Pelo menos quatro membros do partido da oposição Cidadãos pela Inovação (CI) da Guiné Equatorial relataram esta terça-feira ter sido espancados e torturados quando estiveram detidos juntamente com o líder do partido, Gabriel Nsé Obiang.

“Fomos raptados, espancados. Eles maltrataram-nos de uma forma que não consigo descrever”, disse um dos ativistas detidos no final de setembro, quando a polícia invadiu a sede da IC na capital, Malabo, após cinco dias de cerco.

Pelo menos quatro opositores do governo de Malabo, que entretanto foram libertados e com os quais a agência de notícias Efe conseguiu falar, ainda que sob anonimato, descreveram como os polícias os espancaram repetidamente com bastões por todo o corpo, pontapeando-os e pisando-os com botas militares.

“Desde a sede até à esquadra (central de Malabo), torturaram-nos e bateram-nos dentro do carro. Bateram-nos na cabeça com os bastões”, disse outra vítima.

Todos os militantes entrevistados permanecem escondidos nas suas casas e, na sua maioria, não procuraram cuidados médicos nos hospitais por medo de serem novamente presos.

“Quando urino, sai com dificuldade e com sangue”, disse um militante, explicando que a sua companheira padece dos mesmos sintomas, depois de ter sido repetidamente espancada na “parte inferior do abdómen”.

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“Não respiro bem porque inalámos muito gás”, acrescentou, referindo-se ao gás lacrimogéneo utilizado durante a invasão da sede do CI, no dia 29 de setembro.

De acordo com a Efe, que cita uma fonte da oposição que visitou os detidos já em casa, as vítimas estão “cheias de contusões e feridas” e a irmã do líder da oposição, Constancia Oyan Obiang, tem “três costelas partidas”.

Segundo a mesma fonte, entre os quatro mortos oficialmente registados, e cujos corpos não foram ainda devolvidos às famílias, uma terá morrido devido aos golpes recebidos no trajeto entre a sede da CI e a esquadra da polícia.

De acordo com este partido, ilegalizado em 2018, os cerca de 275 militantes e simpatizantes detidos junto à sede foram novamente espancados na esquadra, que não tinha condições para receber tantos detidos.

“Não havia espaço, não havia colchões, não havia lençóis durante os quatro dias que lá estivemos”, disse um dos detidos, que confirmou outros relatos que afirmam não ter recebido comida ou água até serem libertados num grupo de 135 pessoas na noite de 03 de outubro, enquanto os três ativistas mais torturados foram libertados no dia 10.

Entre os detidos, disse, havia pessoas idosas com mais de 80 anos e duas crianças com entre 1 e 2 anos de idade que, embora tivessem recebido pão e água durante esses dias, “testemunharam os espancamentos das suas mães”.

Contactada pela Efe, a vice-ministra da Informação, Imprensa e Rádio equato-guineense, Atalia Modesta Baha, assegurou que “o Governo não tem informações” sobre os alegados maus tratos, embora também tenha salientado que “estas pessoas estão bem e estão a ser tratadas”.

As forças de segurança da Guiné Equatorial, que integra a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), invadiram as instalações da IC após um cerco de cinco dias e prenderam Nsé Obiang, juntamente com cerca de 275 apoiantes, incluindo menores, segundo confirmou a liderança do partido.

Na operação, a polícia utilizou gás lacrimogéneo e pelo menos um agente foi morto “por tiros de um seguidor de (Nsé) Obiang”, enquanto 16 foram feridos, segundo a estação estatal de televisão TVGE.

Os apoiantes reunidos na sede antes da rusga deviam decidir se Nsé Obiang seria o seu candidato presidencial nas eleições de 20 de novembro contra o chefe de Estado, que anunciou a sua candidatura em 23 de setembro e procurará o seu sexto mandato no cargo.

A CI foi ilegalizada por uma decisão judicial em 2018, mas o seu líder afirma que foi “legalizada” nesse ano através de uma amnistia geral decretada pelo Governo para prisioneiros políticos, algo que as autoridades equato-guineenses negam.

Nas anteriores eleições presidenciais, realizadas em 2016, o Presidente foi reeleito com pouco mais de 95% dos votos, um resultado prejudicado por alegações de fraude por parte da oposição e da comunidade internacional.

Obiang, 80 anos, governa o país com punho de ferro desde 1979, quando derrubou o seu tio Francisco Macias num golpe de Estado, e é o Presidente há mais tempo em funções no mundo.