O administrador do distrito de Memba, na província de Nampula, Moçambique, disse esta terça-feira à Lusa que se suspeita que os mesmos grupos armados que aterrorizam Cabo Delgado tenham atacado uma outra aldeia da província na noite de domingo.
Segundo Juma Cadria, o mesmo grupo que invadiu a aldeia de Kútua na sexta-feira, no extremo norte da província de Nampula, é suspeito de ter atacado às 22h00 de domingo a aldeia de Minhanha, em Memba, uma vez que “são aldeias vizinhas“.
“Estamos a supor que esta incursão tenha sido uma tentativa de dispersar a população” para os agressores “roubarem comida, além de dispersarem também as forças de defesa e segurança que estão na região”, disse Juma Cadria.
Segundo o responsável, o grupo queimou residências e roubou bens da população, que fugiu para zonas próximas, deixando a aldeia de Minhanha “vazia”.
Ataques em Moçambique. Autoridades suspeitam de alastramento para Nampula
As autoridades acreditam que se trata dos grupos armados que fogem de Cabo Delgado para Nampula, província vizinha, para recrutar mais pessoas para “engrossar as suas fileiras“.
“Em Cabo Delgado estão a ser fustigados, encontram-se numa situação de fragilidade, então, tentam recrutar mais pessoas, mas esta ginástica não está a ser fácil porque, deste lado, também há uma pressão”, frisou o administrador de Memba.
Esta é a segunda vez que províncias vizinhas de Cabo Delgado (norte do país) são alvo de ataques semelhantes aos que ali têm acontecido – e onde também está por esclarecer quem protagoniza a violência.
Em dezembro de 2021, houve a mesma suspeita em relação a ataques em zonas da província do Niassa que fazem fronteira com Cabo Delgado.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde há um ano por forças do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas levando a uma nova onda de ataques noutras áreas, mais perto de Pemba, capital provincial.
Há cerca de 800 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
Estima-se que metade da população afetada sejam crianças e jovens até aos 20 anos, reflexo da pirâmide etária do país.