O primeiro relatório socioeconómico do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular, Norte de Portugal e Galiza quer “informar as decisões de futuro” e revela baixa produtividade e assimetrias territoriais, destacaram os responsáveis, na apresentação do documento esta segunda-feira.
A iniciativa surge da necessidade de “ter estudos rigorosos para que todos os decisores, quer políticos, quer das autarquias, comunidades regionais, tenham os dados para tomarem as decisões“, explicou Xoan Mao, secretário-geral do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular.
Este documento, “o primeiro deste género feito em conjunto entre dois países”, realçou o responsável, foi apresentado segunda-feira na sede da Associação Empresarial de Portugal, em Matosinhos, no distrito do Porto, e terá uma periodicidade anual.
O secretário-geral desta entidade revelou que a “assimetria da disponibilidade dos dados na Galiza e no Norte de Portugal” são um entrave à comparação direta entre os dois territórios, e atribuiu a “culpa” ao facto de haver regionalização em Espanha, e, por isso, os dados estarem mais atualizados.
Com a “economia como principal eixo”, o estudo que olha para a demografia, o contexto económico e empresarial, a inovação, o mercado de trabalho e o turismo das duas regiões revelou “baixa produtividade” e “assimetrias territoriais” dos dois lados da fronteira, frisou Lara Méndez, presidente do Eixo Atlântico.
Esta “fotografia social e económica” mostra as “semelhanças da Galiza com o Norte de Portugal”, onde há “duas velocidades — na frente atlântica e no interior”, considerou a presidente da Câmara de Lugo.
Numa altura em que as fragilidades destes territórios “pioraram com a pandemia [de Covid-19], e que não tendem a recuperar perante a situação bélica” na Ucrânia, o “aumento de gastos públicos” revelou-se essencial para o “esforço de contenção e de manter o tecido produtivo”, prosseguiu.
O investimento foi importante, mas não pode ser a única solução, não se pode manter estes gastos das administrações públicas locais”, avisou Lara Méndez.
É por isso que a responsável quer olhar para as “oportunidades que devem ser aproveitadas através de fundos europeus” e “fornecer infraestruturas de ligação para fazer o território produtivo”, bem como nas novas tecnologias.
Também o presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio, referiu os “dados preocupantes que atestam um menor desenvolvimento desta eurorregião e de muitas assimetrias dentro do território”, mas disse que este estudo é uma “fonte de esperança, porque há várias oportunidades de trabalho“.
Norte e Galiza devem cooperar em investigação e desenvolvimento
O Relatório Socioeconómico do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular reconhece a qualidade da investigação produzida no Norte de Portugal e na Galiza e sugere “cooperação nos domínios da investigação e desenvolvimento” entre as regiões.
Portugal e a região Norte afirmam-se “como polos de investigação de excelência”, adianta o documento, apontando para um número de publicações científicas em coprodução por milhão de habitantes de 145,08 no Norte e de 156,79 a nível nacional, em 2021, ambos acima da média europeia.
Também a Galiza surge “como um forte polo de investigação de relevo internacional”, mas com aumentos inferiores aos do Norte.
Este relatório destaca, por isso, “a oportunidade de cooperação nos domínios da investigação e desenvolvimento do conhecimento entre as regiões”.
O documento foi apresentado esta segunda-feira na sede da Associação Empresarial de Portugal, em Matosinhos, no distrito do Porto, e terá uma periodicidade anual.
No que respeita à proporção de indivíduos que participa em formações ao longo da vida, “os habitantes do Norte de Portugal necessitam de mais incentivos, dado que, desde 2014, a proporção apresenta-se inferior à média da UE e o distanciamento tem aumentado”, lê-se no documento, que revela uma tendência semelhante na Galiza.
Portugal está acima de Espanha na penetração de banda larga, mas ambos os países superam a média europeia.
“Desta forma, podemos considerar que a Península Ibérica pode ser encarada como um “hub” tecnológico com capacidade para instalação de empresas baseadas no digital, possuindo infraestruturas para suprir a procura de acesso à internet rápido”, revela o estudo.
Já no que toca a competências digitais para além do básico, “a partir de 2019, com os programas de desenvolvimento de competências digitais, o Norte do país conseguiu superar os valores médios da União Europeia, ficando ainda aquém do rácio para a generalidade do país”.
Comparando os dois territórios, “a Galiza apresenta uma maior proporção da população com competências digitais para além do básico do que a encontrada no Norte de Portugal, pelo que a região poderá ser considerada mais atrativa para empresas tecnológicas que necessitam de recursos humanos com competências digitais”, um princípio que se replica a nível nacional.
Tanto Portugal como Espanha têm um investimento público em investigação e desenvolvimento (I&D) abaixo da média europeia, mas o Norte português aproxima-se mais da realidade europeia.
O mesmo acontece nos valores investidos em I&D pelas empresas, que se situa abaixo da média europeia, embora se destaque “o rácio manifestamente mais elevado na região Norte do que na globalidade do país”, e fazem mais “esforços de inovação que não pela via de I&D” do que no resto do país.
Já os empresários galegos apostam menos em I&D do que a média espanhola.
Ambas as regiões têm despesas de inovação por pessoa empregada “muito superiores” às médias dos seus países e europeia.
Portugal ultrapassa Espanha na percentagem de pequenas e médias empresas (PME) que introduzem processos de inovação, estando ambas as regiões analisadas abaixo da sua respetiva média nacional, sendo que a espanhola está abaixo da europeia.
O Norte, como o país, mostra “valores bastante diminutos” na “percentagem da população empregada em atividades de conhecimento intensivo, face à totalidade empregue”.
Portugal exporta uma maior percentagem de produtos intensivos em conhecimento face ao total de serviços quando comparado com Espanha e ambos os países apresentam uma menor percentagem quando comparados com a média da UE.