Três vitórias consecutivas, três pontos conquistados na Alemanha, três golos de Trincão em dois jogos. O Sporting chegava ao encontro com o Tottenham no melhor momento desde que a temporada começou — algo que, tendo em conta o arranque em falso dos leões, até nem era muito complicado de alcançar. Depois da noite de glória europeia contra o Eintracht Frankfurt, a equipa de Rúben Amorim procurava uma noite de glória europeia contra os spurs.

Na antevisão, o treinador leonino explicou que o Sporting cresceu desde a fase de grupos da época passada. “O mais importante é que mudámos a forma como olhamos para nós. Sabemos que é possível, que estamos a crescer. Mesmo perdendo jogadores, nota-se que somos uma equipa mais madura e preparada para estes jogos. Não interessa muito como olham para nós. Tenho a certeza de que a maior parte das pessoas da Europa olha para nós como a equipa mais fraca do grupo e nós gostamos disso. Acreditamos que é possível, queremos ganhar e esse é o nosso objetivo para amanhã”, disse Amorim.

Ficha de jogo

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Sporting-Tottenham, 2-0

Fase de grupos da Liga dos Campeões

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Srđan Jovanović (Sérvia)

Sporting: Adán, Gonçalo Inácio, Coates, Matheus Reis, Pedro Porro, Morita (Alexandropoulos, 71′), Manuel Ugarte, Nuno Santos (Ricardo Esgaio, 90+2′), Trincão (Paulinho, 76′), Marcus Edwards (Arthur, 90+2′), Pedro Gonçalves

Suplentes não utilizados: Franco Israel, André Paulo, Rochinha, Fatawu, José Marsà, Flávio Nazinho

Treinador: Rúben Amorim

Tottenham: Lloris, Romero, Eric Dier, Ben Davies, Emerson, Højbjerg, Bentancur, Perisic, Son Heung-min (Kulusevski, 72′), Richarlison, Harry Kane

Suplentes não utilizados: Ben Foster, Matt Doherty, Oliver Skipp, Sánchez, Bryan Gil, Ryan Sessegnon, Tanganga, Lenglet, Bissouma, White

Treinador: Antonio Conte

Golos: Paulinho (90′), Arthur (90+3′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Bentancur (61′), a Morita (63′), a Matheus Reis (75′), a Emerson (81′), a Højbjerg (84′)

Do outro lado, num Tottenham que está a realizar um bom início de temporada, que ainda não perdeu esta época e que venceu o Marselha em Londres na primeira jornada da Liga dos Campeões, Antonio Conte recordou as dificuldades que as equipas portuguesas criam “sempre” — e deixou elogios ao treinador português. “Tenho muito respeito por ele, já mostrou que é um treinador muito bom, mesmo sendo novo. Está a fazer um trabalho fantástico, ganhou a Liga passados vários anos e é sempre difícil jogar contra equipas portuguesas”, indicou o técnico italiano.

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Era neste contexto que o Sporting recebia o Tottenham em Alvalade. Sem Jeremiah St. Juste, que se lesionou na Alemanha, e também sem Luís Neto, que se lesionou contra o Portimonense, Amorim lançava Matheus Reis no trio defensivo e Nuno Santos no corredor esquerdo, sendo que Ugarte e Morita atuavam no meio-campo e que Trincão, Edwards e Pote surgiam no setor mais adiantado. Do outro lado, depois de um fim de semana em que a equipa descansou — a partida contra o Manchester City foi adiada devido à morte da Rainha Isabel II –, Conte não surpreendia e colocava Son, Richarlison e Harry Kane no ataque, optando por Ben Davies em detrimento de Lenglet na esquerda da defesa.

A partida arrancou da forma expectável, com o Tottenham a assumir a maioria da posse de bola e o Sporting a optar por juntar as linhas no próprio meio-campo e sair essencialmente em transição rápida. Foi assim que Pote teve a primeira oportunidade do jogo, ao rematar para defesa de Lloris após uma arrancada de Edwards (7′), e os ingleses iam explorando essencialmente o corredor esquerdo do ataque — Ben Davies integrava-se muito bem na movimentação ofensiva da equipa, Perisic explorava os espaços interiores para oferecer a ala ao defesa e Pedro Porro ia tendo algumas dificuldades não só para defender as investidas de ambos como também para sair com a bola controlada.

