Desde que a época do Benfica começou, desde que as vitórias consecutivas da equipa de Roger Schmidt começaram a acumular-se, que surgiram as habituais profecias do destino. De repente, os encarnados estavam a ganhar porque ainda não tinham tido um adversário à altura, porque é mais fácil trabalhar em cima de triunfos ou até porque ainda não tinha chegado a fase crítica dos jogos de três em três dias. Certo é que, semana a semana, o Benfica foi ultrapassando cada uma dessas provações.

Há uma semana, na Luz e contra o PSG, o empate que evitou uma derrota compreensível contra uma das melhores equipas do mundo foi suficiente para mostrar que o momento dos encarnados não é passageiro e não tem alíneas de exceção. Esta terça-feira, no Parque dos Príncipes e depois de uma jornada da Primeira Liga que até deu espaço para gerir o esforço do plantel, o Benfica voltava a defrontar o PSG já após a Juventus ser surpreendida pelo Maccabi Haifa em Israel — ou seja, com a ideia clara de que o apuramento para os oitavos de final da Liga dos Campeões já dificilmente irá escapar.

Ficha de jogo

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PSG-Benfica, 1-1

Fase de grupos da Liga dos Campeões

Parque dos Príncipes, em Paris (França)

Árbitro: Michael Oliver (Inglaterra)

PSG: Donnarumma, Sergio Ramos, Marquinhos, Danilo, Hakimi, Verratti, Vitinha (Fabián Ruiz, 86′), Bernat (Mukiele, 86′), Sarabia (Ekitike, 74′), Mbappé (Carlos Soler, 90′), Neymar

Suplentes não utilizados: Keylor Navas, Rico, Bishiabu, Zaire-Emery, Gharbi

Treinador: Christophe Galtier

Benfica: Vlachodimos, Alexander Bah (Gilberto, 63′), António Silva, Otamendi, Grimaldo, Florentino (Diogo Gonçalves, 78′), Fredrik Aursnes, Enzo Fernández, Rafa (Draxler, 78′), João Mário (Chiquinho, 90+3′), Gonçalo Ramos (Rodrigo Pinho, 78′)

Suplentes não utilizados: Helton Leite, Ristic, John Brooks, Gil Dias, Musa, João Victor, Henrique Araújo

Treinador: Roger Schmidt

Golos: Mbappé (gp, 39′), João Mário (gp, 62′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Otamendi (21′), a Sarabia (29′), a João Mário (43′), a Florentino (45+3′), a Enzo Fernández (69′), a Gilberto (84′)

“É muito difícil batê-los mas aprendemos que precisamos de ter uma performance de alto nível, muito boas ligações entre os jogadores e de estar juntos no jogo em cada momento. Em termos táticos e de mentalidade temos de estar ao mais alto nível. A chave também é acreditar em nós. É um novo jogo, com uma nova história. Temos de estar prontos para, talvez, um jogo diferente. Mas de certeza que será sempre um adversário muito forte”, explicou o treinador alemão na antevisão da partida.

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Ora, sem David Neres, que sofreu uma lesão muscular durante a semana, Schmidt lançava o onze inicial normal e só colocava Fredrik Aursnes no lugar do brasileiro. Do outro lado, Christophe Galtier não tinha Nuno Mendes, que se lesionou na Luz e era substituído por Bernat na esquerda da defesa, e também não contava com Messi, abrindo espaço a Sarabia no trio ofensivo dos franceses. Como contexto, o jogo tinha as notícias que abalaram o mundo desportivo ao longo do dia: o facto de Mbappé, alegadamente, estar insatisfeito com o PSG e desejar sair do clube já em janeiro depois de ter assinado um contrato milionário no verão.

