Diego Simeone não é propriamente um expert em bluff ou mind games mas também prefere sempre que possível evitar qualquer tipo de confronto direto contra adversários ou jogadores. Ainda assim, também pela sua própria maneira de ser, tudo se percebe nas entrelinhas. E, na sequência de mais uns episódios da novela com João Félix, era fácil perceber a diferença entre não “castigar” o avançado português e manter a mesma posição do número 7 em relação à equipa: suplente e apenas quinta opção ofensiva.

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“Não tenho de opinar sobre a sua vida privada, se tiver de lhe dizer algo digo pessoalmente, só a ele. Não falo de nada, são coisas internas. Tem de continuar a trabalhar. Contamos com um grupo de cinco jogadores ofensivos que são muito bons e os cinco têm possibilidades de jogar”, salientou o técnico que leva mais de uma década no comando dos colchoneros, comentando as imagens que se tornaram públicas do jogador na festa da namorada até às 4h da manhã após o jogo na Champions com o Bayer Leverkusen. “Ter pedido para marcar o penálti mostra a sua atitude, perante uma situação que podia definir o jogo, mas ter atitude é maior do que uma situação”, referiu ainda sobre o momento chave frente aos germânicos.

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A dramática eliminação da Liga dos Campeões acabou por ser um rombo nas ambições da equipa, havendo mesmo alguma contestação ao técnico por mais um objetivo falhado numa fase em que o Atl. Madrid vai na terceira posição do Campeonato mas a criar alguma (por ora pequena) diferença em relação a Real Madrid e Barcelona. A par disso, e com o acumular de encontros entre algumas lesões, esta era uma fase para ganhar opções novas que pudessem ajudar no regresso aos triunfos, neste caso com o Cádiz. E era aqui neste contexto que surgia também o nome de Félix, com 54 minutos nos últimos oito jogos até aqui.

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Que o português iria ser suplente, ninguém tinha dúvidas. Os minutos que poderia ou não ter diante do Cádiz, aí era diferente. E logo num dia em que a Marca veio dar conta de uma proposta do Bayern no verão, entregue pelo agente Jorge Mendes no Wanda Metropolitano, de 100 milhões de euros, rejeitada pelo Atl. Madrid por considerar que esta seria a época de total afirmação do jogador em Espanha, sendo que já antes se tinha falado de uma abordagem de Inglaterra por valores superiores (135 milhões). Até agora, a temporada foi tudo menos isso. Mas potencial não falta, como se viu na meia hora em que entrou e fez “um golo e meio” que só não resgatou uma derrota do Atl. Madrid porque o Cádiz ainda marcou aos 90+8′.

A partida começou praticamente com o golo inaugural do Cádiz, na primeira jogada da partida e com Théo Bongonda a necessitar apenas de 27 segundos para fazer o 1-0. Até ao intervalo, o Atl. Madrid ainda tentou o empate, perdeu Morata por lesão para a entrada de Matheus Cunha (e não Griezmann, que desta vez começou também no banco perante o perdão a Correa do erro que deu o segundo golo ao Bayer mas com o argentino a jogar na frente), teve uma boa oportunidade de Rodrigo de Paul mas ficou longe de convencer em mais 45 minutos “de borla” ao adversário que até podia ter aumentado a vantagem aos 44′.

Algo teria de mudar no Atl. Madrid, até porque Ledesma assumiu o protagonismo no arranque da segunda parte e tirou um golo feito a Correa com uma defesa monstruosa (57′). Foi esse o momento que deu o mote para mais duas alterações, com as saídas do argentino e de Yannick Carrasco para as entradas de Antoine Griezmann e também João Félix com mais de meia por jogar (59′). No entanto, o Cádiz já tinha encontrado o seu momento, defendendo bem e explorando as transições. E foi assim que, a nove minutos do final, Álex Fernández aumentou a vantagem após nova assistência de Espino.

Fim de jogo? Não. E não porque havia ainda João Félix, que num pontapé acrobático levou Luis Hernández a fazer autogolo que viria depois ser atribuído pela própria Liga como golo do avançado (85′), fez o empate com um grande remate de fora da área (89′) e atirou de cabeça a rasar o poste aos 90+6′. O português receberia ainda o prémio de MVP da partida mas o Cádiz tinha ainda uma palavra a dizer por Rubén Sobrino, conseguindo chegar ao 3-2 final numa transição feita na última jogada (90+9′).

“O campo fala a verdade. Entrou para fazer o que sabe e fez muito bem. Teve iniciativa de criar perigo. Foi o mais perigoso dos nossos avançados e marcou um golaço. Espero que possa manter-se, porque é um jogador que todos queremos”, comentou no final da partida o técnico Diego Simeone.