O Banco Central Europeu (BCE) está a estudar formas de evitar que o setor bancário europeu consiga obter lucros excessivos nos próximos anos, à medida que as taxas de juro sobem. Uma estimativa do Morgan Stanley diz que, dependendo da intensidade da subida dos juros, os bancos podem lucrar até 24 mil milhões de euros simplesmente depositando no BCE os empréstimos pandémicos que o mesmo banco central lhes deu (com juros mínimos) e recebendo de volta juros mais elevados, embolsando a diferença.
O Financial Times noticia, esta segunda-feira, que ao mesmo tempo que prepara a primeira subida das taxas de juro desde 2011 – que será anunciada a 21 de julho – o BCE está a planear formas de, tecnicamente, evitar que os bancos consigam obter um juro mais elevado se depositarem no banco central a liquidez que obtiveram a taxas subsidiadas.
Estão em causa 2,2 biliões de euros, no total, em empréstimos que o BCE fez no pico da pandemia e que tiveram como objetivo assegurar liquidez a juros ultra-baixos e contribuir, assim, para que mais crédito chegasse às economias. O risco é que, com o BCE a anunciar que nos próximos meses irá subir as taxas de referência (incluindo a chamada taxa dos depósitos), os bancos possam voltar a aplicar essa liquidez no banco central, embolsando uma diferença favorável em juros.
O banco de investimento Morgan Stanley calculou que esses “lucros excessivos” podem oscilar entre 4 mil milhões de 24 mil milhões de euros, potencialmente, conforme o ritmo a que as taxas de juro aumentarem nos próximos trimestres. Alguns destes empréstimos foram concedidos a uma taxa de -1%, ou seja, o BCE na realidade pagou aos bancos para aceitarem essa liquidez, na condição de não diminuírem a carteira de crédito. Em contraste, a taxa dos depósitos está em -0,5% mas deverá sair de terreno negativo até setembro.
Segundo uma das três fontes citadas pelo Financial Times, o BCE reconhece que seria politicamente inaceitável que os bancos aproveitassem essa “arbitragem” proporcionada pelo banco central, lucrando a diferença nos juros entre os empréstimos obtidos e os depósitos feitos no BCE. Esses lucros excessivos poderiam depois, em teoria, suportar os proveitos das instituições financeiras, pagando maiores prémios aos executivos e distribuindo mais dividendos aos acionistas, um cenário que o BCE quer evitar.