O embaixador da Argélia em Lisboa considerou em declarações à Lusa que o combate contra a imigração clandestina deve implicar uma “abordagem global” dos países envolvidos, e assegurou que fronteira do seu país é “altamente segura”.
O embaixador Abdelmadjid Naamoune reagia aos acontecimentos de Melilla, que provocaram dezenas de mortos e feridos quando centenas migrantes de origem africana tentaram entrar no enclave a 24 de julho, e exclui qualquer envolvimento do seu país nos incidentes.
“Estes migrantes foram violentamente reprimidos pelas forças de ordem presentes no local. Em reação, várias organizações internacionais (ONU, UA…) e ONGs expressaram a sua indignação, denunciando o uso desproporcionado da força pela polícia marroquina e solicitaram um inquérito sobre esta tragédia migratória”, indica no texto enviado à Lusa.
O diplomata recorda que o seu país, através do seu enviado especial, apelou às “instâncias internacionais e mais precisamente ao Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados para diligenciar inquéritos independentes e transparentes a fim de determinar as responsabilidades e esclarecer estes trágicos acontecimentos”.
Abdelmadjid Naamoune também contestou que a fronteira argelina constitua uma ponte de passagem de migrantes, como terá admitido recentemente o embaixador de Marrocos, Otmane Bahnini, num encontro com jornalistas na representação diplomática.
A fronteira argelina “é altamente segura através da implementação de dispositivos reforçados e eficientes que permitem controlar os fluxos migratórios e frustrar regularmente as tentativas de introdução de quantidades importantes de canábis provenientes das fronteiras a Oeste”, assegura.
Nas suas declarações à Lusa, Abdelmadjid Naamoune também destaca os esforços da Argélia no combate à imigração clandestina, através do “desmantelamento de várias redes de tráfico de seres humanos” que operavam nas suas fronteiras e costa marítima.
A Argélia continua totalmente disposta a coordenar e a colaborar com os seus parceiros europeus para uma melhor gestão dos fluxos migratórios através da troca de informações e partilha de experiências, sendo que uma abordagem global baseada na solidariedade é mais que necessária para enfrentar as causas profundas da emigração clandestina, no respeito total dos tratados internacionais e dos direitos humanos”, sublinha.
Neste sentido, o embaixador considera que o combate à imigração clandestina deve passar por “uma abordagem global de todos os países implicados neste fenómeno”, não deixando de sublinhar tratar-se “de uma problemática que incomoda seriamente diferentes países, nomeadamente os das duas margens do Mediterrâneo”.
Na perspetiva do representante diplomático de Argel, a resolução desta questão premente “necessita de uma coordenação de esforços entre os países de origem, os países de trânsito e os países de destino para alcançar soluções de fundo que consigam parar estas vagas de emigração”, através de programas de desenvolvimento e de crescimento económico, e a cooperação nos planos internacional, regional e bilateral “constitui uma garantia de sucesso na luta contra este fenómeno”.
Ainda numa referência à designada “posição hostil e permanente” que a Argélia diz ser alvo por parte de Marrocos, e que o embaixador terá detetado nas declarações do seu homólogo de Rabat, Abdelmadjid Naamoune salienta que “a Argélia desde a sua luta pela independência, trabalhou sempre pela construção magrebina e por um futuro próspero para os povos da região e não só”.
Neste sentido, insiste em recordar que “a decisão soberana” de Argel de romper as suas relações diplomáticas com Marrocos, em agosto de 2021, “interveio em resposta às múltiplas ações hostis e maliciosas levadas a cabo contra a Argélia desde há muito, independentemente de qualquer outro fator”.
Por fim, o embaixador argelino em Lisboa, após salientar a promoção pelo seu país de relações amigáveis baseadas no respeito mútuo, na cooperação e partilha de prosperidade, bem como no respeito pela legalidade e direito internacional”, considera a Argélia um “polo de estabilidade”, desempenhando “um papel responsável” ao nível da região da África do Norte, da Bacia do Mediterrâneo, do Sahel e de África em geral.
“Fiel ao princípio sacrossanto de apoiar ‘as causas justas’ no mundo, que marca a sua política externa desde a independência, a Argélia continua a defender, fervorosamente, as causas da Palestina e do Saara Ocidental bem como o seu direito inalienável à autodeterminação”, conclui o texto.