5 de junho de 2019. No Estádio do Dragão, na primeira meia-final da Liga das Nações, Cristiano Ronaldo assinou um hat-trick contra a Suíça e levou Portugal para uma final onde acabaria por derrotar os Países Baixos e conquistar a edição inaugural da competição. 5 de junho de 2022. No Estádio José Alvalade, na fase de grupos da Liga das Nações, Cristiano Ronaldo voltava a encontrar a Suíça. Mas o contexto, três anos depois, era algo distinto.

O capitão da Seleção Nacional voltava ao onze inicial depois de ter sido suplente contra Espanha, entrando apenas na segunda parte, e à procura de quebrar um jejum de golos por Portugal que já dura desde outubro do ano passado — entre cinco jogos e 388 minutos, algo que já é a maior seca desde 2012, há uma década. Depois de uma época pouco feliz no Manchester United e com o futuro ainda algo indefinido, Cristiano Ronaldo tinha a oportunidade de voltar a brilhar contra a Suíça para esquecer as exibições menos conseguidas.

Ficha de jogo

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Portugal-Suíça, 4-0

Fase de grupos da Liga das Nações

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Orel Grinfeld (Israel)

Portugal: Rui Patrício, João Cancelo, Pepe, Danilo, Nuno Mendes, Otávio (Rafael Leão, 77′), William Carvalho (Matheus Nunes, 84′), Rúben Neves (João Palhinha, 77′), Bruno Fernandes (Bernardo Silva, 67′), Cristiano Ronaldo, Diogo Jota (Ricardo Horta, 67′)

Suplentes não utilizados: Rui Silva, Diogo Costa, Diogo Dalot, Domingos Duarte, Raphael Guerreiro, João Moutinho, André Silva

Treinador: Fernando Santos

Suíça: Kobel, Mbabu, Frei, Schär, Rodríguez (Okafor, 62′), Sow (Gavranovic, 81′), Xhaka, Steffen, Shaqiri, Lotomba, Seferovic (Embolo, 62′)

Suplentes não utilizados: Omlin, Mvogo, Widmer, Freuler, Bottani, Comert, Aebischer

Treinador: Murat Yakin

Golos: William Carvalho (15′), Cristiano Ronaldo (35′ e 39′), João Cancelo (68′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Schär (14′), a Bruno Fernandes (32′), a Steffen (49′), a Embolo (79′)

Ora, para além de Ronaldo e contra os suíços, também Rui Patrício voltava às opções iniciais de Fernando Santos que nas últimas partidas tem apostado em Diogo Costa na baliza. Nuno Mendes, William Carvalho, Rúben Neves e Diogo Jota também eram novidades em relação ao jogo contra Espanha, na quinta-feira, em detrimento de Raphael Guerreiro, João Moutinho, Bernardo, André Silva e Rafael Leão. Do outro lado, Seferovic era titular no ataque da Suíça, com o selecionador nacional a garantir que os jogadores portugueses estão preparados para esta rotatividade.

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“As rotações incluem tudo. Tenho 26 jogadores disponíveis e todos têm a minha confiança. Não tenho aqui jogadores só para olhar, comer, dormir e treinar. Isso depois depende das minhas opções”, disse Fernando Santos na antevisão da partida, com Portugal a entrar em campo depois de um empate frente a Espanha e em igualdade pontual com os espanhóis no Grupo 2 da Liga A da Liga das Nações, onde a República Checa era líder e a Suíça não tinha pontos conquistados.

A equipa de Murat Yakin sofreu uma baixa de última hora, com Vargas a sair lesionado do aquecimento e a ser substituído por Lotomba no onze inicial. O jogo começou algo atribulado, sem grandes orientações táticas e sem que uma das equipas assumisse um verdadeiro ascendente, ainda que fosse possível perceber que Portugal iria apostar bastante no contra-ataque. Seferovic colocou a bola dentro de uma das balizas pela primeira vez, ao rematar na sequência de um ressalto após um canto, mas o VAR acabou por anular o golo do avançado do Benfica por mão na bola de Schär (5′).

Com a partida mais entrosada e a Seleção Nacional a assumir naturalmente a dianteira das ocorrências, principalmente a partir de uma pressão eficaz ao portador da bola e da velocidade injetada nos corredores, o golo acabou por aparecer. Ronaldo bateu um livre à entrada da grande área, Kobel defendeu para a frente e William, na recarga, só teve de encostar (15′). A Suíça procurou reagir à desvantagem, com Shaqiri a rematar por cima (25′) e à figura de Rui Patrício (31′), mas Portugal criava sempre mais perigo quando se aproximava da baliza adversária. Otávio teve uma grande oportunidade para marcar, acabando por atirar ao lado (33′), mas o segundo golo já não demorou a aparecer.

Num lance brilhante de transição ofensiva, Otávio desviou de cabeça para soltar Bruno Fernandes na direita, o médio do Manchester United colocou em Jota na grande área e o avançado temporizou para esperar por Ronaldo, que atirou de primeira para aumentar a vantagem e acabar com o jejum que durava desde outubro (35′). A Suíça desorganizou-se por completo a partir deste momento e tornou-se totalmente permeável aos contra-ataques portugueses sempre que avançava com a subida dos laterais. Jota podia ter marcado (38′) e Pepe acertou no poste (38′) mas o terceiro golo estava reservado para o do costume: Bruno Fernandes e Nuno Mendes desequilibraram na esquerda, Jota rematou para defesa de Kobel e Ronaldo, na recarga, não falhou (39′).

Portugal poderia ter chegado à goleada antes do intervalo, principalmente num lance em que Ronaldo falhou o hat-trick na cara de Kobel (42′), e a primeira parte terminou com a ideia clara de que a Seleção Nacional era inevitavelmente superior à Suíça — e de que os três elementos do meio-campo, Rúben Neves, Bruno Fernandes e William Carvalho, estavam a realizar exibições bastante acima da média.

Na segunda parte, de forma expectável, Portugal começou a gerir a confortável vantagem com bola e muita tranquilidade, acalmando o ritmo da partida e tendo na Suíça um adversário que também não causava muitos problemas. Ronaldo voltou a pôr a bola no fundo da baliza, numa recarga a uma defesa inicial de Kobel (51′), mas o lance acabou por ser anulado por fora de jogo de Bruno Fernandes no início da jogada. Murat Yakin foi o primeiro a mexer, ao trocar Seferovic e Rodríguez por Embolo e Okafor, e Fernando Santos respondeu pouco depois ao lançar Bernardo e Ricardo Horta para tirar Bruno Fernandes e Diogo Jota.

E Bernardo, numa das primeiras intervenções que teve na partida, empurrou Portugal para a goleada: Cancelo arrancou na direita, combinou com Bernardo e o médio do Manchester City tirou da cartola um passe perfeito para devolver ao lateral, que se antecipou à saída de Kobel e atirou para a baliza deserta (68′). Rafael Leão e João Palhinha entraram já no último quarto de hora, para as saídas de Otávio e Rúben Neves, e Ronaldo ia carimbando o hat-trick com um livre direto que o guarda-redes suíço defendeu em voo (83′).

Até ao fim, já pouco aconteceu. Portugal goleou a Suíça em Alvalade na segunda jornada da Liga das Nações e vai discutir a liderança do Grupo 2 da Liga A na próxima quinta-feira, contra a República Checa, que empatou com Espanha em Praga. Num dia em que Ronaldo ficou à beira de repetir o hat-trick de há três anos, em que os elementos do meio-campo foram cruciais e em que Cancelo esteve brilhante, o destino deu razão a Fernando Santos: eles não estão mesmo lá só para olhar, comer e dormir.