“Ocorre-me que, para ambos os meus pais, os 50 pareceram ser um reconhecimento. Para a minha mãe, foram um culminar do maravilhoso, dos pontos altos, dos amores, da arte. Para o meu pai, foram um culminar das suas mágoas.” As palavras são da atriz Gwyneth Paltrow, que publicou no site da Goop, a sua empresa, uma reflexão sobre a sua própria chegada ao marco dos 50. O seu aniversário assinala-se esta terça-feira, 27 de setembro.
Se para a mãe foi uma data carregada de alegrias e para o pai esteve envolta em tristezas, como é que encara a sua própria experiência? “Compreendo a um certo nível que a vida é linear, que, até agora, já tenho mais dias metidos no cesto do que aqueles que tenho no terreno à minha frente. Mas há algo na doçura da vida que existe profundamente dentro de mim e que se mantém inalterado, que não muda. É a essência da essência. Parece estar a ficar mais doce”, escreve no texto que intitulou “On Approaching 50” (ou “sobre a aproximação dos 50”, em tradução livre).
Para os filhos, Apple e Moses (ambos do casamento com Chris Martin), espera que as memórias deste seu aniversário se posicionem algures entre aquelas que guarda dos seus pais. “Espero que me consigam sentir todas as coisas e que retenham a complexidade dessa noção. […] E que eu não saberei realmente o que foi fazer 50 até muito mais tarde, quando conseguir refletir de um poleiro mais alto, talvez num dos seus quinquagésimos aniversários, de corações cheios e simultaneamente partidos (como assim é a vida).”
As origens
Se, em tempos, Paltrow acumulava projetos cinematográficos uns atrás dos outros, atualmente leva uma vida mais pacata, focada no bem-estar e na sua empresa, Goop, que começou como uma newsletter em 2008 e hoje vende produtos para a casa, cosméticos, roupas e até pacotes de viagens. Em 2020, tornou-se viral quando lançou uma vela de 67€ que “cheirava à sua vagina” — “This Smells Like My Vagina” era o nome —, mas veio mais tarde esclarecer que se tratava de uma brincadeira. Não sem antes conquistar ainda mais antipatias daqueles que a consideram “irritante”, “demasiado certinha”, ou mesmo “detestável”, coisas que os media a acusaram de ser ao longo dos anos. Em 2013, foi a primeira na lista de “estrelas de Hollywood mais odiadas” da revista Star (que mudou de nome para InTouch).
Gwyneth Kate Paltrow nasceu em 1972 em Los Angeles, filha da atriz Blythe Danner e do produtor de cinema Bruce Paltrow, um casal bem sucedido de Hollywood. A família do pai tinha emigrado para os Estados Unidos vinda da Bielorrússia. Como este era judeu e a mãe cristã, em sua casa celebravam-se festas de ambas as religiões. Chegou a estudar antropologia na Universidade da Califórnia, mas o sonho já era a representação desde miúda. Estreou-se no cinema aos 17 anos graças ao pai, com uma participação no filme televisivo “High”, mas as suas grandes oportunidades chegariam em 1991 com “Shout”, a contracenar com John Travolta, e “Hook”, uma adaptação de Peter Pan realizada por Steven Spielberg.
Ao longo dos anos, acumulou 52 nomeações a prémios da indústria e ganhou 23, entre eles o Óscar de melhor atriz com “A Paixão de Shakespeare” (1999), que também lhe valeu um Globo de Ouro de melhor atriz numa comédia ou musical. “O Talentoso Mr. Ripley”, “O Amor é Cego”, “Sylvia”, “Homem de Ferro” e “Contágio” estão entre os trabalhos mais marcantes da sua carreira no cinema.
As relações
Entre 1994 e 1997, Paltrow e Brad Pitt foram o casal sensação de Hollywood. Em 2020, a atriz disse à Harper’s Bazaar que mantinha uma relação “amigável” com o ator e que não existem quaisquer ressentimentos entre os dois. Conheceram-se nas filmagens de “Sete Pecados Mortais” e começaram a namorar. Chegaram mesmo a estar noivos em 1996, poucos meses antes de terminarem a relação. “Ele era tão bonito e doce”, declarou a Howard Stern numa entrevista em 2015, em que revelou que o seu pai ficou “devastado” quando a relação acabou.
Em 2022, foi o próprio ator que recordou a boa relação que manteve com Bruce Paltrow no podcast da atriz, Goop. “Nunca me vou esquecer de quando ficámos noivos e ele veio ter comigo um dia, com os olhos cheios de lágrimas, e disse: ‘Sabes, nunca tinha realmente percebido o que queriam dizer quando diziam que se ganha um filho. Eu estou a ganhar um filho’.”
Em 1997, conheceu Ben Affleck nas gravações de “A Paixão de Shakespeare” e os dois namoraram até 2000, mesmo antes de o ator começar a sua primeira relação com Jennifer Lopez, de quem esteve noivo pela primeira vez em 2001 — recorde-se que Ben e J.Lo casaram mesmo este ano, depois de quase 20 anos separados — antes da relação terminar, em 2003. A propósito da separação do ex, perguntaram a Paltrow em 2003 se estaria surpreendida com o rompimento do noivado. “O Ben torna a vida difícil para ele próprio”, respondeu Paltrow. “Ele tem muitos problemas e, sabe, ele é mesmo um bom homem. Por isso espero que se consiga resolver.”
