Uma imagem “histórica”. Tem sido este o adjetivo mais usado, nas últimas horas, para descrever a atitude da atleta iraniana Elnaz Rekabi, que decidiu competir sem usar hijab, transmitindo ao mundo mais um sinal de resistência às leis da “moralidade” impostas às mulheres no Irão.
A atleta participou este domingo na final das Competições de Escalada da Ásia, que decorriam em Seul, na Coreia do Sul. E foi lá que decidiu, desta vez, deixar o lenço de lado e subir a parede de escalada de bandeira do Irão ao peito e cabelo à mostra, apenas com uma fita a segurá-lo.
In a historic move, Iranian athlete Elnaz Rekabi who represented Iran at the Asian Climbing Competitions finals in Seoul, competed without hijab, disobeying the Islamic Republic's restrictions for female athletes. pic.twitter.com/KvxE5NoQLi
— Iran International English (@IranIntl_En) October 16, 2022
É uma imagem rara, uma vez que Rekabi estava a representar o Irão e as mulheres iranianas são obrigadas por lei a usar o hijab quando estão a participar em competições, mesmo quando decorrem fora do país. Daí que o vídeo tenha começado a circular em força nas redes sociais — e os elogios à atleta são cada vez mais.
What’s ordinary for almost all countries-a female athlete in the outfit of the sport- is an incredible moment for Iranians as women been forced to cover up for 43 yrs even when competing outside of Iran. Hence Elnaz Rekabi bravely taking part w/o Hijab going viral. #MahsaAmini pic.twitter.com/FoXRuzd5Li
— Bahman Kalbasi (@BahmanKalbasi) October 16, 2022
Bahman Kalbasi, correspondente em Nova Iorque da BBC persa, comentou no Twitter que um momento que parece “normal para quase todos os países” é, para as iranianas, “um momento incrível”, já que as mulheres são “forçadas há 43 anos a tapar-se, mesmo quando competem fora do Irão”. Daí que a “coragem” de Rekabi se esteja a tornar “viral”, escreveu.
O uso do hijab tornou-se obrigatório no Irão depois da Revolução Islâmica de 1979. E é, tal como outras regras de vestuário, controlado pela chamada “polícia da moralidade”, que vigiam o cumprimento das regras nas ruas e podem deter quem não as cumprir.
Historic ! Iranian female athlete, Elnaz Rekabi, represented Iran at the Asian Climbing Competitions finals in Seoul without a hijab !
Since 1979, Iranian female athletes are required to wear mandatory hijab …she participated without it !
https://t.co/idPKOz7Kjz— حسن سجواني ???????? Hassan Sajwani (@HSajwanization) October 16, 2022
Foi uma dessas detenções, que levou à morte da jovem Masha Amini, a 13 de setembro — três dias depois de ser detida pela polícia com o argumento de que não estaria a usar “corretamente” o lenço — que funcionou como o gatilho para os protestos que encheram as ruas do Irão nas últimas semanas.
Segundo a Iran Human Rights, a repressão policial dos protestos já terá levado à morte de pelo menos 108 manifestantes.
Pelo menos 108 mortos na repressão de protestos no Irão, diz ONG
A onda de solidariedade internacional tem, de resto, passado muito por gestos simbólicos relacionados com o cabelo — muitas mulheres têm cortado madeixas de cabelo para protestar contra o uso obrigatório do hijab. Rekabi junta-se assim a este movimento, mesmo podendo ser punida por isso quando voltar ao seu país.