No Parque dos Príncipes, o jogo começou morno. O Benfica tinha mais dificuldades do que as demonstradas na Luz para sair a jogar e raramente conseguia sair de forma esclarecida do próprio meio-campo. Ainda assim, a organização defensiva dos encarnados permitia estancar o fluxo ofensivo do PSG, que também não tinha grande capacidade para entrar com perigo no último terço adversário. Mbappé teve o primeiro lance mais disruptivo, com uma arrancada pela esquerda que Bah intercetou pela linha de fundo (8′), e a partida ia acontecendo principalmente através da posse de bola inconsequente dos franceses.

O primeiro remate do jogo pertenceu mesmo ao Benfica, com Rafa a atirar por cima (18′), e o PSG desequilibrava essencialmente do lado esquerdo: tanto Bah como António Silva iam tendo muitas dificuldades para corresponder à mobilidade de Neymar e Mbappé e eram traídos também pelas subidas de Bernat pela ala ou por espaços anteriores para realizar dinâmicas com os dois avançados. E foi precisamente assim, que já perto do intervalo, o PSG acabou por conseguir abrir o marcador.

Bernat arrancou, entrou na grande área com a bola controlada e foi claramente travado em falta por António Silva. Na conversão da grande penalidade, Mbappé não falhou, colocou os franceses a vencer e ultrapassou o registo de Cavani para se tornar o melhor marcador da história do PSG na Liga dos Campeões (39′). O avançado francês ainda ficou perto de aumentar a vantagem nos descontos, com um pontapé rasteiro e cruzado que Vlachodimos encaixou (45+1′), e o intervalo acabou por aparecer na altura certa para o Benfica reajustar estratégias e adequar atitudes à realidade do resultado.

No fim da primeira parte, contudo, ficava novamente claro que o momento do Benfica não é passageiro e não tem alíneas de exceção. Os encarnados controlaram o ataque do PSG em larga escala, cometendo alguns erros apenas no lado direito da defesa e nas dobras entre Bah e António Silva, e criaram perigo nas raras vezes em que chegaram à área de Donnarumma — onde a escassez de acutilância era visível principalmente em Aursnes, que ia sendo o elemento menos do conjunto. Mesmo que o resultado final, desta feita, fosse a compreensível derrota, nada apagaria a coragem da equipa de Roger Schmidt em Paris.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e Mbappé ficou perto de aumentar a vantagem logo nos minutos iniciais, com um pontapé em jeito à entrada da grande área que passou ao lado da baliza de Vlachodimos (52′). Os franceses demonstraram alguma superioridade nesse primeiro período do segundo tempo mas o Benfica equilibrou a dinâmica muito depressa, com Grimaldo a atirar à malha lateral (54′) e Gonçalo Ramos a cabecear ao lado (55′) logo depois. Os encarnados iam atravessando o melhor momento na partida, não só ao nível da posse de bola como da presença no último terço, e acabaram por capitalizar essa boa fase.

Verratti fez falta sobre Rafa na grande área, Michael Oliver confirmou a grande penalidade ao analisar as imagens do VAR e João Mário, na conversão, empatou a partida (62′). Roger Schmidt reagiu ao golo com uma substituição, trocando Alexander Bah por Gilberto para refrescar e reforçar um lado direito da defesa que estava com dificuldades desde o apito inicial, e Christophe Galtier respondeu pouco depois com a entrada do jovem Ekitike. O jogo voltou a entrar numa fase de alguma expectativa, sem grandes características nem lances de destaque, e Schmidt procurou agitar as águas já no último quarto de hora com Rodrigo Pinho, Draxler e Diogo Gonçalves.

Até ao fim, porém, já pouco aconteceu. O Benfica voltou a empatar com o PSG, com o mesmo resultado mas desta feita em Paris, e beneficiou da derrota da Juventus com o Maccabi Haifa para ficar com o apuramento para os oitavos de final da Liga dos Campeões praticamente assegurado. À quarta jornada da liga milionária, poucos diriam que os encarnados não perderam nenhum dos jogos com o PSG, ainda não sofreram qualquer derrota esta temporada e venceram a Juventus em Turim. Mas Roger Schmidt, o bom alemão, é o crente que veio para Portugal ensinar um clube a voltar a acreditar nele próprio.