O Tottenham teve o encontro controlado essencialmente no quarto de hora inicial, onde a pressão alta não permitia que o Sporting saísse a jogar de forma frequente, mas os leões souberam ir recuperando metros e espaço, discutindo a posse de bola de igual para igual a partir da meia-hora e construindo a partir do meio-campo. Richarlison teve duas ocasiões de perigo nesta altura, primeiro com um remate contra um adversário (25′) e depois com um cabeceamento que Adán encaixou (25′), e o jogo começou a partir, abrindo espaços não só no meio-campo leonino como também no inglês.

Trincão também ficou perto do golo num contra-ataque, atirando ao lado de fora de área (26′), e o Sporting ia defendendo de forma eficaz através da armadilha do fora de jogo: o trio de centrais leonino respondia aos ataques adversários muito subido e inviabilizava a profundidade de Kane, Son ou Richarlison, algo que ficou claro quando o avançado brasileiro viu um golo ser anulado por posição irregular após assistência do inglês (42′). Nos descontos, o Sporting ficou muito perto de abrir o marcador, com Edwards a passar por vários adversários com a bola controlada para depois fazer a tabela com Trincão, mas Lloris defendeu o remate do avançado com alguma sorte à mistura (45+2′).

Ao intervalo, Sporting e Tottenham estavam ainda empatados sem golos mas os leões saíam com algum ascendente — não só pela incrível oportunidade de Edwards mas também pela resposta que iam dando ao favoritismo dos ingleses. A equipa de Rúben Amorim mantinha-se fiel à sua identidade, mesmo correndo riscos no setor mais recuado por insistir em sair com a bola no pé e não bater na frente, e os números não mentiam: no fim da primeira parte, o Sporting tinha mais posse de bola, mais passes completos e maior precisão de passe.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e depressa se percebeu que o Tottenham tinha a indicação de explorar as costas de Nuno Santos: nos minutos iniciais, Adán evitou duas vezes o golo de Emerson, primeiro com um cabeceamento (48′) e depois com um remate (49′), porque o ala leonino permitiu que o brasileiro fugisse. O Sporting entrou mal na segunda parte, falhando muitos passes na primeira fase de construção e sem capacidade para passar do meio-campo, e o Tottenham ia insistindo com cruzamentos para a grande área à procura da superioridade física dos jogadores ingleses.

Os leões, porém, aguentaram a pressão elevadíssima dos primeiros 10 minutos do segundo tempo e conseguiram voltar a equilibrar algo mais o jogo, conquistando metros e empurrando o adversário para o próprio meio-campo. A partida afastou-se das balizas e centrou-se nos duelos no setor intermédio sem perder intensidade e Pote obrigou Lloris a uma defesa apertada (67′) mesmo antes de Harry Kane falhar por centímetros o desvio após cruzamento de Perisic (71′). Nesta altura, a cerca de 20 minutos do fim, Amorim mexeu pela primeira vez e trocou Morita por Alexandropoulos, com Conte a responder com a entrada de Kulusevski para o lugar de Son e o treinador português a colocar Paulinho em campo pouco depois.

A história fez-se já nos descontos, após Lloris evitar o golo de Pedro Porro (90′) e numa altura em que Alvalade já se congratulava pelo ponto conquistado com o empate. Canto batido na esquerda e Paulinho, ao primeiro poste e com um desvio subtil de cabeça, abriu o marcador (90′). Amorim ainda lançou Esgaio e Arthur nos descontos, promovendo a estreia absoluta do avançado contratado ao Estoril no último dia do mercado, e o brasileiro decidiu mostrar-se: pegou na bola na esquerda, passou por dois adversários e atirou rasteiro e cruzado à saída de Lloris (90+3′).

O Sporting venceu o Tottenham em Alvalade e leva duas vitórias em duas jornadas da Liga dos Campeões, coroando da melhor forma uma exibição para lá de competente e muito positiva e impondo a primeira derrota da época ao terceiro classificado da Premier League. Num dia em que não quis desmontar o trio ofensivo que tem sido titular desde a lesão de Paulinho, Rúben Amorim ganhou o jogo no momento em que lançou o avançado em que sempre confiou. E Paulinho nunca se esqueceu de que é a lâmpada do génio do treinador.