A crise é “transversal” mas só em janeiro e fevereiro se vão tornar mais notórios alguns dos seus piores impactos. O vaticínio é de Rita Valadas, presidente da Cáritas Portugal, associação de solidariedade que diz sentir “o pavor das pessoas” no terreno, em particular relativamente ao aumento das rendas. Com notícias de que os senhorios estão a evitar renovar contratos, para fintar o limite ao aumento das rendas celebrando novos contratos, Rita Valadas diz que “todas [as pessoas] falam do medo que têm de que isso lhes aconteça, porque não vão conseguir pagar a renda“.

Em entrevista ao Jornal de Notícias e TSF, Rita Valadas diz que “hoje temos [em Portugal] uma pobreza diferente”. “Temos mais escolaridade, menos abandono escolar, melhores resultados. Mas é verdade que não conseguimos ainda encontrar o caminho certo e que, nestes últimos anos, vivemos de crise em crise. E esta é transversal, porque uns são afetados pelo desemprego, outros pelo aumento do custo de vida, outros pelo aumento das taxas de juro”. E o “risco na habitação também é transversal, porque uns não conseguem pagar a renda, outros não conseguem pagar o empréstimo”.

A responsável comenta, também, as medidas do pacote de mitigação do impacto da inflação, cuja medida mais mediática foi a distribuição de 125 euros, em outubro, a todos os cidadãos em idade ativa. São medidas que “claro que fazem diferença”. “Não há ninguém, a não ser pessoas ricas, que não goste de receber em outubro. Sobretudo quando se tem filhos e começa o ano escolar”, diz Rita Valadas.

Pagamentos como esse também são “uma alegria para as [pessoas] que não precisam tanto, mas que têm a oportunidade de poder resolver algum problema, por exemplo pagar alguma dívida”. “Que ninguém diga que receber 125 euros não é bom. Mas não é solução“, diz Rita Valadas, acrescentando que o pior virá no início de 2023: “Eu temo o que vai acontecer nos meses de janeiro e fevereiro”.

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A presidente da Cáritas Portugal diz que “ainda não temos fome em Portugal“. Porém, “poderemos ter desequilíbrios alimentares, poderemos não estar a dar os géneros alimentares necessários. Podem matar a fome, mas não serem adequados à alimentação. Não temos um fenómeno de fome, mas temos situações de fome”, remata.

Já em entrevista ao Observador, em finais de outubro, Rita Valadas tinha defendido que as famílias não podem deixar de ser ajudadas. A responsável indicou que o número de estrangeiros a pedir apoio também tem aumentado e os stocks em vários distritos têm falhado.

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