Bruno Lage chegou ao Wolverhampton na época passada, para substituir Nuno Espírito Santo, e depressa deixou a ideia de que queria evoluir na continuidade. Ou seja? O objetivo não era desmontar tudo aquilo que o treinador português havia feito, entre Championship e Premier League, mas sim aproveitar o trabalho já alicerçado e melhorá-lo. O resultado foi uma segunda volta muito positiva, que chegou a permitir sonhar com a Europa, e um 10.º lugar que nunca colocou a manutenção em causa.

Ora, este sábado, Lage dava o primeiro passo no segundo ano ao comando do Wolverhampton. Com uma armada portuguesa que continua a ter José Sá, Nélson Semedo, Toti Gomes, João Moutinho, Rúben Neves, Bruno Jordão, Pedro Neto, Chiquinho e Daniel Podence e que emprestou Fábio Silva ao Anderlecht, o objetivo do técnico português passa novamente por assegurar a permanência na Premier League, garantir a presença na primeira metade da tabela e, quiçá, intrometer-se nas batalhas pelas competições europeias.

Tendo perdido essencialmente Romain Saïss para o Besiktas e Marçal para o Botafogo, o Wolves reforçou-se com a contratação a título definitivo do sul-coreano Hwang Hee-chan, que esteve em Inglaterra na época passada por empréstimo do RB Leipzig, e do central Nathan Collins, vindo do Burnley. Em Elland Road, a equipa de Bruno Lage estreava-se na Premier League contra o Leeds, que viu Raphinha sair para o Barcelona mas que assentou na clarividência do treinador Jesse Marsch para se reforçar com dois promissores internacionais norte-americanos, Tyler Adams e Brenden Aaronson, e com o espanhol Marc Roca, vindo do Bayern Munique.

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“Se olharmos para trás, sempre que queremos crescer e aprender temos de ver o que aconteceu na época passada e melhorar. A palavra que usei quando cheguei foi que não ia fazer uma revolução mas sim uma evolução com o trabalho que o Nuno tinha feito com a equipa. Agora, é a minha vez de perceber o que a equipa consegue fazer e as coisas em que ainda tem de melhorar. Com o tempo, já posso dar o meu input. Acho que fomos fazendo bem as coisas desde o primeiro dia. Tentamos jogar mais com a bola, tentamos dominar mais na posse de bola. E essa foi a melhor coisa que fizemos na época passada”, disse Bruno Lage na antevisão da primeira jornada da liga inglesa.

Este sábado, o técnico português não podia contar com Raúl Jiménez, João Moutinho e Nélson Semedo, todos lesionados, e lançava Hwang como referência ofensiva, apoiado por Neto, Gibbs-White e Podence, apostando também numa defesa a quatro que esquecia o sistema de três centrais que tinha herdado de Espírito Santo. Além disso, Lage voltava a deixar Conor Coady no banco, mantendo uma opção que deu muito que falar durante a pré-época, já que o central inglês é capitão de equipa e tem sido praticamente indiscutível desde 2015. Do outro lado, Patrick Bamford surgia no ataque e o ex-Benfica Rodrigo também era titular, assim como os reforços Adams, Aaronson e Roca.

Numa primeira parte que terminou empatada, o Wolverhampton começou claramente melhor e dominou nos minutos iniciais, colocando as linhas muito elevadas e atuando quase por inteiro no meio-campo ofensivo, explorando a criatividade de Neto e Podence na proximidade dos corredores. Assim, a equipa de Bruno Lage acabou por chegar à vantagem ainda nos primeiros 10 minutos: na sequência de um passe brilhante de Rúben Neves — que era capitão — à procura de Neto na esquerda, Hwang assistiu Podence na área e o internacional português, com um pontapé de moinho, atirou para abrir o marcador (6′).

Após o golo, porém, o Wolves desceu e quebrou o ritmo e teve de recuar para responder à reação do Leeds, que foi atrás do empate. O conjunto de Jesse Marsch movimentava-se essencialmente através do critério de Marc Roca, que ia tendo uma influência muito grande na ligação entre o meio-campo e o ataque a par de Aaronson, e conseguiu mesmo igualar o marcador ainda antes da meia-hora. Num lance em que Aït-Nouri perdeu a bola em zona proibida, Rodrigo aproveitou para rematar rasteiro e cruzado já com pouco ângulo e José Sá acabou por não ficar bem na fotografia, deixando a bola passar entre ele e o poste (24′). Nenhuma equipa voltou a marcar até ao intervalo mas o Leeds teve sempre um claro ascendente, entre posse de bola e proximidade da baliza adversária, com o Wolves a ter apenas mais uma ocasião de golo já nos descontos e por intermédio de Dendoncker para enorme defesa de Meslier.

Nenhum dos treinadores fez alterações no início da segunda parte e a lógica manteve-se, com o Leeds a demonstrar uma reação à perda da bola acima da média e o Wolves a responder principalmente através do contra-ataque, causando sempre muitos calafrios à defesa adversária na transição rápida. A equipa de Bruno Lage adquiriu uma força extra com uma oportunidade de Dendoncker, que cabeceou para grande defesa de Meslier (57′), e assumiu uma superioridade que não tinha desde os minutos iniciais da partida — muito assente numa relevante subida de rendimento de Pedro Neto da primeira para a segunda parte.

Jesse Marsch foi o primeiro a mexer, trocando Rodrigo por Mateusz Klich já depois da hora de jogo, e fez a segunda substituição já a menos de 20 minutos do fim, tirando Roca para lançar Sam Greenwood. Foi nesta fase que o Wolverhampton acabou por sofrer a crueldade do futebol: estando por cima, tendo mais oportunidades, sendo claramente um conjunto melhor do que o Leeds, a equipa de Bruno Lage acabou por sofrer o segundo golo por intermédio de Aaronson, que respondeu da melhor forma a uma assistência de Bamford (74′), ainda que o autogolo tenha sido atribuído a Aït-Nouri.

Até ao fim, já nada mudou. O Wolverhampton perdeu com o Leeds na primeira jornada da Premier League e deixou claro que, apesar de ter um onze inicial competente e recheado de qualidade, não tem soluções ofensivas no banco de suplentes para reagir a um resultado menos positivo — algo que é notório pelo simples facto de só ter feito substituições a cinco minutos do fim. Do outro lado, através da influência de um Brenden Aaronson que só tem 21 anos e que acabou de chegar do RB Salzburgo depois de deixar a MLS, Jesse Marsch mostrou claramente que o american dream do Leeds pode tornar-se um caso sério.