Centenas de estudantes cruzaram esta segunda-feira de manhã os portões das suas escolas, de onde só tencionam sair na sexta-feira, quando termina a ocupação de seis secundárias e faculdades em Lisboa pelo fim dos combustíveis fósseis.

Pelas 9h00, entraram na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade NOVA de Lisboa cerca de uma dezena de estudantes que, às costas, carregavam mochilas, sacos-cama, colchões e, claro, cartazes reivindicativos com uma mensagem comum: o fim dos combustíveis fósseis.

Durante uma semana, vão trocar o conforto das suas casas pela faculdade, um espaço que dizem também ser seu, e onde vão dormir, reivindicar e sensibilizar.

A nossa ocupação não é só um espaço de ativismo, disrupção e luta. É também um espaço educativo e de apoio às artes, e vamos ter uma série de palestras, aulas com o apoio de alguns professores e “workshops””, explicou uma das porta-vozes, Carolina Loureiro.

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Ao início da manhã, o protesto contava com pouco mais de 10 ativistas, mas Carolina Loureiro acredita que ao longo da semana se vão juntar mais. A direção da faculdade também se mostrou solidária com os estudantes e ao início da tarde o diretor, Luís Baptista, vai receber um grupo de ocupantes para perceber o que os move.

“Queremos mobilizar o máximo de apoio possível, porque esta é uma luta de todos”, sublinhou a porta-voz.

A FCSH foi uma das primeiras a ser ocupadas por estudantes ativistas, mas não a única. Colegas de outras três faculdades e duas escolas secundárias fizeram  o mesmo e o objetivo é igual, numa iniciativa organizada pela Greve Climática Estudantil e integrada no movimento internacional “End Fossil Occupy!”.

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“Estes espaços deviam estar a projetar-nos para um futuro, mas esse futuro não vai existir se não cortarmos imediatamente as emissões de gases com efeito de estufa e a única forma de fazer isso é deixar os combustíveis fósseis”, afirmou uma das porta-vozes do movimento, Alice Gato.

Numa dessas escolas, o Liceu Camões, o pátio encheu-se com cerca de meia centena de alunos logo pela manhã, relatou Alice Gato. Noutra, a escola artística António Arroio, a ocupação começou mais tarde, pouco depois das 11h e juntou mais de uma centena de estudantes.

Percorreram os corredores da escola e concentraram-se junto aos portões para se fazerem ouvir, entoando em uníssono cânticos reivindicativos, e mostrarem como as preocupações climáticas os unem. Dizem que só saem se os tirarem de lá e, se puderem, ficam a dormir na escola até ao final da semana.

“Queremos ficar até ao último segundo. Se isso implicar retirarem-nos à força, retirem-nos à força. Se implicar dormir, dormimos e se implicar ficar uma semana inteira, ficamos, até as nossas vozes serem ouvidas”, disse à Lusa William Hawkey, porta-voz dos estudantes da António Arroio, admitindo que a adesão dos colegas superou as expectativas.

“A nossa casa está a arder”, afirmou, referindo-se ao planeta, para justificar a urgência das reivindicações. Por isso, o objetivo é manter a mobilização do maior número possível de alunos: “É óbvio que há alunos que não podem estar, mas estou tão contente de ver tanta gente aqui e acho que vamos manter uma unidade forte”.

A principal reivindicação dos estudantes é o fim dos combustíveis fósseis até 2030, mas os estudantes manifestam-se também contra o ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, que em maio afirmou “não ter “parti pris” (preconceitos) com projetos de exploração de gás.

Não é aceitável nem legítimo. Não faz sentido que o nosso ministro da Economia e do Mar faça esse tipo de declarações publicamente”, afirmou Carolina Loureiro, considerando que se trata igualmente de um conflito de interesses, uma vez que, até 2021, António Costa Silva era presidente do Conselho de Administração da petrolífera Partex.

As ocupações coincidem, por outro lado, com a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27), que decorre desde domingo em Sharm el-Sheikh, no Egito, até ao próximo dia 18.

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“O facto de estarmos na 27.ª COP significa que está tudo errado. Significa que sabemos das alterações climáticas há mais de 27 anos e que as emissões (de gases com efeitos de estufa) continuam a aumentar”, avaliou Alice Gato.

Além da FCSH e das duas escolas secundárias, os estudantes também se manifestaram pelo fim dos combustíveis fósseis nas faculdades de Ciências e Letras da Universidade de Lisboa, e no Instituto Superior Técnico. No sábado, os estudantes vão também participar na marcha pelo clima, organizada pela coligação “Unir Contra o Fracasso Climático”.