Os bispos portugueses alertaram esta quinta-feira para o perigo das “generalizações injustas e não verdadeiras” que pesam sobre os sacerdotes católicos devido à crise dos abusos sexuais de menores, considerando que estas generalizações “colocam na sombra vidas inteiras dedicadas ao serviço das comunidades cristãs e da sociedade, particularmente das pessoas mais fragilizadas”.

“Os casos de abusos detetados são claramente lamentáveis e objeto de grande preocupação, justificando os esforços em curso para erradicá-los da vida da Igreja, mas tal não invalida o precioso serviço que os sacerdotes, consagrados e leigos prestam à vida da Igreja e da sociedade, em Portugal e em todo o mundo, que merecem toda a nossa gratidão e apoio“, disse o padre Manuel Barbosa, secretário e porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, numa conferência de imprensa em Fátima ao início da tarde desta quinta-feira.

Os mais de 40 bispos portugueses, entre bispos titulares, auxiliares e eméritos, estiveram reunidos desde segunda-feira em Fátima para a habitual assembleia plenária da CEP, que decorre a cada seis meses. No comunicado final, lido pelo porta-voz dos bispos, há poucas novidades relativamente ao discurso de abertura do presidente da CEP, D. José Ornelas, na segunda-feira.

Nesse discurso, Ornelas já tinha assumido que os últimos tempos têm sido “penoso para todos os fiéis — leigos e particularmente sacerdotes” e já tinha alertado para os perigos das “generalizações indevidas” e das “acusações indiscriminadas”.

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Abusos na Igreja. Bispo José Ornelas fala num “tempo penoso” para fiéis devido a “duro embate com realidade”

Os elementos da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica em Portugal, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, participaram na reunião dos bispos portugueses e fizeram um “ponto de situação do processo de estudo, cujo relatório será divulgado no próximo dia 31 de janeiro”.

“Ao mesmo tempo que agradece o dedicado e competente trabalho da CI, a Assembleia reafirma a profunda gratidão e o pedido de perdão às vítimas que, na dureza da sua dor, têm dado o seu testemunho ou depoimento, e manifesta o propósito de garantir a tolerância zero quanto aos abusos sexuais de menores e pessoas vulneráveis na Igreja, grave realidade que contradiz a sua identidade a missão”, disse o padre Manuel Barbosa.

“Os Bispos reconhecem que tem sido um tempo penoso para todos, mas acreditam também que tem sido um tempo de purificação, na busca da justiça e da verdade, identificando situações dolorosas sem generalizar indevidamente nem acusar indiscriminadamente”, disse ainda o sacerdote. “No caminhar juntos na busca da verdade e da justiça, os Bispos manifestam a sua proximidade e presença fraterna junto de todos os fiéis e particularmente dos sacerdotes.”

Igreja pede “políticas estruturais” para responder à crise e à guerra

No comunicado final, a Conferência Episcopal expressa também uma “forte preocupação pelas grandes dificuldades por que passam as pessoas e famílias, instituições civis e eclesiais, provocadas pela crise atual“.

“A guerra na Ucrânia continua a matar milhares de pessoas e a destroçar famílias e populações, provocando milhões de refugiados. As políticas definidas na Europa e em Portugal são medidas paliativas importantes para responder ao apoio de emergência, mas torna-se imprescindível realizar convergências para concretizar políticas estruturais que permitam mitigar os efeitos da inflação e incentivar o crescimento, tendo como preocupação o combate à pobreza, a diminuição das desigualdades sociais e o bem-estar dos cidadãos, com uma mais justa repartição da riqueza”, afirmou o porta-voz dos bispos.