A Ordem dos Médicos pediu dados atualizados ao Governo sobre a assistência à gravidez e ao parto e da mortalidade materna e perinatal, por considerar que é importante saber o está a acontecer, avançou este domingo o bastonário à Lusa.

“Precisamos de saber os dados sobre a maternidade materna e perinatal, o número de internamento em cuidados intensivos de grávidas e recém-nascidos, partos fora do hospital, partos no domicílio, taxas de cesarianas, partos instrumentados, episiotomia”, disse Miguel Guimarães, adiantando que enviou no domingo um ofício à ministra da Saúde com sugestões de medidas a tomar no imediato e a médio prazo para “tentar ajudar a resolver a situação” nesta área.

Na seu entender, são “dados importantes” para compreender as causas do aumento da mortalidade materna e perinatal. “Será que é por causa destas questões das equipas não estarem adequadas? Será que estão a fazer cada vez mais partos em casa e há mais complicações porque alguns complicam e enquanto as parturientes chegam e não chegam aos hospitais acontecem situações dramáticas?”, questionou.

“Isto tem que ser estudado (…) porque é importante para a estratégia que se possa definir”, disse o bastonário, adiantando que irá expor esta situação numa reunião convocada para este domingo pela ministra Marta Temido, que considerou um “passo importante” o facto de querer ouvir as entidades e os profissionais que estão no terreno.

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Salientou a importância de programas de recuperação de listas de espera, incluindo consultas e ecografias, alertando que há vários hospitais que suspenderam as ecografias do segundo trimestre porque não têm capacidade para as fazer e começam a ir para o setor privado.

Por outro lado, os hospitais devem ter “autonomia e flexibilidade na gestão” para poder contratar rapidamente especialistas para o SNS, evitando que tomem outras opções.

Também “é fundamental” a aplicação prática das carreiras médicas e que os concursos existam e sejam feitos de forma “mais rápida, mais flexível e até pelos próprios hospitais”, bem como a reavaliação da carta hospitalar, porque “a forma como estão organizados os serviços de saúde, as urgências, etc. se calhar precisa de ser vista também de uma forma global, não especificamente na parte de obstetrícia”.

A questão das horas extraordinárias também tem de ser alterada, assim como os salários que devem ser equivalentes àqueles que se praticam na Europa, tendo em conta o Produto Interno Bruto (PIB) de cada país.

“Eu não posso pagar aos médicos que fazem horas extraordinárias (…) de forma diferente e de forma muito mais baixa do que aquilo que pago aos tarefeiros que fazem prestações de serviços”, salientou, elucidando que um médico tarefeiro ”ganha cerca de quatro vezes mais do que um médico que veste a camisola do SNS todos os dias”.

“Isto obviamente que não é motivador e tem que ser alterado”, vincou.

Por fim, apontou a possibilidade de prestação de serviço por médicos reformados, que já demonstraram interesse em colaborar, fazendo urgências, mas não podem legalmente. Contudo, frisou, “o Ministério da Saúde pode fazer com que possam”.

Miguel Guimarães avançou ainda que está em cima da mesa a hipótese de fazer uma auditoria clínica ao hospital das Caldas da Rainha, onde uma grávida perdeu o bebé, para perceber as causas da situação, “que seguramente não tem a ver com os médicos”.

“Já sei exatamente o que aconteceu, mas é importante perceber se todos os processos e procedimentos necessários nessa altura foram respeitados”, explicou.

Anunciou também que a OM vai fazer visitas a três unidades hospitalares, um no Norte, outra no Centro e outra no Sul do país.

Ordem critica Ministério da Saúde por incapacidade de contratar jovens médicos

A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos criticou ainda este domingo “a incapacidade do Ministério da Saúde” de contratar os 1.212 médicos recém-especialistas que aguardam a publicação do mapa de vagas, três meses após concluírem o internato.

Em comunicado, a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) alertou que “são três meses de indefinição por parte da tutela, com consequências dramáticas nos recursos humanos do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.

O presidente da SRCOM, Carlos Cortes, contou que, “na região Centro e no resto do país, são notórias as dificuldades que o SNS está a atravessar, nomeadamente em recursos humanos médicos”.

“É urgente contratar os 1.212 médicos que aguardam que seja desencadeado o processo de colocação de especialistas que fazem falta aos hospitais e centros de saúde”, defendeu.

No seu entender, “o Ministério da Saúde tem sido o principal obstáculo à resolução dos problemas do SNS, por inação e incapacidade de reação, até porque, para além dos atrasos na contratação de médicos especialistas, há outra preocupação a ter em conta: a distribuição das vagas pelo país”.

Carlos Cortes considerou que essa distribuição tem sido feita “ignorando a disponibilidade dos médicos para se fixarem em áreas e locais considerados carenciados”.

“Nos anos anteriores, o ministério abriu vagas onde não havia médicos interessados e, em simultâneo, não as abria em locais carenciados nos quais médicos já tinham mostrado disponibilidade para exercer”, lamentou.

Para o responsável, “é inconcebível esta inércia do Ministério da Saúde” e, “em resultado desta indefinição, muitos jovens especialistas acabam por desmoralizar e tentar outras vias para além do Serviço Nacional de Saúde”.

Segundo a SRCOM, dos 1.212 médicos para contratar, há 332 médicos de família, 147 internistas, 71 anestesiologistas, 26 ginecologistas/obstetras, 29 cirurgiões gerais, 21 médicos de saúde pública, 25 pneumologistas, 21 intensivas, 61 pediatras, 15 infeciologistas, 25 neurologistas, 21 oftalmologistas e 51 psiquiatras, entre outras especialidades.

Estes jovens médicos aguardam a abertura do concurso desde a conclusão das provas referentes ao exame para a obtenção do grau de especialista.

“O impacto negativo deste atraso é tremendo. Os doentes são os mais prejudicados. É uma situação intolerável e o que se passa, por exemplo, nas urgências hospitalares, é o resultado de falta de planificação e na incúria gestão de recursos humanos”, criticou Carlos Cortes.

Neste âmbito, exortou o Ministério da Saúde a resolver “este inadmissível atraso, fazendo o trabalho que lhe compete”.