As obras de alteração na ciclovia da Avenida Almirante Reis, em Lisboa, podem custar até 400 mil euros, segundo a proposta revelada esta segunda-feira por Carlos Moedas aos vereadores da autarquia. No entanto, se a obra de facto for em diante, aquela que é uma das principais artérias da cidade vai voltar a ser intervencionada em setembro por causa das obras do plano geral de drenagem, num projeto que vai estender-se por, pelo menos, dois anos.

Na proposta para a ciclovia da Almirante Reis agora apresentada, Carlos Moedas diz que a intervenção se caracteriza “pela simplificação na sua execução, a qual implicará a raspagem de pintura e repintura, remoção e instalação de balizadores e alteração da localização de ‘ilhas’ para implantação dos semáforos”, considerando que a implementação da solução transitória para a ciclovia da Almirante Reis tem “custos reduzidos à sua implementação” e que “obedece a critérios de racionalidade da despesa pública”.

Mas nada garante que a obra na ciclovia de Almirante Reis vá de facto acontecer. Esta manhã, era esperado que a proposta do Bloco de Esquerda, que prevê uma consulta pública e a realização de estudos para a intervenção na ciclovia, fosse votada em reunião de Câmara. Todavia, Carlos Moedas preferiu antes fazer chegar aos vereadores detalhes sobre o projeto que está já em andamento na Almirante Reis, o que motivou o adiamento da decisão — nem o projeto de Moedas foi aprovado, nem a consulta pública proposta pelo Bloco foi votada.

Segundo fonte do Bloco de Esquerda, a escolha de Carlos Moedas tem sido a de “forçar” a execução de uma obra que a oposição já criticou abertamente: “[Moedas diz que] ou faz a obra e não há consulta pública; ou faz a consulta pública e não há obra. Tivemos o cuidado de retirar todas as referências da proposta que pudessem impedir a obra, não é impeditiva”, queixa-se um representante autárquico bloquista.

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A mesma fonte faz notar que quer a proposta de Carlos Moedas, quer a proposta que o Bloco apresentou (também subscrita por Livre e Paula Marques) não funcionam por alternativa. “Ninguém proíbe o presidente de avançar com a obra”, diz fonte bloquista ao Observador. O objetivo do partido é garantir a realização de uma consulta pública e de estudos que sustentem a intervenção na Almirante Reis mesmo que só venham a ser conhecidos depois do início da obra.

De facto, o texto da proposta para uma consulta pública e realização de estudos que o Bloco de Esquerda apresentou não expressa a proibição de avançar com a obra. No entanto, Carlos Moedas fez saber rapidamente que votaria contra a proposta do Bloco de Esquerda e que, enquanto esta não fosse votada, as obras não avançariam. Da mesma maneira, caso fosse aprovada, Moedas deixou claro que pararia o que “estava a fazer”.

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Obras agora e… novamente em setembro. Por dois anos

Têm sido vários os pedidos dos vereadores da oposição para que o executivo disponibilize os documentos e estudos que sustentam a decisão tomada por Carlos Moedas. Esta segunda-feira, o autarca apresentou alguns dados adicionais e, inclusivamente, dois valores finais para a obra, que variam entre os 300 mil euros e os 400 mil euros.

No entanto, e esse foi um dado novo conhecido esta segunda-feira através da proposta de Moedas, dentro em breve parte da zona alvo de intervenção será novamente alterada: o plano geral de drenagem de Lisboa prevê obras com início já em setembro (e final só daqui a dois anos) precisamente na zona da Almirante Reis e da rua Antero de Quental.

A azul a zona da Almirante Reis que será alvo de intervenção entre julho deste ano e julho de 2024

Ciente dessa sobreposição de intervenções, na proposta Carlos Moedas declara que “o projeto de execução de alteração da pista ciclável foi articulado com o Plano Geral de Drenagem Geral de Lisboa (PGDL), cujo início das obras, naquele local, se encontra previsto para o próximo mês de setembro”, ainda assim a solução não impede que dentro de poucos meses naquele troço da ciclovia sejam feitas novas obras.

Ao Observador, fonte da autarquia admite uma “ligeira alteração enquanto decorrer a obra”. Este será apenas um dos pontos onde será instalado um dos estaleiros para a grande intervenção do Plano Geral de Drenagem da cidade de Lisboa. Ou seja: as obras arrancam agora e, em setembro, existirão novas intervenções numa das zonas da Avenida.

Em relação à proposta de Carlos Moedas e do Bloco de Esquerda, ambas serão votadas na “próxima reunião de câmara”. Caso não haja lugar a um agendamento extraordinário para votar esta matéria, a próxima reunião de câmara, ordinária, está agendada para o dia 8 de junho. Até lá, ao que o Observador apurou, o avançar das obras na ciclovia continuará suspenso.

Local da ciclovia da avenida Almirante Reis que será novamente alvo de obras a partir de setembro