Teve uma relação breve e discreta com Luke Wilson, que conheceu nas gravações de “Os Tenenbaums”. Não durou muito tempo. Conheceu Chris Martin em 2002, durante uma tournée dos Coldplay. “É engraçado porque as pessoas já tinham começado a escrever que estávamos juntos e nós ainda nem nos tínhamos conhecido”, contou à US Weekly em 2013. “E de repente ele estava em Los Angeles a dar um concerto e uma atriz por quem ele tinha uma paixoneta ia supostamente estar presente. Quando ela não apareceu, ele ficou tão irritado que disse ‘Isto é para a minha namorada, Gwyneth Paltrow’.”
Perguntavam-lhe o que se passava entre si e o cantor e respondia “nunca conheci este tipo, não faço ideia”. Ironicamente, foi exatamente por isso que acabaram por se conhecer. “Tinham escrito tanto [sobre nós] na imprensa que a assistente dele veio ter ao lugar onde estava sentada no seu concerto. Disse-me ‘Isto é uma loucura, mas pode vir lá atrás dizer olá, depois?’ E foi assim.”
Casaram em dezembro de 2003, depois de um ano de namoro. Em 2004, nasceu a primeira filha, Apple, e Moses, o segundo, nasceu em 2006. Com o passar do tempo, a relação foi mudando. A atriz recorda-se de perceber que as coisas estavam diferentes durante uma viagem a Itália, em 2010. “Não me lembro do dia que era nem da hora. Mas soube — apesar das longas caminhadas e do tempo ainda mais longo que passámos deitados, dos grandes copos de Barolo e das mãos dadas — que o meu casamento tinha acabado“, escreveu na Vogue em setembro de 2020, num artigo sobre a sua “separação consciente”. Chris e Gwyneth seguiram caminhos separados quatro anos depois da viagem a Itália, em 2014, e o divórcio ficou finalizado em 2016.
Em 2014, conheceu Brad Falchuk, co-criador da série “Glee”, onde Paltrow participou como atriz convidada. Estavam os dois a passar por separações (ele tinha sido casado com a produtora Suzanne Bulnik durante 20 anos) e a relação profissional tornou-se rapidamente romântica. Casaram em 2018 e tornaram-se célebres pelas declarações públicas de amor que fazem um ao outro. “Esta é a mulher mais bonita de todos os tempos e hoje é o seu aniversário. Temos todos tanta sorte por ela ter vindo ao mundo (mas ninguém tem mais sorte do que eu)”, escrevia Falchuk na sua conta de Instagram, em 2017. No passado, a propósito do seu 49.º aniversário, escreveu-lhe uma extensa mensagem na mesma rede social que se encheu de comentários como: “Espero ser amada desta forma um dia.”
A Goop
Em 2008, Gwyneth Paltrow lançou a Goop “a partir da sua cozinha”, como descreve o site da empresa, como uma newsletter semanal ligada à alimentação saudável. O nome veio de uma conversa com o designer Peter Arnell, que lhe disse que todas as empresas de sucesso tinham dois “O” no nome. Pôs as suas iniciais no princípio e no fim e assim ficou. Em 2019, já era um império avaliado em 250 milhões de dólares, uma plataforma de e-commerce onde se concentram produtos alimentares, cosméticos, têxteis, decoração, viagens e artigos relacionados com a sexualidade. A premissa inspirou-se no seu próprio interesse pela indústria do bem-estar.
Goop de Gwyneth Paltrow faz 10 anos. Lembra-se destas polémicas?
Com todo o sucesso do projeto, vieram também muitas críticas, aliadas sobretudo a certas filosofias promovidas pelo site, como a de “eliminar as comidas brancas” do regime alimentar. Mais tarde, muitos se insurgiram por vender Sex Dust, ou “pó de sexo”, em tradução livre, um “elixir” que prometia estimular o “fluxo sexual” em homens e mulheres, sem grandes bases científicas que o sustentassem. Esgotou rapidamente, tal como as velas “This Smells Like My Vagina” (que já tinha sido mencionada neste artigo) e “This Smells Like My Orgasm” (“isto cheira ao meu orgasmo”, em português), produtos que se juntaram aos “discos vaginais” e a tantos outros ligados à sexualidade — e que fizeram muita gente levantar o sobrolho. Em duas situações, a marca foi mesmo posta em tribunal por alegações de que as velas tinham explodido nas casas dos seus clientes.
Em 2020, o projeto ganhou uma série na Netlfix, “Goop Lab”, onde vários especialistas falam sobre tópicos ligados ao bem-estar e à sexualidade. Em 2021, seguiu-se “Sex, Love & Goop”. O seu último papel como atriz foi em 2019, em “The Politician”. Desde então, tem estado completamente dedicada à empresa e até declarou ao programa de telvisão norte-americano Today, citado pela Harper’s Bazaar, que não tinha “saudades nenhumas” de representar. “Acho que sou uma sortuda por tê-lo feito e tenho a certeza que ainda o farei, em algum momento. A equipa está sempre a tentar pôr-me a fazer um filme, mas eu gosto mesmo do que faço.”