Várias jogadoras da equipa de futebol feminino sénior do Rio Ave, com idades entre os 18 e os 20 anos, acusam o seu antigo treinador, Miguel Afonso, de assédio sexual, revela o jornal Público esta quinta-feira. O técnico, que orienta agora a equipa feminina do Famalicão, já reagiu, descrevendo as acusações como um “esquema” de que se irá “defender”.
Segundo o Público, que diz ter tido acesso a várias mensagens escritas e de voz trocadas entre as atletas e o treinador, Miguel Afonso enviou várias mensagens de teor impróprio às jogadoras. Chegou a ser confrontado por pessoas próximas das atletas. Num dos casos, a jogadora diz que foi “afastada” como retaliação. No outro, o treinador terá respondido ao namorado de uma das vítimas que tudo não passava de uma “brincadeira”.
Uma das jogadoras, de 19 anos, denunciou ao jornal que uma das primeiras mensagens que recebeu do treinador foi imediatamente de teor íntimo: “Gostas de mulheres ou de homens?”, ter-lhe-á perguntado Afonso ainda durante a pré-temporada de 2020/2021. “Perguntava-nos se queríamos ganhar ou perder peso. Conforme a nossa resposta, pedia invariavelmente que lhe enviássemos fotos, mas queria segredo”, revelou outra atleta, também de 19 anos. O treinador pediu inclusivamente vídeos a uma das jogadoras, dizendo que queria ver os seus “movimentos corporais”.
O Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol confirmou entretanto ao Observador que vai abrir um processo disciplinar para investigar o caso.
Famalicão foi alertado para denúncias das jogadoras
Contactado pelo jornal, o treinador não quis comentar o caso. “Não sei onde querem chegar com isso e que tipo de conversas são essas”, afirmou. Depois de a peça ser publicada, Miguel Afonso reagiu na sua conta de Instagram, agradecendo aos que “manifestaram apoio”. “Continuo forte e focado, e com calma e alma me defenderei deste esquema criado”, escreveu.
Miguel Afonso começou a sua carreira em 2019, no Bonitos de Amorim, chegando ao Rio Ave na época seguinte. Em 2021, saiu para o Ovarense. Este ano, foi contratado pelo Famalicão. Três dias depois, uma empresária das jogadoras informou o presidente do clube, Jorge Silva, sobre as acusações que pendem sobre o treinador. O dirigente terá dito que a situação estava resolvida. Contactado pelo Público, Jorge Silva afirmou apenas que “estes assuntos não devem ser falados pelo telefone”.
Também o diretor desportivo do clube, Samuel Costa, estava a par das denúncias que vinham dos tempos do Rio Ave, mas desvalorizou a situação. “Houve umas empresárias de jogadores(as) que me deram conhecimento de um boato, sem qualquer tipo de prova”, disse ao jornal. “Ligaram-me com insistência na semana em que o treinador foi contratado para que fosse despedido. Questionámos naturalmente o técnico e ele garantiu-nos que era tudo mentira. Nós acreditámos.”
Rio Ave teve conhecimento de “abordagens despropositadas” e não renovou contrato por metodologias “não consensuais”
O Rio Ave, clube onde o treinador esteve na época de 2020/2021 — altura em que terão sido enviadas estas mensagens —, emitiu entretanto um comunicado onde diz que no final da época também teve conhecimento de “alguns comentários circunstanciais relatados por atletas”, nomeadamente “abordagens despropositadas do treinador”.
O clube de Vila do Conde diz que confrontou Miguel Afonso, que negou as acusações, e que não avançou com nenhuma ação disciplinar “a pedido das atletas”.
Contudo, confirma que não renovou o contrato do técnico no final da temporada por considerar “que a gestão de grupo e as metodologias não eram consensuais e adequadas”. Assim, apesar do “rendimento positivo da equipa” nessa época, Miguel Afonso não renovou contrato.