nuno Borges e Francisco Cabral, os dois outros portugueses em competição, ganharam aos terceiros cabeças de série, o croata Ivan Dodig e o norte-americano Austin Krajicek (primo do antigo campeão neerlandês de Wimbledon, Richard).

Borges e Cabral consideram “estreia no ATP especial” com “final em casa”

Sousa e Cuevas não conseguiram dar continuidade a esse triunfo inicial. Nuno Borges e Francisco Cabral seguiram o seu caminho. E a tal história foi mesmo feita. Pelo menos um primeiro capítulo. E este domingo surgia a oportunidade da primeira vitória de sempre de uma dupla nacional no quadro de pares.

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Após afastar os norte-americanos Nathaniel Lammons e Tommy Paul, a dupla portuguesa teve mais uma tarde de sonho no Estoril ao afastar nas meias-finais os primeiros cabeças de série do torneio, o britânico Jamie Murray (irmão do antigo vencedor de Wimbledon, Andy) e neozelandês Michael Venus. Para se ter noção do feito, Murray já venceu o Open da Austrália e o US Open em pares – além de ter cinco Grand Slams de pares mistos e uma Taça Davis –, ao passo que Venus venceu Roland Garros e foi no ano passado medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Tóquio. E o triunfo não deixou margem para dúvidas, com os parciais de 6-2 e 6-4 depois de terem cedido sempre um set nos triunfos anteriores.

“É um sentimento inacreditável, muito especial por ser a nossa estreia ATP. A nossa primeira final vai ser em casa. Esperemos que corra bem. Fizemos um grande jogo, foi um dos três melhores jogos que fizemos. Servimos bem, respondemos bem, jogámos bem à rede. Isso complicou-lhes um bocadinho a vida, apesar de o encontro ter sido longe de ter sido fácil. Não estava de todo à espera desta evolução, acho que é uma grande conquista da minha parte e da dele também, porque muitas das minhas conquistas são com ele. Só tenho de estar feliz e continuar porque da maneira como me sinto a jogar, não quero colocar nenhum limite”, referiu Francisco Cabral, que na próxima semana vai entrar no top 100 mundial de pares.

“O resultado pode enganar muito e nos pares é mesmo assim, dois ou três pontos de ouro fazem parecer o resultado assim mais desequilibrado. Mas o jogo foi complicado do início ao fim e fechar o encontro, com os nervos, é sempre mais complicado. E, claro, eles têm muita experiência, já sabíamos disso. Sabíamos que tínhamos de estar a jogar o nosso melhor e, felizmente, conseguimos fazer um grande jogo e sair daqui com uma vitória muito boa, num local muito especial, num torneio gigante”, destacou Nuno Borges, 127.º do ranking mundial de pares e 131.º em singulares que perdeu com Frances Tiafoe na segunda ronda.

Faltava apenas mais um passo para a história, num encontro contra o argentino Max González e o sueco Andre Goransson que contou também com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que não tendo previsto na agenda a passagem pelo Estoril quis comprar bilhete e assistir à partida nas bancadas. E vibrou como todos os presentes com aquela que foi uma exibição talvez ainda melhor do que as anteriores, sobretudo com Francisco Cabral a um nível monstruoso no court principal: depois de terem conseguido resolver o primeiro set com dois breaks seguidos que deram a vitória por 6-2, Nuno Borges e Francisco Cabral voltaram a fechar os seus jogos com grande segurança e sem concederem sequer a possibilidade de haver discussão nas vantagens, quebrando o serviço para o 3-1 e fechando com 6-3.

Com aquela que foi a 30.ª vitória nos últimos 31 jogos realizados, a dupla portuguesa tornou-se apenas a segunda a ganhar torneios do ATP em pares depois dos triunfos de Emanuel Couto e Bernardo Mota em 1997 na Maia e em Casablanca, sendo também a primeira a chegar (e ganhar) à final de pares do Estoril Open. E como reflexo prático dessa semana de sonho, Francisco Cabral vai subir ao 80.º lugar do ranking de pares, um pouco à frente de Nuno Borges que somou mais pontos para subir nos singulares.