A China terminou esta quarta-feira as manobras militares em redor da ilha de Taiwan, após seis dias ininterruptos de exercícios, que incluíram o uso de fogo real e o lançamento de mísseis, anunciaram esta quarta-feira as Forças Armadas chinesas.

Num comunicado difundido através da rede social Weibo, o equivalente chinês ao Twitter, o porta-voz do Comando de Operações do Teatro Oeste do Exército de Libertação Popular (ELP), Shi Yi, disse que a força militar chinesa “concluiu com sucesso” vários objetivos nas manobras.

O ELP completou, com sucesso, várias tarefas, e testou efetivamente as capacidades integradas de combate conjunto das tropas”, acrescentou Shi.
No mesmo anúncio, as Forças Armadas chinesas garantiram que vão manter exercícios regulares e operações normais na área, incluindo patrulhas no Estreito de Taiwan.

Analistas internacionais dizem que exercícios serão “novo normal”

É um “novo normal” para a vida dos habitantes de Taiwan. De acordo com analistas internacionais ouvidos esta quarta-feira pelo jornal britânico The Guardian, os exercícios militares das forças armadas chinesas em torno da ilha de Taiwan poderão tornar-se uma realidade regular e até intensificar-se ao longo dos próximos anos.

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Na semana passada, a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, visitou a ilha de Taiwan, o que motivou uma dura reação da parte de Pequim, que começou a realizar exercícios militares no estreito de Taiwan e nas áreas territoriais da ilha.

Do lado de Taipei, as autoridades taiwanesas acusam Pequim de usar a visita da responsável norte-americana como pretexto para intensificar as hostilidades militares contra Taiwan.

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A relação entre a China continental e a ilha de Taiwan é complexa há vários séculos. O território de Taiwan ficou sob controlo chinês ainda no século XVII, quando a China era comandada pela dinastia Qing. Aquele território esteve sob controlo japonês entre 1895 e 1945, depois da guerra Sino-Japonesa e até à II Guerra Mundial, altura em que a China recuperou o controlo da ilha.

O colapso da dinastia Qing, na revolução de 1911, levou ao estabelecimento da República da China, a que se seguiu um período de guerra civil entre as forças republicanas do Kuomintang, o partido nacionalista no poder, e o Partido Comunista Chinês, liderado por Mao Tsé-Tung.

Em 1949, os comunistas venceram a guerra civil e implementaram o regime da República Popular da China, que perdura até hoje, e os republicanos refugiaram-se na ilha de Taiwan, onde governaram durante uma grande parte da história do território.

Desde essa altura, Pequim considera que Taiwan é um território chinês que está atualmente sob controlo de separatistas, mas que deverá um dia voltar ao controlo chinês, mesmo que por vias militares; enquanto Taiwan considera que é um país diferente (com o nome oficial República da China), que nunca pertenceu à República Popular da China.

Pequim adotou a política da “China única”, considerando que só existe uma China, e tem usado essa política para exercer pressão diplomática sobre o resto do mundo — nomeadamente, recusando ter relações diplomáticas e comerciais com qualquer país que reconheça formalmente Taiwan. Atualmente, apenas 13 países e o Vaticano reconhecem Taiwan como país independente.

A recente visita de Nancy Pelosi a Taiwan enquadra-se na política oficial dos EUA em relação àquela situação — uma política de “ambiguidade estratégica“, em que Washington tem relações diplomáticas formais com Pequim e informais com Taiwan, nunca esclarecendo com exatidão o que fariam no caso de um conflito armado entre os dois territórios.

Na semana que se seguiu à visita de Nancy Pelosi, as forças armadas chinesas conduziram uma série de exercícios militares no estreito de Taiwan. Segundo o The Guardian, pelo menos 140 aviões chineses entraram na zona de defesa aérea de Taiwan na última semana — e 100 cruzaram mesmo a linha oficiosa que divide o estreito a meio e que nas últimas décadas foi genericamente respeitada. A linha também foi cruzada, pelo mar, por 41 navios de guerra chineses.

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Especialistas consultados por aquele jornal britânico dizem que este tipo de exercícios militares poderão ser o novo normal na região.

“O objetivo é impor o medo e uma sensação de inevitabilidade nos corações e nas mentes dos taiwaneses”, diz Alessio Patalano, professor de estratégia militar asiática no King’s College de Londres. “Existe, na mensagem política transmitida pelos meios militares, um risco real de passos mais agressivos poderem vir  ser normalizados.”

Outros especialistas dizem que, embora os exercícios militares realizados até agora não incluam todas as características necessárias para uma verdadeira invasão, o objetivo de Pequim é dar a entender que a fronteira oficiosa entre os dois territórios deixou de existir. É o que diz a analista Amanda Hsiao, analista de política chinesa.

“Esta é uma tentativa em curso de, basicamente, dizer que a linha mediana já não existe”, diz Hsiao.