Dias antes de atuarem em Portugal pela primeira vez, João Carvalho, organizador do Festival Paredes de Coura, comprou 20 exemplares do álbum de estreia da banda britânica. Na altura eram praticamente desconhecidos em Portugal e o promotor resolveu distribuir o disco Parachutes por diferentes pessoas, acreditando que os Coldplay seriam brevemente um nome grande. A premonição estava certa, mas revelou-se até modesta. “Hoje são a maior banda do mundo”, disse ao Observador Álvaro Covões, patrão da Everything is New, responsável pelas quatro datas agendadas para o Estádio Municipal de Coimbra, em 2023 (em cada noite estarão 50 mil pessoas).
Bastaram apenas umas horas para os bilhetes terem esgotado. Ainda não eram 10h desta quinta-feira, altura em que foram postos à venda os bilhetes para o concerto de 17 de maio de 2023, e já se amontoavam filas online e em lojas físicas. Duas horas depois estavam registadas mais de 450 mil senhas para comprar um bilhete. Com a primeira data esgotada, a banda abriu mais três concertos: 18, 20 e 21 de maio, todos no mesmo recinto, o Estádio de Coimbra.
“Tínhamos as várias datas programadas e acreditávamos que conseguiríamos fazer os quatro concertos”, afirmou Álvaro Covões ao Observador. “São um fenómeno mundial”, diz o promotor, que por várias vezes contratou os quatro londrinos para atuar em diferentes palcos portugueses. “Lembro-me de eles virem ao Pavilhão Atlântico – hoje Altice Arena – e de estar com a então mulher do Chris Martin [a atriz Gwyneth Paltrow] e com os filhos. Na altura ela era bem mais famosa do que ele. Também os contratei para o Estádio do Dragão”.
[o trailer da digressão Music of the Spheres:]
Se já nessa altura – em maio de 2012 –, os Coldplay eram considerados banda de estádio, agora não há recinto capaz de os acolher apenas numa noite: em Portugal serão quatro e a Everything is New já avisou que as datas estão fechadas. Serão os primeiros espetáculos da digressão europeia, que arranca em Portugal e segue depois por Espanha, Itália, Suíça, Dinamarca, Suécia e Países Baixos, além de incluir espetáculos no Reino Unido, em Manchester e Cardiff.
A banda está na estrada desde março deste ano, com o álbum Music of the Spheres, lançado no ano passado, e cuja digressão mundial (com o mesmo nome) começou a ser planeada durante a pandemia. Foi o próprio Chris Martin que decidiu construir um espetáculo de grandes dimensões mas “sustentável”, como a própria banda o tem apresentado: “Comprometemo-nos a fazer uma tour mais sustentável e de baixo carbono, queremos cortar em 50%, apoiamo-nos em novas tecnologias verdes benéficas para o meio ambiente, financiando um portfólio de projetos baseados na natureza e na tecnologia”.
Coldplay anunciam novas datas para concerto em Coimbra: 18, 20 e agora 21 de maio de 2023
Basta uma rápida busca pelo YouTube para perceber a dimensão do espectáculo. “O concerto no Estádio de Coimbra é composto por três palcos, dois no meio do relvado, o que permite aos músicos andarem no meio da multidão, com um contacto muito próximo do público”, diz Álvaro Covões. Cada espectador terá uma pulseira que interage com a iluminação e os efeitos visuais do concerto. E, de acordo com a banda, o chão instalado no relvado funciona como um gerador de energia, usada no próprio concerto. Para isso, precisa do movimento do público.
[o teledisco do tema “Humankind”, gravado durante a digressão:]
A banda tem estado na estrada e no dia 24 subiram ao palco de Hampden Park, em Glasgow, na Escócia. Embora a promover o último disco, o alinhamento inclui vários êxitos dos primeiros tempos, como “Yellow” (Parachutes), “The Scientist”, “Clocks”, “In My Place” (A rush of blood to the head), “Viva la Vida” (Viva la Vida or Death and All His Friends) ou “Fix You” (X&Y), entre outros clássicos. Os preços para o Estádio Municipal de Coimbra variam entre os €85 (relvado) e os €500 (My Universe Lounge). Os preços para as bancadas estão entre os €65 e €150.
Formados em Londres, em meados dos anos 90, por Chris Martin, Jonny Buckland, Guy Berryman e Will Champion, os Coldplay alcançaram o seu primeiro grande sucesso com o single “Yellow”, que atingiu os primeiros lugares da tabela de singles britânica. Foi exatamente por essa altura, no dia 13 de agosto de 2000, que se estrearam em solo português, perante um público que mal conhecia a banda. Nesse primeiro espetáculo, num dia em que tocaram também Mr. Bungle e Flaming Lips, os Coldplay apresentaram apenas 8 canções do álbum de estreia.
Já há bilhetes para os Coldplay a serem vendidos pelo dobro do preço fora dos circuitos oficiais
“Na altura tínhamos dúvidas se os contratávamos ou não. Custavam 20 mil euros, eram o número um no Reino Unido, com o single ‘Yellow’. Lembro-me de o Chris Martin ter passado o concerto a dizer que eram famosos em Inglaterra. Notava-se alguma frustração por serem pouco conhecidos por cá. Mas essa foi sempre a filosofia do nosso festival [de Paredes de Coura], trazer novos artistas e antecipar grandes carreiras”, disse João Carvalho ao Observador.
Sobre o modelo de negócio atual dos Coldplay, Álvaro Covões explica que a banda tem a sua marca: “Eles tratam de tudo, recebem o valor dos bilhetes, pagam à sua estrutura e aos promotores. Todas as bandas começam por ser pequenas e nós, promotores, apostamos no que acreditamos. Foi assim que trouxemos pela primeira vez os Radiohead ao Paradise Garage, para fazer a primeira parte dos James. Ninguém os conhecia, e já tinham lançado o Creep.”