A investigação dos grandes incêndios deste ano em Portugal pela Comissão Nacional para a Gestão Integrada de Fogos Rurais deve estar concluída em outubro, avançou esta terça-feira o presidente da entidade.
Queríamos fazer um ponto de situação assim que arrancasse a primeira reunião da Comissão das Lições Aprendidas, em setembro, e depois, em outubro, o fecho do trabalho”, afirmou à Lusa Tiago Oliveira, que também lidera a Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), sob a qual funciona a comissão responsável pela investigação dos grandes incêndios e que junta Liga de Bombeiros Portugueses, GNR, PJ, Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) e Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA).
O papel de investigação atribuído à comissão foi adiantado pelo jornal Público e Tiago Oliveira explicou que será também convidado um “painel de peritos e académicos” para ajudar à reflexão sobre os grandes incêndios. Questionado sobre quais os fogos que vão ser analisados, o presidente da AGIF e da comissão vincou que os critérios não estão fechados.
Ainda não estão definidos os critérios, se são os incêndios com mais de 500 hectares ou mais de 72 horas de duração… Mas não nos compete a nós definir isso, o poder político é que define o que quer avaliar e depois vamos desenvolver a metodologia e a grelha de análise para extrair o máximo de informação possível”, referiu, continuando: “Irá haver um despacho do governo a indicar qual é o âmbito e a duração dos incêndios que vamos analisar”.
Sem deixar de realçar “uma articulação muito forte” entre todas as entidades e que estão todas “a lutar pelo mesmo” objetivo, Tiago Oliveira garantiu que o trabalho e os relatórios produzidos no âmbito desta comissão serão tornados públicos.
O grande objetivo disto é garantir que as entidades, mas, acima de tudo, a sociedade percebe como é que o país está a reagir e explicar porque é que se estão a tomar algumas opções. Só se consegue mobilizar um país se houver transparência e independência. É isso que vamos esforçar-nos para garantir que não é preterido por outras perspetivas… É um trabalho difícil, mas estamos convictos de que vamos conseguir”, disse.
Tiago Oliveira assumiu a existência de “debilidades de articulação e integração que têm de ser superadas no médio/longo prazo”. Sobre quais os meios que estarão ao dispor da comissão para o trabalho de investigação e reflexão, reiterou que “não são precisos grandes recursos” e que, internamente, “as entidades têm ou vão ter essa capacidade” para alcançar resultados.
Vamos entrar numa fase de recolha de informação, de fazer convites a um conjunto de académicos e depois vamos ver como nos vamos organizar para contar com o contributo de todos para ter uma visão independente, transparente, escrutinável, que seja pública e que permita, organicamente, as entidades serem capazes de refletirem sobre aquilo que estão a fazer bem e menos bem”, notou.
A par com o trabalho da comissão sob a égide da AGIF estará também a Comissão das Lições Aprendidas, que, seguindo uma metodologia de perguntas da NATO, “vai levantar as oportunidades, as reflexões e as evidências” no âmbito dos grandes incêndios do país durante este ano. O tema, segundo Tiago Oliveira, será debatido “sem perseguição de bruxas”.
Decorreu uma reunião da Comissão Nacional para a Gestão Integrada de Fogos Rurais, mas o responsável máximo esclareceu que o incêndio que lavra na Serra da Estrela há mais de uma semana não foi abordado, tendo sido dada continuidade a um trabalho de identificação de melhorias operacionais e logísticas que vem sendo feito desde junho e que hoje terminou, apresentando exemplos de aspetos a corrigir.
Por exemplo, o ICNF pode mobilizar recursos para um incêndio sem estar à espera da ANEPC. Não estava previsto na diretiva operacional, mas que agora se entende que é oportuno que logo que o incêndio arranca puxar por conhecimento técnico. Acreditamos que vai melhorar bastante a gestão da performance do dispositivo. Fomos fazendo outras melhorias, como a partilha de informação e a logística de alimentação ser no local e não no posto de reabastecimento; são pequenos detalhes, mas que às vezes fazem muita diferença”, concluiu.