Foi quase uma daquelas novelas em que apanhámos o primeiro episódio sem querer, continuámos a acompanhar porque a trama era boa e intrincada mas onde, quando chegou o último capítulo, o desfecho final já era expectável e fácil de antecipar. Esta terça-feira, depois de semanas de indecisão, Miguel Oliveira colocou um ponto final na novela: o piloto português vai mesmo deixar a KTM e mudar-se para a Aprilia em 2023.
A partir da Charneca da Caparica, numa conferência de imprensa que estava marcada há vários dias, foi Paulo Oliveira, o pai de Miguel, a confirmar a notícia: isto porque o piloto ainda está contratualmente impedido de falar sobre a Aprilia, podendo fazê-lo apenas depois do último Grande Prémio da atual temporada, em Valência. “Foi um contrato assinado recentemente, não foi fácil. Tínhamos desde o início da temporada acertado com a KTM que queríamos seguir o caminho juntos mas algo aconteceu dentro da estrutura da KTM”, começou por dizer Paulo Oliveira, indicando que o vínculo assinado é válido por dois anos com a possibilidade de renovação por outros dois.
BREAKING: A brand new line-up for @rnfracingteam! ????@_moliveira88 and @25RaulFernandez will join the satellite Aprilia squad in 2023! ????#MotoGP | ????https://t.co/q8aCMowYVA
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“Foi-lhe oferecida a equipa GASGAS [antiga Tech3], que era algo que ele obviamente não aceitava. Tivemos de procurar uma nova equipa. Esta moto da Aprilia tem-se revelado uma mota vencedora, que se enquadra no estilo de pilotagem do Miguel. Acreditamos que, no futuro, esta moto poderá ser vencedora nas mãos do Miguel. Como já perceberam, o Miguel ainda não pode falar sobre este contrato e é por isso que aqui estou. Só poderá falar a partir de Valência, quando testar a Aprilia, que é uma permissão que temos da KTM, para testar a moto ainda este ano”, acrescentou, sublinhando que o português estará enquadrado na equipa satélite mas será “piloto principal” da Aprilia”.
Em seguida, falou Miguel Oliveira. “Eu e a KTM estivemos muitas temporadas juntos. Conquistei individualmente dois vice-campeonatos e o maior passo foi dado com eles, que foi a transição para a categoria rainha. Juntos, conquistámos 37 pódios, dos quais 14 são vitórias, e esse é um percurso do qual me orgulho bastante. E ainda tenho corridas esta época, este número ainda pode ser aumentado. Este ano foi um ano de abertura de muitas oportunidades a nível de mercado, procurei sempre garantir que me enquadrava com a KTM para o futuro mas, ao longo das negociações, percebemos que os caminhos poderiam separar-se. Só tenho de agradecer todo o esforço da KTM mas acredito que é o passo de que necessito como piloto”, explicou o português de 27 anos.
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Ainda antes da conferência de imprensa convocada por Miguel Oliveira para esta terça-feira e na antecâmara do Grande Prémio de San Marino do próximo fim de semana, foi a própria RNF a confirmar em comunicado as notícias que já tinham indicado que tinha mesmo recusado a derradeira proposta da Tech3. Assim, o piloto natural de Almada vai correr na próxima temporada pela RNF, a equipa satélite da Aprilia, encerrando uma longa ligação com a KTM que durava desde 2015 e dos tempos do Moto3.
“Estamos extremamente entusiasmados por dar as boas vindas ao Miguel Oliveira e ao Raúl Fernández na WithU RNF de 2023. Não foi um processo simples mas, em conjunto com a Aprilia, estávamos muito certos dos pilotos que queríamos. São ambos pilotos jovens com uma boa combinação de experiência, do Miguel, e do Raúl, de quem sou pessoalmente um fã desde que ele chocou o Moto2 na época passada para se tornar vice-campeão. Tanto a Aprilia como nós acreditamos no talento de ambos os pilotos e mal podemos esperar por vê-los a correr por nós na próxima temporada”, disse Razlan Razali, o diretor da RNF.
De recordar que, na semana passada, Stefan Pierer, diretor executivo da Pierer Mobility que detém a KTM, revelou que tinha apresentado uma nova proposta com vista à permanência de Miguel Oliveira, oferecendo um vínculo de três anos e alavacando a ideia com o novo projeto da GASGAS, a marca que se associou à Tech3 para 2023. Contudo, em entrevista à revista alemã Speedweek, reconheceu desde logo que não estava muito otimista — até porque Miguel Oliveira já tinha assinado uma carta de intenções com a Aprilia.
“Não acho que o Miguel vá correr connosco em 2023 porque ele assinou uma carta de intenções com a Aprilia. Agora, garantimos-lhe que a Tech3 será uma verdadeira segunda equipa de fábrica no futuro. Ele não sabia disso quando lhe oferecemos a mudança para a Tech3 em maio. Se ele soubesse na altura como a equipa vai estar estruturada no futuro, poderia ter ficado. Ficou um pouco magoado quando assinámos com o Jack Miller, mas é o que é. Agora vamos esperar e ver o que o Miguel diz. Se ele quiser, há vaga na Tech3. A bola agora está nas mãos dele. Oferecemos-lhe um contrato de três anos para que tivesse estabilidade e construísse o projeto GASGAS com o Pol [Espargaró]”, disse Pierer.
Esta segunda-feira, a mesma Speedweek avançou que Miguel Oliveira tinha optado mesmo por recusar a última proposta da equipa satélite da KTM e decidido assinar pela RNF, onde vai então formar dupla com Raúl Fernández, que curiosamente corre atualmente na Tech3. Aí, ao lado de Pol Espargaró, a solução deverá recair em Augusto Fernández, o atual líder do Mundial de Moto2.
O piloto português estreou-se com a KTM em 2015, no Moto3, quando vice-campeão mundial da categoria. No ano seguinte, o da entrada no Moto2, ainda correu pela Leopard Racing da Kalex, mudando-se depois em definitivo para a KTM até aos dias de hoje. Ficou em terceiro lugar do Mundial de Moto2 em 2017 e foi vice-campeão mundial em 2018, garantindo a subida ao MotoGP através da Tech3 para depois saltar para a equipa de fábrica em 2021. Ao todo, no Campeonato do Mundo de MotoGP, leva quatro vitórias, seis pódios e uma pole-position, tendo como melhor resultado global o 9.º lugar da classificação geral de 2020.