Um dia de descanso puro, o regresso numa espécie de “descanso ativo”. Passadas as emoções na Serra Nevada, onde Remco Evenepoel perdeu alguns segundos de vantagem sem deixar com isso de estar na liderança, a Vuelta regressava com uma 16.ª etapa entre Sanlúcar de Barrameda e Tomares que seria uma das últimas oportunidades para os principais sprinters ainda restantes na edição depois da desistência de Sam Bennett (contraiu Covid-19), casos de Mads Pedersen, Pascal Ackermann ou Kaden Groves, tentarem colocar as equipas a controlarem fugas para decidirem a vitória no final. Entre os líderes, muitos cuidados agora e na chegada de quarta-feira a Monasterio de Tentudía porque a seguir vêm todas as decisões.

Remco Evenepoel com vantagem “cómoda, mas não definitiva” na Vuelta

Para Evenepoel, a vantagem de 1.34 minutos para tentar conservar entre o Alto del Piornal e o Puerto de Navacerrada com o objetivo de ganhar a primeira grande volta que termina aos 22 anos (em 2021 esteve no Giro mas desistiu). Para Primoz Roglic, vencedor das últimas três edições e atual segundo classificado, as derradeiras tentativas para fintar em conjunto com a Jumbo a incapacidade de bater o líder da Quick-Step em montanha numa imagem que começou a ser vista na chegada a Pico Jano. Para Enric Mas, a última hipótese de recuperar os 27 segundos de atraso para Roglic e repetir a segunda posição na Vuelta de 2018 e 2021. O pódio parece decidido mas há muito ainda por contar. E é aqui que entra João Almeida.

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Apesar de nunca ter assumido objetivos concretos antes do início da Volta a Espanha, o português frisou que não estava no momento que mais desejava para a segunda grande volta do ano após ter sido obrigado a desistir no Giro quando ocupava a quarta posição mas revelou também que “um top 5 ou a vitória numa etapa já seria um bom resultado”. Com o passar dos dias, o contexto para entrar numa das cinco melhores posições mudou com a subida na classificação do companheiro Juan Ayuso (quarto) e com a liderança por equipas da UAE Emirates. No entanto, Almeida queria ainda ter uma palavra a dizer. “Se tivermos oportunidade de ganhar tempo, vamos tentar. Trabalharemos juntos, como sempre. Estamos bem e temos de tentar”, comentou o corredor de A-dos-Francos no dia de descanso em Sanlúcar de Barrameda.

Emoção não faltará nos próximos dias. Até lá, é altura de brilharem os conjuntos com elementos que são mais rápidos nas chegadas e os sprinters. E foi isso que aconteceu na chegada a Tomares, apesar de ter havido muito mais para contar em relação aos primeiros classificados da geral individual.

O dia começou com o anúncio das desistências de Maxim Van Gils e de Esteban Chaves e prosseguiu com Ander Okamika (Burgos-BH) e Luis Ángel Maté (Euskaltel-Euskadi) a protagonizarem a fuga do dia desde os quilómetros iniciais da tirada, chegando a ter quase 3.30 minutos de vantagem. Com a Trek e a Cofidis a pegarem na cabeça do pelotão, a diferença foi encurtando e a fuga foi mesmo anulada a 14 quilómetros do final. Ainda assim, foi mais um grande dia para Sierra Bermeja, no sul de Espanha. Confuso?

O triunfo na etapa foi para Pedersen mas o vencedor do dia foi mesmo o experiente Luis Ángel Maté (38 anos), corredor que antes da Vuelta começar se tinha comprometido a plantar uma árvore por cada quilómetro que conseguisse estar em fuga. “Preferia não ter começar nada disto mas infelizmente, como todos sabem, no último ano um terrível incêndio destruiu a Sierra Bermeja. É a minha casa, o meu escritório”, referira antes do início da competição. A par disso, Maté começava com uma doação de 100 árvores, mais 200 da organização da Vuelta e mais 300 da Euskaltel-Euskadi. Antes desta etapa, a conta do corredor espanhol já ia em mais de 400 árvores só suas pelas fugas nos Países Baixos e em Espanha. Esta terça-feira, foram mais 175, para um total que já chega aos 600 (fora quem se associou) à iniciativa.

Contudo, os últimos quilómetros acabaram por ter mais história do que se poderia à partida pensar: após tentativas anuladas de fuga a caminho da meta, Remco Evenepoel teve um furo a 1,5 quilómetros do final e teve de encostar a bicicleta, ao passo que Primoz Roglic, que tinha fugido e estava na discussão da etapa, sofreu uma queda na última reta, chegando à meta com várias feridas no braço e nas pernas. Ainda assim, apesar desse infortúnio, o esloveno conseguiu reduzir em oito segundos a distância para o belga, que se cifra agora em 1.26 minutos. João Almeida foi 27.º na etapa e mantém a sétima posição.