Portugal está na rota do foguetão da agência espacial chinesa que está a cair descontroladamente em direção à Terra, confirma um mapa da Agência da União Europeia para a Segurança na Aviação (EASA) publicado esta quinta-feira. De acordo com o documento, Long March 5B (CZ-5B) deve reentrar na atmosfera entre 30 e 31 de julho e, com entre 17 e 22 toneladas de massa, é um dos maiores objetos artificiais a cair descontroladamente em direção à Terra nos últimos anos.
Como a rota do foguetão não está bem definida, também não é possível descobrir com grande antecedência onde é que ele vai efetivamente cair. Mas os cálculos da EASA com base numa janela temporal que começa às 10:14:49 de sábado e termina às 19:08:49 de domingo indica que Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia, Malta e Bulgária podem ser atingidas pelo foguetão, que havia sido lançado a 24 de julho.
A EASA aconselhou toda a aviação a estar alerta às informações mais recentes sobre o foguetão e adaptar a atuação com base nesses dados. E também aconselhou todas as autoridades gestões a implementar restrições num raio de 200 quilómetros sempre que o objeto sobrevoe o país.
Foguetão chinês vai cair. Mas (mais uma vez) não se sabe quando, nem onde
Há pouco mais de um ano, em maio de 2021, outro Long March 5B chinês caiu descontroladamente em direção à Terra. O foguetão com 23 toneladas desenvolvido pela China e deixado à deriva em redor do planeta Terra, reentrou na atmosfera e caiu às 3h24 de Portugal Continental nas coordenadas 2.65°N , 72.47°E, que correspondem ao Oceano Índico, mesmo ao lado das Maldivas.
A órbita que o estágio do foguetão está a cumprir em torno da Terra não é completamente circular — se fosse, ficaria no espaço como uma nova lua a viajar a velocidades hiperssónicas. Em vez disso, o Long March 5B descreve uma órbita oval, explicou à época Rui Moura, professor do Instituto Geofísico e da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto: às vezes aproxima-se mais da Terra e fica a 170 quilómetros do nível médio da água do mar, outras vezes afasta-se mais e fica a 370 quilómetros de altitude.
Acontece que, quanto mais se aproxima do planeta, mais atraído fica pela gravidade e, na translação que fizer a seguir, já não conseguirá alcançar altitudes tão grandes como anteriormente. Mais: cruza-se com as poucas moléculas que compõem a rarefeita camada mais exterior da atmosfera terrestre. São poucas, sim, mas suficientes para sujeitar o foguetão a uma maior força artrítica, o que o abranda. E abranda tanto que, a certa altura, o Long March 5B não tem outro remédio senão finalmente ceder ao brusco ataque da atmosfera terrestre.
Ao longo do percurso, a fricção da atmosfera vai criar calor, derreter os painéis exteriores e estilhaçar o foguetão em pedaços incandescentes de metal. Mas o objeto é tão robusto que os depósitos de titânio e as câmaras de combustão no interior, feitas de materiais mais resistentes e protegidos pelas telhas exteriores, podem sobreviver à reentrada na atmosfera e vir a cair no mar — a hipótese mais provável — ou em terra, o que não seria inédito.