O diretor-geral da Easyjet lamenta a paragem de três anos (durante a pandemia) nas obras estruturais de reforço da capacidade no aeroporto da Portela. Quando surgiu a dúvida sobre a solução aeroportuária prevista para o Montijo “parou tudo”, sublinhou José Lopes em declarações ao Observador, à margem de uma conferência de imprensa realizada esta terça-feira em Lisboa, sobre a conquista de 18 slots à TAP no aeroporto de Lisboa.

Easyjet. Slots conquistados à TAP são a última oportunidade para crescer em Lisboa

Apesar de reconhecer que na Europa ninguém fez investimentos, no caso de Portugal e do aeroporto de Lisboa “custa compreender”, porque, independentemente da solução ser a Portela mais Montijo ou o Campo de Tiro de Alcochete, o atual aeroporto tem de crescer até que essa solução esteja operacional, o que pode demorar cinco a dez anos. “Se não crescer estamos a dar um tiro no pé da nossa economia, Lisboa é o maior mercado do pais.”

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Neste contexto de forte recuperação da aviação comercial, o responsável da companhia, que espera vir a ser a segunda maior no aeroporto de Lisboa, admite ainda que o Campo de Tiro de Alcochete pode ser a melhor solução porque “reduz a complexidade ao sistema”, face à solução dual que esteve prevista até 2021 da Portela mais Montijo. As duas soluções vão ser objeto de uma avaliação ambiental estratégica que as vai comparar para propor a melhor.

Mesmo num mundo perfeito, em que todos os investimentos seriam feitos para levar a Portela ao limite, seria sempre finito. Vai chegar um momento em que a Portela vai ser como Orly (aeroporto de Paris). Quem quer crescer terá de sair do aeroporto principal e crescer longe e um “split (divisão) operacional é o pior que há, é ineficiente”.

José Lopes defende para Lisboa o que foi feito em Berlim que acabou com a solução dual para ter um aeroporto único que possa responder às novas necessidades criadas pelas companhias low-cost e não são acauteladas pelas atuais infraestruturas. “Era importante avançar com um projeto feito de raiz, que levasse em conta estas especificidades operacionais que são difíceis de implementar em infraestruturas já existentes, e que permita aglomerar os vários meios de transporte que permitam um hub de conetividade e que tenha presente a sustentabilidade”.

Neste quadro, um aeroporto (complementar ou principal) no Montijo seria “difícil” porque “já estamos a trabalhar em cima de uma base militar, de uma pista que está lá e que já tem muitas limitações e condicionantes”. O diretor-geral da Easyjet reconhece que é uma “decisão política à qual nos vamos adaptar”, mas não é a solução ideal em termos de perspetiva de país porque um aeroporto é uma infraestrutura nacional de longo prazo. Devíamos ter a visão daqui a 60 ou 80 anos de que infraestrutura nos dá garantia de crescer e ter um serviço de qualidade.”

É claro que terá de haver um racional económico para a concessionária porque implica desativar a Portela, mas isso pode ser feito com a extensão do contrato de exploração aeroportuária. A ANA tem uma concessão de 50 anos que não estabelece obrigação de construir um novo aeroporto.

José Lopes já tinha lamentado o atraso na execução de projetos como a nova saída de aviões e a contratação do sistema de controlo aéreo que a NAV só agora vai realizar, considerando que se “perdeu a oportunidade de acelerar esses investimentos durante a pandemia”. Numa altura em que se volta a falar da saturação no aeroporto de Lisboa e da recusa de voos, o diretor-geral da Easyjet dá o exemplo do sistema da NAV (Navegação Aérea) que só vai ser implementado em setembro/outubro, o que obrigará a reduzir a capacidade durante sete a nove semanas, afetando ainda o final do verão.

Esta situação foi explicada pela NAV com o facto de o projeto estar encadeado com outros sistemas e controlo aéreo na Europa, o que não permitia avançar antes, mas o diretor-geral da Easyjet afirma que todos estes projetos “deviam ter sido puxados para trás”.