A vitória conseguida com três golos em pouco mais de cinco minutos na última jornada frente ao Aston Villa acabou por ser o momento decisivo para a conquista da Premier League por parte do Manchester City mas foi na jornada anterior, em Londres diante do West Ham, que o conjunto de Pep Guardiola teve aquele que foi o principal teste à equipa e à sua forma de jogar. Depois da desvantagem de dois golos ao intervalo, e num encontro de loucos com grandes penalidades falhadas pelo meio, o empate dos citizens manteve a vantagem de um ponto face ao Liverpool. Mas era aí também que se começava a esgotar uma era no futebol das equipas comandadas pelo técnico espanhol, com a versão 2.0 a surgir com o mesmo West Ham.

Foi titular, bisou, não desiludiu: Haaland e o primeiro dia da era zen do Manchester City

Os laterais continuam a dar muita largura ao jogo, os dois médios à frente do pivô defensivo (Rodri) ainda surgem em zonas quase sempre ofensivas com bola, a mobilidade das alas para o corredor central segue como imagem de marca mas existe agora um avançado com características diferentes de todos os outros que a equipa teve com Pep Guardiola até aqui. Pela qualidade e pela capacidade de fazer golos, Erling Haaland nunca poderá ser um corpo estranho em qualquer conjunto; no entanto, e pelas características muito próprias de alguém que toca pouco (e sobretudo na área) na bola, tudo o resto teria também de evoluir. Foi isso que aconteceu na primeira jornada em Londres, era isso que se esperava que voltasse a acontecer na estreia em casa frente ao Bournemouth – e já com dois golos do norueguês na prova.

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“É um jogador excecional. Não é necessário estar a explicar-vos isso, toda a gente sabe, mas não estamos muitas vezes juntos e tenho de dizer que é um competidor incrível que quer muito ganhar. Aquilo que mais me impressionou nele é o facto de ser alguém com uma educação incrível, o facto de ser um jovem muito humilde e como fala tanto com os jogadores mais novos, não apenas com os mais importantes. Ele, tal como o Julian [Álvarez], o Phil [Foden] ou o [Cole] Palmer têm grande margem para melhorar. Quero tornar estes jogadores melhores, o Erling pode ser um caso desses”, contou Guardiola aos meios do clube.

Essa aposta no antigo avançado do B. Dortmund também poderá ter os seus efeitos colaterais, com nomes como Bernardo Silva a terem de cumprir outras funções em campo que antes não tinham (isto se o jogador ficar mesmo no Etihad Stadium, o que não está ainda certo). E acabaram por ser os dois a estar em plano de destaque por diferentes motivos em mais um triunfo sem margem de dúvidas e a pecar por escasso.

E se não há propriamente uma boa altura para jogar no Etihad Stadium, o atual contexto que a equipa de Scott Parker atravessa, ainda a adaptar-se aos desafios de um regresso à Premier League, quase teve o condão de colocar o Bournemouth sujeito a uma goleada numa partida de sentido único que chegou ao intervalo já com 3-0. Erling Haaland, depois do bis em Londres, não tinha marcado. No entanto, de uma forma direta ou indireta, esteve em todos os golos: assistiu Gündogan para o 1-0 numa combinação 2×1 com o seu quê de futsal (19′), arrastou dois centrais consigo para Kevin de Bruyne fazer magia com uma finta de corpo e um remate de trivela (31′) e voltou a atrair consigo todas as atenções numa transição rápida que permitiu Phil Foden receber na diagonal um passe de De Bruyne e rematar para o terceiro golo (39′).

O segundo tempo começou com Grealish no lugar de Phil Foden e o Manchester City a não ter necessidade de manter o pé no acelerador para ir criando mais algumas oportunidades num encontro que foi baixando de qualidade. Assim, e entre algumas defesas de Mark Travers, o momento surgiu mesmo aos 65′, quando Gündogan deu lugar a Bernardo Silva e o Etihad Stadium cantou o nome do português numa espécie de última tentativa de manter o médio em Manchester. O objetivo está mais complicado, com a imprensa espanhola a avançar mesmo com a existência de um pré-acordo entre o internacional e o Barcelona, mas o City já estará também a pensar num outro elemento de características ofensivas para “casar” com a forma de jogar que a equipa apresenta agora que passou a ter Haaland como referência.

Haveria ainda tempo para mais golos, com João Cancelo a fazer jus à camisola 7 que tem agora mesmo sendo um lateral, a passar por vários jogadores para a frente e para trás descaído sobre a esquerda até ao cruzamento tenso desviado para a própria baliza por Jefferson Lerma (79′), mas a tarde estava sobretudo resumida às atenções vindas das bancadas com Bernardo Silva, a grande dúvida neste mercado.