A estreia de Pedro Pablo Pichardo em provas internacionais por Portugal não tinha sido propriamente a melhor para um atleta com mentalidade de “ganhar, ganhar, ganhar”. Após ter ganho a Liga Diamante em 2018, chegava a Doha sabendo que os norte-americanos Christian Taylor e Will Claye (os mesmos que, três anos depois, não entraram sequer no top 10 entre muitas lesões à mistura) estavam acima da concorrência mas que o pódio era possível. Era possível e estava quase a concretizar-se, com a marca de 17,62, melhor desse ano, a garantir o terceiro lugar. No entanto, e na última tentativa, Hugues Fabrice Zango chegou aos 17,66 e ganhou o bronze. O luso-cubano não conseguiu melhorar e acabou mesmo sem medalha.
Chegou a pandemia, continuou esse período sem medalhas. Em todas as competições nacionais em que participava, fosse nos Campeonatos de Portugal, fosse nos Campeonatos Nacionais de Clubes, Pichardo ganhava e quase escolhia a marca que queria fazer nesse dia. No entanto, e como explicaria mais tarde em Tóquio, tinha nas pernas os saltos. Tanto que, em 16 meses, ganhou as três principais provas.
Em março de 2021, nos Europeus de Pista Coberta em Torun, fez uma das competições menos conseguidas dos últimos anos mas bastou o 17,30 logo a abrir para conquistar a medalha de ouro à frente do azeri Alexis Copello e do alemão Max Hess. Seguiram-se, no início de agosto, os Jogos Olímpicos, onde teve mais uma demonstração de força com um salto a 17,98 que deixou a concorrência a 41 centímetros. Quase um ano depois, ganhou a medalha de ouro nos Mundiais ao Ar Livre com uma vantagem de 33 centímetros. E pelo meio ainda foi também vencedor da Liga Diamante e conseguiu uma prata nos Mundiais de Pista Coberta, fazendo a melhor marca até aí (17,46) mas sendo superado por Lázaro Martínez (17,64).
The triple jump king!
Pedro Pichardo ???????? confirms his dominance with 17.95m and adds a world title to his Olympic crown.#WorldAthleticsChamps pic.twitter.com/9bc9tup4pz
— World Athletics (@WorldAthletics) July 24, 2022
Antes, quando representava ainda a seleção de Cuba, o saltador nunca tinha ganho qualquer medalha de ouro em grandes provas internacionais a não ser os Pan-Americanos de 2015 (Toronto) e os Mundiais de juniores de 2012 (Barcelona). Esteve perto mas não conseguiu. E foi assim que ficou com a prata nos Mundiais ao Ar Livre de 2013 (Moscovo) e 2015 (Pequim) e terminou na mesma posição nos Mundiais de Pista Coberta de 2014 (Sopot). Em 2017, por estar ainda a decorrer o processo de naturalização, Pichardo não competiu em Londres numa prova que valeu a Nelson Évora a quarta e última medalha conseguida na carreira em Mundiais ao Ar Livre – ouro em 2007, prata em 2009, bronze em 2015 e 2017.
“Dedico a vitória ao meu pai [e treinador, Jorge Pichardo], à família, ao clube e ao país, Portugal, que [meu] deu oportunidade para seguir a carreira ao mais alto nível, mas também às Câmaras de Setúbal e de Palmela e ao Pinhal Novo. A toda a minha equipa, à seleção e a Portugal inteiro, agradeço-lhes muito. Esta medalha é de Portugal, não tenho nada a ver com Cuba. Hino? Eu vou ter sempre sotaque. Já tenho anos em Portugal, a minha filha nasceu lá, a minha mulher fala português e é português que eu falo em casa e já sei o hino há muito tempo, mas claro que tenho sotaque e claro que foge sempre alguma palavra para o espanhol, é normal”, começou por referir à agência Lusa o atleta depois da conquista.
“Eu sou muito ambicioso, estou feliz, era um título que estava em dívida, mas não vou esconder que queria saltar 18 metros. A época ainda não acabou e vou continuar a tentar. O meu pai está muito feliz, pela vitória e porque consegui uma boa marca logo no primeiro salto. Embora não tenha ultrapassado os 18 metros, campeão do mundo é sempre campeão do mundo. Foi igual a Tóquio, o Lázaro só saltou bem na pista coberta. O Zango e o Zhou, só trocaram de lugar, mesmo que o Lázaro tivesse feito a melhor marca ficava em quarto, mas eu sei que ele não é tão bom ao ar livre. Foi como eu estava à espera”, frisou.
???????????? CAMPEÃO DO MUNDO do triplo salto! Parabéns, Pichardo!#BenficaOlímpico #SóHáUmBenfica #WorldAthleticsChamps #WCHOregon2022 pic.twitter.com/1fNbMbbIVh
— SL Benfica (@SLBenfica) July 24, 2022
Agora, em agosto, Pichardo terá ainda os Europeus ao Ar Livre onde, entrando na competição, é mais do que favorito a conseguir a medalha de ouro. No entanto, a barreira dos 18 metros, que chegou a atingir há alguns anos quando representava ainda Cuba, continua a ser um dos principais objetivos a par daquele que estará sempre como grande foco ao longo da preparação: os Jogos Olímpicos de Paris.