O Presidente da República alertou esta sexta-feira que a sociedade portuguesa andará “para trás” se não conseguir ultrapassar o problema da pobreza e disse esperar que os fundos europeus sirvam para “enfrentar as causas” que provocam carências.
“Uma sociedade que não consegue, como um todo, poderes públicos e todos os cidadãos, não consegue ultrapassar o problema da pobreza, é uma sociedade que, ainda por cima envelhecida, anda para trás, não anda para a frente”, afirmou ao inicio da tarde Marcelo Rebelo de Susa, em Vila Nova de Gaia.
No distrito do Porto para participar no encerramento do XVI encontro anual do Conselho Superior da Magistratura, o chefe de Estado considerou ser uma “meta fundamental” cumprir o desígnio de até 2030 retirar 765 mil pessoas do risco de pobreza.
“Dos fundos europeus, espero que uma parte venha, ao tratar da Educação, da Habitação, de questões sociais e de Saúde, que venha enfrentar as causas da pobreza em Portugal”, disse.
Marcelo Rebelo de Sousa, questionado sobre notícias que apontam a existência de alarmes em latas de atum por estas serem roubadas por pessoas com fome, o que apontará o aumento dos níveis de pobreza no país, lembrou que a pobreza “é um problema de fundo” da sociedade portuguesa.
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“A generalidade dos portugueses apesar da situação económica e social e das medias que vai ser necessário tomar, e há medida do tempo vai ser necessário tomar mais medidas, se a guerra se prolongar, a generalidade dos portugueses tem um comportamento cívico, apesar daquilo que sofre, irrepreensível”, considerou.
O chefe de Estado salientou que a estratégia de combate à pobreza “já era uma necessidade antes da guerra”, referindo que a pobreza em Portugal “subiu” com a guerra, e antes com a pandemia.
“É preciso fazer aquilo que a estratégia contra a pobreza se propunha a fazer, até 2030 reduzir de forma apreciável aquilo que é um patamar de pobreza brutal”, finalizou.
Para além dos alertas ao risco da pobreza em Portugal, o Presidente da República disse, esta sexta-feira, considerar incompreensível o atraso na criação da Entidade para a Transparência, alertando que pode “gerar a sensação” de que a “não é uma prioridade”.
O chefe de Estado deixou um aviso: “Eu entendo que foi considerado num determinado momento que era fundamental aquela entidade, com meios para poder intervir e se passaram alguns anos sem a entidade ser criada, a sensação que pode haver em alguns portugueses, espero que não venha a existir, é de que, afinal, a transparência não é uma prioridade na sociedade portuguesa”, alertou.
Confrontado com a recusa de alguns partidos políticos em reverem no imediato a lei das incompatibilidades, aprovada em 2019, o Presidente da República disse apenas que o parlamento sabe qual é a sua posição e que não lhe cabe comentar decisões daquele órgão.
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“Eu não vou comentar o que o parlamento decide. Sabem qual é a minha posição. A minha posição é de que a lei, não sou eu que o digo, é a Procuradoria-Geral da República que, em parecer, disse que tal como está a lei levanta dúvidas e deixa margens de sombra”, salientou.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, “se há partidos que entendem que isso não é razão para neste momento estar a legislar, preferem uma ponderação mais longa, isso é uma escolha desses partidos, e as pessoas ficam a saber as várias posições na Assembleia da República”.
O Presidente da República lembrou novamente que quando a lei foi aprovada “não mereceu nenhuma proposta de alteração de nenhum partido, foi votada praticamente por unanimidade, só não foi votada pelo CDS”, mas que ele teve dúvidas já nessa altura.
“Eu considerava que devia ir mais longe, mas sabia que havia uma maioria esmagadora a favor da lei e que em qualquer prazo a aprovaria assim”, explicou.