Portugal surge em sete casos de fake news sobre a Ucrânia ou Estados-membros da União Europeia (UE), detetados entre 2019 e 2022 pelo grupo de trabalho do Serviço Europeu de Ação Externa sobre a desinformação.
A UE lançou esta segunda-feira uma nova ferramenta no site da EUvsDisinfo — uma nova secção, disponível em euvsdisinfo.eu/learn/ — que “explica os mecanismos, táticas, narrativas comuns e atores por detrás da desinformação e manipulação de informação”.
O EUvsDisinfo é o principal projeto do grupo de trabalho East StratCom, tendo sido criado em 2015 no seio do Serviço Europeu de Ação Externa para melhor responder às campanhas de desinformação em curso por parte da Rússia que afetam a UE e os seus parceiros.
Numa pesquisa na base de dados da EUvsDisinfo realizada esta terça-feira pela agência Lusa, Portugal surge em sete casos de desinformação, com o primeiro a ter sido detetado em 9 de setembro de 2019, envolvendo ainda a Itália, Reino Unido, Espanha e França.
A notícia, em russo, do Sonar2050, referia que estes países estavam perto de sair da União Europeia, no seguimento do Brexit por parte do Reino Unido, abordando a desintegração do projeto europeu, por domínio de alguns países em relação a outros, questões económicas ou até a situação dos migrantes.
O EUvsDisinfo, que desmonta cada caso de fake news, refere que aquele artigo “é uma conspiração que é consistente com uma narrativa comum pró-Kremlin sobre o colapso iminente da UE”.
Também detetada em 2019, em 17 de novembro, o site russo Vesti7 refere que o Presidente francês, Emmanuel Macron, pensa que a NATO foi concebida como resposta ao inimigo [URSS], defendendo que foi o oposto e que a Aliança Atlântica foi pensada como “ameaça a um amigo contra quem lutaram contra o fascismo”. A peça conclui que a criação da NATO não se justificava.
Portugal surge citado como membro fundador da Aliança Atlântica e o EUvsDisinfo aponta, na refutação ao artigo, que o revisionismo histórico é uma narrativa recorrente pró-Kremlin e que, após a II Guerra Mundial, as tropas soviéticas ocuparam vários países da Europa Central e que o Tratado do Atlântico Norte foi assinado, servindo a três propósitos: dissuadir o expansionismo soviético, proibir o renascimento do militarismo nacionalista na Europa e encorajar a integração política europeia.
Já um artigo da News-front, um site sedeado na Crimeia, ocupada pela Rússia desde 2014, referia em 20 de abril de 2020 que a cooperação entre os países mediterrâneos, Portugal, Espanha e Grécia, colocavam em causa a hegemonia da Alemanha no continente europeu.
Segundo a peça, os países mediterrânicos sofreram muito com o regime fiscal imposto pela Alemanha e durante a pandemia de Covid-19 Berlim demonstrou que não pretendia ajudar os parceiros da UE.
Para o EUvsDisinfo, a pandemia foi utilizada para impulsionar a narrativa de desinformação pró-Kremlin sobre a “hegemonia alemã na Europa” e “o suposto colapso iminente da UE”, além de pretender colocar diversos Estados-membros uns contra os outros.
Três sites diferentes, em alemão (Snanews), em húngaro (Oroszhirek) e russo (Armeniasputnik) referem em 24 de maio de 2021 um episódio ocorrido em 2013, em que acusam países como Portugal, França, Espanha ou Itália de encerrarem o seu espaço aéreo ao avião que transportava o Presidente boliviano, Evo Morales, a caminho de Moscovo e que teve de aterrar em Viena, acrescentando que a razão consistiu na suspeita de que o ex-agente de inteligência norte-americano Edward Snowden estivesse a bordo do avião presidencial, cuja extradição foi exigida pelas autoridades norte-americanas.
Esta narrativa, explica-se, surge como resposta ao episódio de 23 de maio de 2021, quando o voo FR4978 da Ryanair sofreu um desvio forçado para Minsk, para a detenção de um jornalista da oposição bielorrusso, Roman Pratasevich. A UE condenou a ação da Bielorrússia contra o avião civil e a detenção de Pratasevich.
O mecanismo de combate à desinformação refere ainda que os dois casos não podem ser comparados, realçando que o voo da Ryanair foi intercetado por caças militares, armados com mísseis ar-ar e que o voo boliviano aterrou devido a burocracia, com as nações europeias a recusarem a entrada no seu espaço aéreo a aeronave pousou na Áustria porque precisava de reabastecer.
A mais recente peça a abordar Portugal é de 22 de agosto, divulgada pela versão em espanhol da rede de televisão internacional fundada na Rússia, a RT, e que acusa a Alemanha de não ser solidária para com Portugal ou Espanha, e de exigir vassalagem ao pensar em construir um gasoduto para estes países.
Segundo o EUvsDisinfo, esta narrativa de desinformação “visa despertar o descontentamento e a animosidade contra a Alemanha entre os cidadãos espanhóis” e “corroer a confiança mútua europeia e impedir a adoção de medidas de solidariedade europeias que possam atenuar o impacto da chantagem energética da Rússia contra a UE”.
Em termos de energia, tanto Espanha como Portugal têm oferta mais do que suficiente para cobrir as suas necessidades devido ao seu investimento a longo prazo em energias renováveis e centrais de GNL e são capazes de fornecer até 30% da procura de gás natural na Europa. Algumas das medidas energéticas adotadas pela Comissão Europeia são efetivamente o resultado de uma proposta conjunta apresentada por Portugal e Espanha, e não exigências do interesse próprio da Alemanha, como implica esta mensagem de desinformação”, refere ainda.
O grupo de trabalho do Serviço Europeu de Ação Externa sobre a desinformação detetou 1.200 casos de desinformação na União Europeia (UE) num ano relativamente à Ucrânia e aos Estados-membros.