O sonho de Lu Araújo, criadora do MIMO Festival, nascido em 2004 na cidade brasileira de Olinda, de trazer o conceito para o Porto era antigo, já o tinha partilhado com o Observador em entrevista, mas só agora se concretizou. “Na verdade, quando quis internacionalizar o festival o Porto foi a primeira cidade em que pensei, na época cheguei a falar com o vereador Paulo Cunha e Silva, a coisa não se proporcionou, mas nunca deixei de sonhar com o Porto”, confessa.
Durante quatro edições, entre 2016 e 2019, o MIMO Festival ocupou a cidade de Amarante e as margens do rio Tâmega, mas a relação entre a promotora e a autarquia terminou em tribunal. Lu Araújo processou a Câmara Municipal de Amarante, coprodutora do evento, por incumprimento dos compromissos assumidos com o festival, após os cancelamentos ocorridos na sequência da pandemia. Ganhou o processo, mas afastou a possibilidade de a iniciativa regressar à cidade, tornando a vontade de estrear o conceito no Porto cada vez maior. “É o realizar de um dos meus grandes sonhos”, disse na apresentação oficial do evento, esta segunda-feira.
De 23 a 25 de setembro, o MIMO Festival irá ocupar 11 palcos distribuídos pelo centro histórico do Porto, “numa espécie de warm up do que poderão ser as próximas edições”. No palco principal, instalado no largo Amor de Perdição, irão atuar nomes como os brasileiros Emicida, Chico César ou Orquestra Voadora, a cantora e compositora franco-nigeriana Asha, o multi-instrumentista congolês Ray Lema ou os portugueses Branko, o pianista Pedro Burmester com o quarteto de Cordas de Matosinhos e a dupla Maria João e Mário Laginha.
Nas igrejas do Carmo, Carmelitas, Taipas ou São Bento da Vitória reinará a música clássica e instrumental com a atuações da pianista ucraniana Valentina Lisitsa, um fenómeno na internet, mas também de Nishat Khan, um tocador de sitar indiano que virá ao Porto pela primeira vez, ou a soprano brasileira Chiara Santoro, que apresentará um recital de celebração dos 200 anos da Independência do Brasil.
Outro momento que Lu Araújo destaca são os artistas da Amazónia que, em parceria com a Universidade do Porto e com o Museu de História Natural e da Ciência, irão protagonizar várias atividades que juntam a arte à tecnologia, como vídeo arte, vídeo mapping, projeções em árvores, palestras ou performances de nomes como Rafael Bqueer ou Uyúra Sodoma, traduzindo em diferentes linguagens a ideia do Planeta Terra como casa comum de todos os seres vivos.
Uma das novidades desta edição é a implementação na programação de um espaço inteiramente dedicado à cultura de Sound System, montado em pleno jardim das Virtudes, onde Channel One e Brother Culture, vindos do Reino Unido, prometem juntar sonoridades, do reggae ao hip hop, com vista para o rio Douro. Além dos concertos, alguns deles estreias mundiais, o MIMO Festival juntará workshops, exibição de filmes, uma chuva de poesia e palestras em 50 atividades paralelas a pensar em toda a família.
Para o autarca do Porto, Rui Moreira, este “é o maior evento de músicas do mundo que a cidade já recebeu”, realçando a sua gratuitidade e itinerância, mas também as várias nacionalidades presentes e o cruzamento de estilos musicais tão diferentes como o jazz, o pop, a Música Popular Brasileira ou o hip hop.
“O MIMO é um festival sem paralelo a nível nacional e internacional”, sublinhou Moreira. “Desde o fim da D’bandada que as pessoas do Porto estavam à espera de um festival desta natureza na cidade. O MIMO esteve em Amarante e muito bem, nunca pensaríamos ir cobiçar a Amarante o festival, mas quando soube que Amarante não queria prosseguir com o festival, falei com a Lu no final do ano passado.”