A greve de trabalhadores da Portway está a ter uma adesão de cerca de 90% em Lisboa, 85% no Porto, entre 60 e 70% no Funchal e entre 40 e 50% em Faro, disse esta sexta-feira o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (SINTAC).

“Estamos com adesão de cerca de 90% em Lisboa, 85% no Porto, Funchal entre 60 a 70% e em Faro 40 a 50% de adesão”, disse aos jornalistas o dirigente do SINTAC para a Portway, Pedro Figueiredo, em declarações junto às instalações do aeroporto de Lisboa.

Para o responsável sindical, a greve “demonstra bem o descontentamento” dos trabalhadores, que esperam que, com esta ação, a empresa se mostre “aberta ao diálogo”.

O sindicato reivindica o cancelamento das avaliações ao trabalhadores, que diz terem sido feitas “de forma arbitrária”, para que os trabalhadores possam progredir na carreira, e, por outro lado, que cumpra o pagamento de feriados a 100%, o que, diz, não está a acontecer desde novembro de 2019.

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Pedro Figueiredo denunciou ainda que a Portway, empresa de assistência em terra em aeroportos do grupo Vinci, tem cerca de 1.200 trabalhadores efetivos e o mesmo número em trabalhadores contratados a empresas de trabalho temporário, com alguns deles a ocupar cargos de chefia.

Segundo o sindicato, estão a ser contratados trabalhadores externos com “experiência quase nula”, uma situação que já denunciaram à Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC), não tendo obtido ainda resposta.

Depois da greve, que acaba no domingo, o sindicato fará o balanço, para decidir a melhor forma de continuar a luta pelas suas reivindicações.

Entre os cerca de 50 trabalhadores em greve que se encontravam junto às instalações do aeroporto, estava João Palminha, operador de assistência em escala que trabalha na Portway há 10 anos.

Para aquele trabalhador, “os ordenados têm de ser revistos”, até para fazer face ao aumento dos preços, devido à inflação.

“Eu estou há 10 anos numa empresa em que não tenho qualquer progressão de carreira, estou num nível baixíssimo, quase dos últimos”, disse João Palminha, que admitiu sentir “muita desmotivação” no trabalho, devido às condições laborais.

O SINTAC denunciou ao Governo e à Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) a contratação de serviços externos para a substituição de grevistas na Portway, que a empresa rejeita.

Em causa estão serviços de ‘push-back’ (trator que empurra os aviões para a pista), precisou a estrutura sindical.

Questionada pela Lusa, fonte oficial da Portway garantiu que a empresa “não contratou serviços externos para fazer face à greve”, notando que, “quem o pode fazer, legitimamente, são as companhias aéreas e os aeroportos”.

Sobre a adesão à greve, a empresa de ‘handling’ diz que é “inferior a 10%”. “Sendo uma greve setorial, da assistência em terra às companhias aéreas, está a provocar cancelamentos de voos nas operações assistidas pela Portway nos aeroportos de Lisboa e Porto. Nos aeroportos de Faro e Funchal não são esperados constrangimentos”, disse a empresa em comunicado.

A Portway recordou que “a lista de cancelamentos, atualizada em tempo real, pode ser consultada no site da ANA — Aeroportos de Portugal — https://www.ana.pt/pt/institucional/home” e que “as referências às companhias aéreas afetadas por esta greve estão em atualização permanente em  https://www.portway.pt/pt/media/noticias/”.

A empresa “lamenta os incómodos que esta situação está a causar aos passageiros e aconselha os viajantes a confirmarem os respetivos voos junto das companhias aéreas, antes de se dirigirem para os aeroportos”.

Para a Portway, esta greve é “um ato irresponsável, pois os motivos para a convocar não correspondem à realidade”, garantindo que “compromete a recuperação do setor e da economia nacional num período de intensa atividade da aviação e do turismo e afeta seguramente a capacidade de a empresa traduzir a tão esperada recuperação financeira em melhores condições para os trabalhadores”.

“A Portway apela ao sentido de responsabilidade do Sintac para que sejam respeitados os serviços mínimos decretados pelo Governo”, segundo a mesma nota.

A empresa voltou ainda a atacar as alegações do sindicato.

“A Portway cumpre com toda a legislação e regulamentação aplicáveis, incluindo os Acordos de Empresa em vigor e os direitos laborais dos seus trabalhadores, que incluem o direito à greve e o direito a trabalhar em plena liberdade e consciência”, referiu, garantindo ainda que “não contratou serviços externos para fazer face à greve, quem o pode fazer, legitimamente, são as companhias aéreas e os aeroportos”.

A empresa destacou ainda que a “ANAC [Autoridade Nacional da Aviação Civil] e a ACT [Autoridade para as Condições do Trabalho] estão no terreno para verificar a legitimidade de todas as situações”.

A Portway assegurou que “foram feitas atualizações remuneratórias desde o exercício de 2019 até à presente data que representam um aumento de 11% nas remunerações dos trabalhadores que se encontraram ao serviço da empresa durante esse período” e que “os feriados são pagos com um acréscimo de 150% face ao valor/hora”, defendendo que “cumpre todas as regras relativas ao pagamento dos feriados, não existindo qualquer decisão que suporte qualquer entendimento em contrário”.

Por fim, a empresa realçou que “privilegia a segurança acima de tudo e repudia veementemente qualquer acusação de cedências ou facilitismos operacionais que possam comprometer a segurança dos seus clientes, passageiros e trabalhadores” e que “não compactua com facilitismos nas áreas da segurança operacional”.

Os trabalhadores da Portway deram esta sexta-feira início a uma greve de três dias nos aeroportos de Lisboa, Porto, Faro e Madeira, convocada pelo Sintac, que levou ao cancelamento de mais de oito dezenas de ligações.