Com tudo em aberto para a segunda volta eleitoral que se realiza já daqui a uma semana, os resultados deste domingo suscitaram descontentamento entre a coligação de esquerda, que alcançou o segundo lugar nesta primeira volta, mas que segundo as primeiras sondagens ficaria na frente por uma curta distância. A NUPES, avança o Le Figaro, acusa o Ministério da Administração Interna de “manipular” os números para colocar na liderança a formação política de apoio ao presidente Emmanuel Macron, que somou 5.857.558 votos (25,75%), destacando-se a uma curta distância de 21.472 votos.

“Alerta nova manipulação. Apesar de a NUPES ter obtido 6.101.968 votos (ou 26,8%), o Ministério da Administração Interna concedeu-lhe apenas 5.836.202 votos (ou 25,7%) para mostrar artificialmente o partido de #Macron na liderança”, criticou no Twitter Manuel Bompart, membro do partido França Insubmissa e candidato da NUPES por Marselha.

Também a cara da NUPES, Jean-Luc Mélenchon, tem criticado, nas suas redes sociais, os resultados apurados pelo ministério do Interior, dando exemplos de “manipulações de resultados”. Por exemplo, retrata o caso de Jean-Hugues Ratenon, que esteve no grupo parlamentar do França Insubmissa durante a última legislatura e que não é considerado como integrando a gerigonça.

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A disparidade de interpretações prender-se-á com os candidatos dos 12 territórios ultramarinos (e a forma como terão sido, ou não, associados à coligação e, agora, excluídos da contabilidade). Já na manhã desta segunda-feira, citado pela France Info, o Ministério da Administração Interna responsabilizou por omissão a gestão da campanha da NUPES, liderada por Jean-Luc Mélenchon, que por email, a 8 de junho, “listou todos os candidatos a quem seria apropriado associar o seu nome à coligação NUPES [Nouvelle Union populaire écologique et sociale]”. “Nesta lista, por mais completa que fosse, não havia candidatos lá fora. Esses candidatos também não aparecem no seu site oficial”.

O ministério sustenta ainda que “o mesmo tratamento foi aplicado à maioria presidencial”, com as mesmas nuances da representação a serem observadas em casos como o de Damien Abad (atual ministro da Solidariedade do governo de Élisabeth Borne e que segue na frente da corrida em Ain), que “podemos legitimamente pensar que é apoiado pelo Ensemble!, e é contabilizado também em ‘diferentes direitas’ — por outro lado, alguns candidatos inicialmente investidos pela aliança de esquerda acabaram por recusar o apoio da NUPES e, portanto, foram classificados como “diferentes esquerdas”.

Macron ganhou, mas Mélenchon acabou vencedor. Na primeira volta das legislativas francesas, quem foram os vencedores e os vencidos?

“É uma trapaça”, insistiu aos microfones da France Info o ecologista e eurodeputado David Cormand. “Fizeram uma conta de merceeiro ao não contarem todos os eleitores que votaram NUPES, especialmente nos territórios ultramarinos, onde os partidos foram designados pelo seu rótulo original (socialistas, ecologistas…) ou como sendo “várias esquerdas”, apontou.

Ainda sobre as acusações de manipulação dos resultados nas eleições legislativas, o ministro das Finanças acusou a NUPES de questionar “sistematicamente todos os números”. “Sejam os da eleição presidencial, os de crescimento ou desemprego, é uma especialidade da casa”, rebateu Gabriel Attal.

Por sua vez, Marine Le Pen, candidata da extrema-direita, criticou os “lamentos” de Jean-Luc Mélenchon, acusando a NUPES de ser uma “oposição de cartão”.

Ainda antes dos resultados finais, a primeiras sondagens divulgadas este domingo na sequência da primeira volta das legislativas, indicavam que a coligação liderada pelo partido do Presidente francês, Ensemble!, voltaria a ganhar as eleições, mas teria dificuldades em alcançar os 289 deputados necessários para conseguir uma maioria absoluta na Assembleia Nacional, a câmara baixa do parlamento de França. Depois de Macron e da NUPES, a União Nacional, o partido de extrema-direita de Marine Le Pen, garantiu o terceiro lugar, com 4.248.573 votos (18,68%). Seguiu-se a Coligação de Centro-Direita, com 2.370.882 dos votos (10,42%), e o partido de extrema-direita de Éric Zemmour, Reconquista, com 964.865 votos. Atingindo um valor histórico, a abstenção situou-se nos 53%.