Os sindicatos que representam os trabalhadores da TAP condenam esta quarta-feira a compra de carros de luxo para as chefias feita pela companhia aérea. Confessam estar “surpreendidos” e “revoltados”, afirmam que não foram informados pela empresa e admitem avançar com protestos nas próximas semanas. Em causa está a notícia avançada pela TVI/CNN Portugal, segundo a qual a TAP encomendou uma nova frota de automóveis BMW para a administração e gestores.

Em declarações ao Observador, o presidente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) admite que ficou “incrédulo” ao saber da notícia através da comunicação social. Tiago Faria Lopes afirma que a compra de uma nova frota “é imoral” e “irresponsável”.

É uma questão de justiça social. À mulher de César não lhe basta parecer séria: tem que ser séria. A administração tem de ser um exemplo e não o tem sido. Eu tinha esperança que isto fosse uma fase de adaptação da presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, mas já percebi que não: é um ato contínuo de desgoverno completo e não há ninguém da tutela que exija responsabilidades”, lamenta.

Tiago Faria Lopes acrescenta mesmo: “Não me venham dizer que este ato de gestão está no plano de reestruturação da TAP, plano esse que ninguém conhece”.

TAP encomenda dezenas de BMW para administradores executivos e diretores de topo

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Em comunicado, o SPAC já tinha condenado a decisão da TAP. O sindicato que representa os pilotos da companhia aérea portuguesa sugere à empresa “a mesma lógica de ‘gastar mais, para poupar’ para a reposição de dignidade aos trabalhadores”.

Também o presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) é duro nas críticas. Ao Observador, Ricardo Penarroias afirma que “a mudança de frota é estranha” tendo em conta o contexto financeiro da TAP.

Se existe esforço, tem de ser de todos e não de apenas de alguns. O exemplo tem de vir de cima. Parece-me questionável que a empresa tenha poupado dinheiro com esta mudança de frota”, considera Ricardo Penarroias.

O presidente do SNPVAC fala numa “paz social muito ténue” na TAP e num “aglomerado de situações que causa desconforto e revolta nos trabalhadores”. “Se a companhia continuar a tomar decisões erradas desta maneira, que faltam ao respeito aos trabalhadores, caminharemos para decisões mais radicais”. Questionado pelo Observador se pode estar à vista uma nova greve destes trabalhadores, Ricardo Penarroias não confirma, mas avisa que “até ao final do ano é muito provável que haja uma situação mais radical”.

Ouça aqui as reações dos dirigentes sindicais:

As notícias das 19h

Também ao Observador, o presidente da direção do Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (SITEMA) afirma que “havia outras prioridades” para a aplicação do valor investido.

Mais importante que a questão racional, em termos económicos, é a questão moral. Nós estamos a viver um momento dificílimo. A empresa fecha-se, dizendo que não pode alterar aquilo que são as condições negociadas nos acordos de emergência e depois vemos estes gastos. A renovação da frota não é, com toda a certeza, a questão mais urgente para resolver na empresa”, afirma Paulo Manso.

O dirigente do SITEMA adianta que também soube da notícia através da comunicação social. Entretanto, Paulo Manso adianta que a administração enviou um e-mail aos trabalhadores a “explicar o racional da medida”.

Questionado sobre se os sindicatos podem avançar para ações de protesto, Paulo Manso não exclui “uma reação mais energética”. 

TAP diz que renovação da frota automóvel permite poupar 630 mil euros por ano

A TAP reagiu à notícia avançada pela TVI e CNN Portugal horas depois, para justificar que a medida permite uma poupança de 630 mil euros por ano. Mas sem indicar qual o valor do investimento nesta renovação.

A Comissão Executiva quer esclarecer que a TAP dispõe de uma frota automóvel corporativa para a administração e diretores, em regime de renting operacional. Com a opção que fizemos, estamos a poupar anualmente até 630 mil euros, se tivéssemos mantido os carros que temos hoje”, refere a TAP num comunicado interno, ao qual a Agência Lusa teve acesso.

Segundo a empresa, “esta opção representa uma poupança superior a 20% do valor mensal da renda e tributação, relativamente a novos contratos de renting para viaturas com características semelhantes às atuais (gasóleo), estando em linha com o plano de reestruturação uma vez que representa o menor custo possível em sede de concurso no mercado”.

TAP diz que renovação da frota automóvel permite poupar anualmente 630 mil euros

A TAP adianta que estão em causa 50 viaturas, para o qual foi feito um concurso ao mercado, tendo sido convidadas a participar seis entidades no mercado português.

Marcelo Rebelo de Sousa: compra de carros de luxo pela TAP “é um problema de bom senso”

O Presidente da República reagiu à notícia esta quarta-feira à margem das cerimónias do 5 de outubro. Para o chefe de Estado, em causa está “um problema de bom-senso”.

Em declarações aos jornalistas, Marcelo foi claro: “Já falei em relação a várias entidades públicas no passado e em relação à distribuição de dividendos e em relação aos salários e entendo que quando se está num período de dificuldade deve fazer-se um esforço para dar o exemplo de contenção”.

Para o Presidente da República, é compreensível que as empresas façam despesas, mas avisa que é preciso “ter algum bom senso” quando o país e o mundo atravessam um “período difícil”.