O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, vai reunir-se segunda-feira de emergência com líderes políticos da Irlanda do Norte, para tentar romper o impasse político causado por divergências sobre os acordos comerciais pós-Brexit.
Boris Johnson vai urgir os partidos em Belfast para que restaurem as instituições de poder, nomeadamente a Assembleia e o governo regionais, e resolverem os problemas mais urgentes das pessoas, como o aumento do custo de vida e as listas de espera nos hospitais.
O líder do Partido Conservador também responsabiliza a União Europeia (UE) por recusar ceder nas negociações para aliviar os controlos aduaneiros pós-Brexit previstos pelo Protocolo da Irlanda do Norte do Acordo de Saída do Reino Unido da UE.
O Protocolo da Irlanda do Norte não será descartado, prometeu Boris Johnson, mas deve ser refeito substancialmente, defendeu segunda-feira, num artigo para o jornal Belfast Telegraph.
“Espero que a posição da UE mude. Se isso não acontecer, haverá uma necessidade de agir”, escreveu, prometendo anunciar “os próximos passos ao Parlamento nos próximos dias”.
Boris Johnson defende que o texto precisa de ser refeito para proteger os princípios do acordo de paz de 1998 para a região por causa da instabilidade que causou.
O Partido Democrata Unionista (DUP), que perdeu a posição de partido maioritário na Assembleia para o rival Sinn Féin nas eleições de 5 de maio, bloqueou na semana passada a restauração do Parlamento e recusa formar a coligação necessária para viabilizar um governo.
Os unionistas argumentam que o Protocolo põe em causa a posição da província no Reino Unido pois está sujeita a regras da UE e a controlos e documentação adicionais a bens que chegam da Grã-Bretanha (Inglaterra, País de Gales e Escócia).
“Não há como disfarçar o fato” de que o delicado equilíbrio do Acordo foi perturbado pelo Protocolo, porque uma vertente do Acordo (Norte-Sul) prevaleceu sobre a outra (Leste-Oeste), refere, num comunicado emitido no fim de semana.
Esta situação “corroeu os laços económicos históricos que ligam a Grã-Bretanha e a Irlanda do Norte e fez com que a comunidade unionista se sentisse ameaçada nas suas aspirações e identidade”, vincou.
Um Protocolo alterado deve ter “o mais amplo apoio possível” entre unionistas e entre republicanos, nomeadamente o Sinn Féin.
A Irlanda do Norte é a única região britânica que faz fronteira com a UE. Quando o Reino Unido deixou o bloco, em 2020, foi feito um acordo para manter a fronteira terrestre irlandesa livre de postos alfandegários e outros controlos porque uma fronteira aberta é um pilar fundamental do processo de paz que acabou com décadas de violência na Irlanda do Norte.
A solução foi estabelecer controlos de alguns bens, como carne e ovos, que entram na Irlanda do Norte vindos do resto do Reino Unido.
A imprensa britânica noticiou na semana passada que o governo britânico pretende introduzir legislação com poderes para revogar partes do Protocolo, mas que existe resistência de alguns ministros devido a uma retaliação da UE que resulte numa “guerra comercial” numa altura de crise económica.
A Comissão Europeia criticou o Reino Unido por “enveredar pelo caminho da ação unilateral” , exortando o Executivo britânico a manter negociações com Bruxelas.