Esta terça-feira, Peiter Zatko, o antigo chefe de segurança do Twitter, faz as primeiras declarações em público após a divulgação da denúncia sobre as alegadas vulnerabilidades de segurança da rede social. A denúncia, que foi avançada no mês passado pelo Washington Post e pela CNN, mencionava ainda que a empresa estaria a violar um acordo feito com a FTC, a Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos, em 2011, em que se comprometia a pôr em prática um plano de segurança.
Após a publicação da denúncia – que chegou também às mãos da SEC, o regulador de mercados, e ao Departamento de Justiça – o Congresso norte-americano chamou o antigo chefe de segurança para prestar declarações perante o Senado. Zatko, que também é um conhecido “hacker” apelidado de “Mudge”, vai responder às questões dos senadores que integram o Comité Judicial.
Horas antes do início da audição, que arrancará às 15 horas desta terça-feira (hora de Lisboa), os senadores enviaram uma carta ao CEO do Twitter, Parag Agrawal, onde pressionam a companhia para responder às declarações feitas por Peiter Zatko na denúncia.
Na missiva, que é assinada pelos senadores Dick Durbin e Chuck Grassley, tentam obter mais respostas, tendo em conta que, “à luz das alegações” feitas pelo antigo chefe de segurança surgem “sérias preocupações devido ao papel relevante do Twitter no panorama de comunicações nos Estados Unidos”.
“Caso a denúncia seja correta, as alegações do senhor Zatko demonstram um desrespeito inaceitável pela segurança de dados que ameaça a segurança nacional e a privacidade dos utilizadores do Twitter”, é possível ler.
Entre as dezenas de questões feitas ao CEO do Twitter há espaço para perguntas relativas à proteção de dados dos utilizadores tendo em conta “ameaças que surgem de inteligência estrangeira”, por exemplo. Neste tema, são feitas perguntas sobre os procedimentos de segurança da rede social sobre tentativas de intrusão de governos estrangeiros ou ainda sobre as competências das equipas de segurança do Twitter para conseguir determinar se houve ou não acesso a dados de utilizadores.
Os senadores querem ainda saber de que forma é que os trabalhadores localizados noutros países conseguem estar protegidos da influência de outros governos ou ainda sobre como é feito o processo de recrutamento de trabalhadores para tentar despistar “potenciais ligações a serviços de inteligência externa”. Neste ponto, o Comité Judicial quer saber mais sobre “que processos de filtragem adicionais, se é que existem”, foram implementados após se ter descoberto que um antigo trabalhador da rede social seria um agente com ligações à Arábia Saudita.
O tema do respeito ao acordo firmado com a FTC ou qual o grau de acesso dos empregados da companhia a sistemas críticos para a empresa também figuram nesta carta. Os senadores querem ainda que seja apresentado pelo Twitter um relatório independente sobre a abordagem da empresa ao tema de desinformação e uma lista completa de agências governamentais, estrangeiras e domésticas, que já pediram à empresa para retirar conteúdos da plataforma.
É ainda estabelecido um prazo para que o Twitter dê resposta a todas estas perguntas: 26 de setembro.
As perguntas feitas ao Twitter pelos senadores permitem ter um vislumbre de algumas das principais questões que poderão ser feitas a Peiter Zatko.
Zatko foi contratado em novembro de 2020 para trabalhar na área de segurança do Twitter. A contratação foi feita ainda por Jack Dorsey, fundador e ex-CEO da rede social. Zatko foi despedido já este ano, em janeiro, pelo novo CEO da empresa, Parag Agrawal.
O Twitter tem feito poucas declarações sobre os temas que são abordados na denúncia do antigo empregado. A principal reação da companhia foi a de contestar as acusações e mencionar a “falsa narrativa” de Zatko. A empresa apontou ao antigo empregado “um sentido oportunista de infligir danos ao Twitter, aos seus clientes e acionistas”, justificando que o despedimento foi motivado por “desempenho e liderança fraca”.
O “hacker” da velha guarda que lançou mais uma acha para a fogueira do Twitter
A denúncia foi feita num momento em que o Twitter se prepara para uma batalha judicial com Elon Musk. A rede social quer que o homem mais rico do mundo cumpra com o acordo para compra da empresa, por 44 mil milhões de dólares. Em julho, Musk desistiu da compra, alegando que o Twitter não estava a prestar toda a informação sobre o número de contas falsas na plataforma.
O Twitter processou Elon Musk e a 17 de outubro tem início o julgamento, no Tribunal de Delaware, nos Estados Unidos.
Acionistas do Twitter deverão aprovar venda a Musk
Esta terça é um dia agitado para o Twitter. Além da audição no Senado, onde a segurança da companhia promete ser fortemente escrutinada, é também o último dia para que os acionistas possam votar na operação de venda da rede social a Musk.
A votação está na agenda da empresa há algum tempo. Esta questão é descrita como uma formalidade e continua a acontecer apesar da desistência de Musk e do julgamente de outubro. O facto de não ter sido retirado da agenda da empresa poderá sinalizar que a companhia continua a levar o negócio a sério.
De acordo com a Reuters e o Wall Street Journal, os acionistas do Twitter deverão votar a favor da venda a Musk. Citando fontes com conhecimento do assunto, estes dois meios referem que, até esta segunda, já haveria votos suficientes a favor da operação.