A polémica em torno dos financiamentos ao ISCTE “não tem qualquer influência” no processo de candidatura à liderança do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), garante João Leão, numa entrevista ao jornal Público (e Renascença) onde o tema só aparece na última questão, apesar de ser a primeira grande entrevista ao ex-ministro das Finanças desde que a controvérsia surgiu. João Leão afirma, também, que a saída de António Ramalho “ajuda nos desafios que o Novo Banco enfrenta”.
“Não tem qualquer influência”, afirma João Leão, na entrevista publicada esta quinta-feira. O ex-ministro das Finanças considera que “nunca houve qualquer questão sobre o assunto e nós já expressámos todos esclarecimentos”, acrescentando: “Não tive qualquer intervenção sobre o assunto. Houve muitas entidades que foram financiadas pelo Ministério das Finanças”.
O ex-ministro das Finanças já tinha negado qualquer envolvimento no financiamento do ISCTE com 5,2 milhões de euros para um Centro de Valorização, do Conhecimento e Transferência Tecnológica. O antigo ministro passou diretamente para o lugar de vice-reitor da universidade, alguns dias depois de sair do Governo, e está a liderar o projeto.
Estavam a concurso cinco projetos, mas só o da universidade lisboeta recebeu luz verde do Governo. Numa audição parlamentar a 21 de junho, João Leão garantiu que não teve qualquer intervenção no financiamento do ISCTE. A 16 de junho, os ministros das Finanças do euro adiaram por falta de consenso a discussão sobre a nomeação do próximo diretor executivo do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), cargo ao qual concorre o ex-ministro João Leão.
António Ramalho “nem sempre tinha atitude fácil de dialogar”
O principal tema da entrevista foi o Novo Banco, com João Leão a considerar que o ex-CEO do Novo Banco “nem sempre tinha uma atitude fácil de dialogar e de comunicar. E até, de alguma forma, a saída dele ajuda nos desafios que agora o Novo Banco enfrenta”.
“Nem sempre a comunicação por parte do Novo Banco nos pareceu a mais adequada”, diz João Leão, acrescentando que “é nesse sentido que o NB devia, em particular, mostrar que está a fazer um esforço muito grande na valorização dos seus ativos, de rentabilizar o melhor possível os ativos que tem”. “Isso nem sempre foi bem comunicado e bem explicado. Devia ter sido feito um esforço maior nesse sentido”, critica João Leão.
O ex-ministro das Finanças considerou, também, exequível o aumento dos salários em 20% até 2026. “Penso que sim. Há aqui alguma incerteza sobre o efeito desta crise e da inflação” mas “é uma incerteza que aconselha alguma prudência na análise”.
“Mas temos condições de médio prazo muito favoráveis ao aumento dos salários, porque temos uma população mais qualificada, temos mais investimento e temos já um emprego já mais estabilizado”, afirma.