“O nosso governo falhou na proteção de Mariupol” e, nos últimos 8 anos, “houve muitos governantes que sabotaram a defesa” contra uma guerra que “sabíamos que viria”, criticam os membros do batalhão Azov, uma unidade paramilitar que tem sido fundamental na resistência ucraniana em Mariupol e que se acredita ter ligações à extrema-direita. Dois líderes dos Azov deram uma videoconferência onde dizem chorar “lágrimas de alegria” por ver os civis retirados da fábrica Azovstal – uma operação onde morreram dois resistentes e seis ficaram feridos.
“Este é o preço que pagámos pela evacuação“, afirmou um dos comandantes dos Azov, de acordo com a transcrição e tradução feita por Katerina Sergatskova, diretora do Zaborona Media, um órgão de comunicação independente. Sviatoslav Palamar, um dos dois líderes dos Azov que estiveram nessa videoconferência, através da plataforma Zoom, garantiu que os resistentes que continuam em Mariupol, incluindo na fábrica Azovstal, “vão continuar a lutar enquanto estiverem vivos, para repelir os ocupantes russos“.
Palamar pediu, também, que com a máxima urgência sejam criadas condições, pela comunidade internacional, para retirar combatentes feridos: “não temos muito tempo, estamos a ser bombardeados com intensidade cada vez maior“.
Para já, a boa notícia é que os civis terão sido todos retirados da fábrica. Isto embora o comandante diga não ter a certeza de que será mesmo assim: “Não sabemos se toda a gente foi retirada“, afirmou, acrescentando com algum desdém que “até agora, só sabemos que os políticos dizem que foi um sucesso“.
Pegando nessa ponta, os jornalistas que estiveram na videoconferência questionaram os comandantes sobre se têm tido o apoio suficiente por parte do governo ucraniano. Recuando um pouco na história recente, Palamar disse que “muitos governantes estão há oito anos a sabotar a defesa ucraniana. Toda a gente interferiu, nós sabíamos que uma grande guerra com a Rússia estaria iminente, e preparámo-nos”.
Não recebemos [mísseis] Javelin nem veículos, conseguimos tudo pelos nossos próprios meios: informação, munições, etc…”
Os Azov classificam-se a si próprios como um “grupo paramilitar” – “radicais” só na forma como são descritos, dizem, no Ocidente e pela propaganda russa. “Só somos radicais na forma como defendemos o nosso país“, afirmaram os líderes, acrescentando: “E não recebemos qualquer ajuda, nem artilharia nem meios aéreos. Fomos deixados sozinhos durante oito anos”.
Resistente ucraniano do Azov envia vídeo ao Observador e desmente Putin: “Mariupol não foi dominada”
Os resistentes deixaram, ainda, um aviso para quem está noutros países geograficamente próximos. “Nós estamos a lutar por um mundo livre. Se a Rússia conseguir afundar a Ucrânia – e Mariupol é o principal foco desta guerra – os russos irão mais longe, depois: para a Polónia, para os países bálticos…”
“A rendição não é uma opção porque a Rússia não está interessada na nossa vida. Eles não querem saber se ficamos vivos”, afirmou o oturo membro batalhão que participou na videoconferência, Ilya Samoïlenko. “Nós somos as testemunhas dos crimes de guerra cometidos pela Rússia”, vincou o soldado.