A Adidas vai dispensar até 300 pessoas do centro de serviços que mantém na Maia. A marca alemã de vestuário desportivo confirmou ao Observador que haverá “mudanças na estrutura organizacional” no Global Business Services (GBS) que mantém na zona do Grande Porto, concretamente no TECMAIA, que vão levar ao corte de, pelo menos, três centenas de postos de trabalho.

Após uma denúncia anónima que chegou às redações neste domingo, que mencionava o despedimento de 500 trabalhadores, fonte oficial da Adidas confirma os cortes, justificados com o “desenvolvimento futuro das funções de serviços partilhados da Adidas”.

A empresa revela que “no futuro, certas tarefas serão desempenhadas noutras localizações fora de Portugal, e, numa segunda fase, novas responsabilidades serão criadas no Porto”.

O objetivo, refere a empresa, é “agrupar competências de forma mais uniforme em várias localizações”. A empresa afirma que “o Porto vai continuar a desempenhar um papel importante” para a Adidas.

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A dispensa de colaboradores deverá ser concretizada até ao verão do próximo ano. Os trabalhadores afetados já foram informados pela Adidas sobre o corte dos respetivos postos de trabalho, o que terá acontecido na semana passada.

A Adidas diz que “lamenta o impacto que a decisão poderá ter nos trabalhadores” e afirma estar a “tentar encontrar soluções justas para todos os trabalhadores afetados em conversas pessoais”. Destaca ainda que “uma possível transferência para outra posição no Porto terá prioridade”.

A empresa tem, atualmente, 50 vagas abertas para o centro da Maia, em áreas tecnológicas mas também de recursos humanos e contabilidade.

O Observador tentou contactar os responsáveis pela empresa em Portugal, mas os esclarecimentos foram remetidos para a casa mãe, na Alemanha. Também contactada, fonte oficial do TECMAIA, onde está instalada a empresa, num edifício próprio, também remeteu esclarecimentos para a Adidas.

Segundo os trabalhadores, que preferem manter o anonimato, a extinção dos postos de trabalho foi anunciada na passada quarta-feira, 12 de outubro, pela vice-presidente senior da empresa, Mui Florence “de forma absolutamente desumana, tratando-a friamente como uma ‘decisão de negócios justificada’ e ‘uma forma de reduzir custos e cumprir as metas financeiras de 2025′”.

Os funcionários acrescentam que os empregos extintos na Maia serão “oferecidos na Índia, para que a Adidas possa pagar salários mais baixos”. E adiantam que “nenhuma compensação será paga, pois as funções foram formalmente tratadas como ‘extintas'”.

Os trabalhadores acusam ainda a empresa de tentar “silenciar/censurar o staff” e, “pela primeira vez”, não disponibilizar a gravação da reunião na qual a notícia foi dada.

A Adidas instalou-se no TECMAIA em 2009, com um centro de serviços partilhados, focado nas áreas de faturação e gestão de pessoas, que chegou a ser considerado pela empresa como “um dos dois mais importantes GBS da Adidas no mundo”.

O projeto arrancou com 12 pessoas e em 2019 tinha cerca de 400. Nesse mesmo ano, segundo o Dinheiro Vivo, a empresa planeava duplicar o número de colaboradores em Portugal, para cerca de 800. Foi nesse ano que a Adidas inaugurou, no TECMAIA, o seu edifício próprio, com capacidade para 750 pessoas.

PCP questiona Governo sobre despedimentos

Na sequência da notícia que dá conta da extinção dos postos de trabalho na Adidas, o Grupo Parlamentar do PCP enviou questões ao Governo, nomeadamente ao Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e ao Ministério da Economia e Mar.

O partido quer saber se o Governo “conhece a situação descrita”, “quantos trabalhadores podem ser atingidos por esta decisão”, “que apoios públicos, nacionais e comunitários, recebeu a empresa e que contrapartidas
garantiu o Governo português, designadamente quanto à manutenção de postos de trabalho” e, por fim, “que medidas tomou ou pensa tomar para a defesa dos postos de trabalho referidos e para o apoio a estes trabalhadores”.

O PCP considera que o anúncio surgiu “em completa contradição com as expectativas criadas e anúncios” que a empresa tinha vindo a fazer. “São centenas de trabalhadores, altamente qualificados que, sem que nada o fizesse prever, são atirados para o desemprego por uma empresa multinacional, deixando um rasto social profundamente negativo, que o PCP não pode deixar de condenar, para além de expressar a sua solidariedade com os trabalhadores atingidos”, refere o partido.

(Notícia atualizada às 17h42 com a reação do PCP)