Pelo menos três pessoas morreram, incluindo uma mulher grávida, na sequência de um novo ataque de rebeldes, na noite de domingo, na comunidade de Mihecani, no distrito de Ancuabe, sul de Cabo Delgado, apurou esta segunda-feira a Lusa junto de fontes locais.

“Eles entraram na aldeia por volta das 21h00 [menos uma em Lisboa] e estavam a rezar como se fossem muçulmanos. Nós até desconfiámos, mas já era tarde e algumas pessoas foram encontradas de surpresa”, disse à Lusa um residente da aldeia que conseguiu fugir para a sede do distrito de Ancuabe.

Além de matar três residentes locais, entre os quais uma mulher grávida, os rebeldes incendiaram várias residências, provocando a fuga de dezenas de pessoas.

Este é o segundo ataque terrorista à comunidade de Mihecani em menos de duas semanas, segundo relatos de uma outra fonte que procurou refúgio na comunidade de Sunate, a 33 quilómetros da sede do distrito de Ancuabe.

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“A população estava convencida de que não voltariam a atacar porque as Forças de Defesa e Segurança têm intensificado ações de patrulhamento”, declarou fonte que fugiu na primeira incursão dos rebeldes.

Os novos ataques na faixa sul da província começaram no dia 5 de junho e visavam pontos recônditos do distrito de Ancuabe, a 100 quilómetros da capital provincial (Pemba), tendo as incursões provocado pânico também em alguns distritos próximos, nomeadamente Metuge, Mecúfi e Chiure, segundo informações avançadas pelo governo provincial.

As incursões de rebeldes no sul da província provocaram mortes em número por determinar e uma nova vaga de cerca de 17 mil deslocados, além do impacto na atividade económica da região.

Suspeita-se que as ações registadas em diferentes locais do distrito de Ancuabe sejam desencadeadas por rebeldes em fuga da ofensiva militar que está em curso desde julho de 2021, com apoio internacional, no extremo norte de Cabo Delgado (distritos de Palma, Mocímboa da Praia e Muidumbe), na zona dos projetos de gás.

No domingo, a Polícia da República de Moçambique (PRM) anunciou a detenção de duas pessoas suspeitas de simular novos ataques no distrito Ancuabe, alertando para o registo de casos de indivíduos que simulam novas incursões para saquear bens.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural e vive aterrorizada, desde 2017, por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

Há 784 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda, a que se juntou, depois, a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, mas a fuga destes tem provocado novos ataques noutros distritos usados como passagem ou refúgio temporário.